Lomboque

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Lomboque
Lombok
Lomboque
Vista do monte Rinjani desde a ilha de Gili Air

Localização de Lomboque na Indonésia
Coordenadas: 8° 34' S 116° 20' E
Geografia física
País Indonésia
Província Sonda Ocidental
Arquipélago Pequenas Ilhas da Sonda
Ponto culminante 3 726 m (Rinjani)
Fuso horário UTC+8
Área 4 725  km²
Geografia humana
População 3 963 842 (2023)[1]
Densidade 838,9  hab./km²
Capital Matarão

Lomboque[2][3][4] (em indonésio: Lombok) é uma ilha da Indonésia, situada a leste de Bali. Faz parte do arquipélago das Pequenas Ilhas da Sonda e pertence à província de Sonda Ocidental (Nusa Tenggara Barat). A sua capital e maior cidade é Matarão, que também é a capital da província. Tem 4 725 km² de área (incluindo algumas ilhas costeiras menores) e, segundo a estimativa oficial, em 2023 tinha 3 963 842 habitantes (densidade: 838,9 hab./km²),[1] mais 25% do que em 2010.[5]

Lomboque está separada de Bali pelo estreito de Lomboque, que na sua parte mais estreita tem cerca de 18 km, que banha a sua costa ocidental e onde passa a Linha de Wallace, que separa as regiões biogeográficas da Ásia e da Australásia. Na costa leste encontra-se o estreito de Alas, que separa Lomboque da ilha de Sumbava. A ilha é aproximadamente circular, com uma "cauda" na parte sudoeste — a península de Sekotong. Tem aproximadamente 70 km de diâmetro. Em volta dela há várias pequenas ilhas, localmente chamadas conjuntamente ilhas Gili. O tamanho e densidade populacional de Lomboque são semelhantes aos de Bali. Já Sumbava é maior e tem menor densidade.

História[editar | editar código-fonte]

Época pré-colonial[editar | editar código-fonte]

À exceção do manuscrito lontar Babad Lombok ("Crónica de Lomboque"), no qual é relatada a ocorrida em 1257,[6] e de uma curtíssima menção no Nagarakertagama, sabe-se muito pouco da história de Lomboque antes do século XVII.

A erupção vulcânica do século XII relatada no Babad Lombok, foi identificada em 2013 como tendo sido uma das maiores explosões vulcânicas dos últimos 7 000 anos. Ocorreu no cume Samalas, que era parte do monte Rinjani, a montanha mais alta de Lomboque. Estima-se que o Samala se elevava a 4 200 m e que desapareceu com a explosão, dando origem ao que é hoje o lago Segara Anak.[6][7][8]

O Nagarakertagama é um manuscrito e uma eulogia a Hayam Wuruk, monarca do Império de Majapait, em forma de poema épico, escrito em 1365 pelo monge budista Mpu Prapanca. No seu canto 14 é mencionada "Lombok Sasak Mirah Adhi" como uma das ilhas sob suserania do reino. De acordo com as lendas locais, duas das aldeias mais antigas de Lomboque, Bayan e Sembalun, foram fundadas por um príncipe de Majapait. Referências a uma origem majapait são comuns em Lomboque e na ilha vizinha de Bali. A sassaque, idioma da etnia maioritária e autóctone de Lomboque, tem elementos javaneses.

No século XVI[9][10] (ou no século seguinte, segundo outros autores)[11][12] os sassaqueses (a etnia maioritária de Lomboque) converteram-se ao islamismo.[9][10] A tradição diz que um certo Pangeran Prapen (também conhecido como Sunan Prapen), o filho de Sunan Giri (1442–1506), um destacado líder muçulmano javanês,[11][12] foi o primeiro a espalhar a nova fé. O Babad Lombok relata que Sunan Prapen foi enviado pelo seu pai para uma expedição militar a Lomboque e Sumbava para converter a população. Outro lontar, o Petung Bayan,[carece de fontes?] diz que o primeiro rei a converter-se foi rei de Bayan.[13] No entanto, estes dois manuscritos não podem ser considerados fontes históricas fiáveis.[carece de fontes?] Para a difusão do islão devem também ter contribuído os macáçares muçulmanos.[11][12] Em todo o caso, parece que desde o início, a nova religião adquiriu um carácter sincrético, misturando os elementos animistas, hindu-budistas e islâmicos,[13][14] o que levou à criação da seita ou religião Wetu Telu,[15][16] que foi fortemente influenciada pelos balineses.[14]

Até ao início do século XVII, a ilha esteve dividida numa série de pequenos estados constantemente em conflito uns com os outros, cada um deles governado por um príncipe sassaque. Durante a primeira metade do século XVII, aproveitando a desunião política em Lomboque, a parte ocidental da ilha passou a ser controlada por balineses. Aparentemente, na década de 1630, o Dewa Agung (rei) de Gelgel de Bali liderou campanhas de conquista em Lomboque e Sumbava, onde encontrou a expansão do Sultanato de Gowa do sul de Celebes. Na mesma altura, a parte oriental foi invadida por macaçares a partir das suas colónias em Sumbava.

Os holandeses visitaram pela primeira vez Lomboque em 1674 e Companhia Holandesa das Índias Orientais assinou um tratado com uma princesa sassaque da ilha. No final do século XVIII, soldados bugis e macaçares, fugindo do autoritarismo do seu soberano, percorreram os mares do arquipélago e desmantelaram-se em Lomboque. Cerca de 1740–1750, toda a ilha estava firmemente sob o controlo do reino balinês de Karangasem, mas conflitos entre os balineses levaram à criação de quatro reinos balineses em Lomboque, que lutavam uns com os outros.[carece de fontes?] Em 1839, o rei de Matarão logrou tomar o controlo dos restantes reinos rivais da ilha[17] e a partir daí desenvolveu-se em Lomboque um rica cultura balinesa de corte.[10]

As relações entre os sassaques e os balineses em Lomboque ocidental eram em grande medida harmoniosas e os casamentos mistos eram comuns. Porém, o mesmo não acontecia na parte oriental da ilha, onde as relações eram bastante menos cordiais e os balineses mantinham o controlo desde fortes com guarnições militares. Apesar do governo das aldeias sassaques se ter mantido, os líderes de aldeia tornaram-se pouco mais do que cobradores de impostos para os balineses. Os aldeões passaram a ser uma espécie de servos e a aristocracia sassaque perdeu muito poder e terras.

Conflitos internos e ocupação holandesa[editar | editar código-fonte]

Em 1843, o monarca de de Matarão assinou um tratado com os holandeses e em 1849 apoiou a terceira campanha holandesa em Bali, tendo sido recompensado com o domínio do reino de Karangasem. Em 1855 e 1871 houve rebeliões de sassaques que foram esmagadas pelo rei de Matarão.[9] Em 1891 estalou outra revolta mais grave na parte leste da ilha, na sequência do rei balinês de Matarão ter requisitado milhares de soldados para combaterem na sua campanha para conquistar o reino de Klungkung de Bali, para tentar tornar-se o governante supremo de Bali.[18] Em 25 de agosto de 1891, o filho do rei, Anak Agung Ketut Karangasem, foi enviado para combater os rebeldes com 8 000 soldados, que a 8 de setembro foram reforçados com mais 3 000, comandados pelo outro filho, Anak Agung Made Karangasem. Temendo que o seu exército estivesse em apuros, o rei pediu ao seu vassalo Anak Agung Gde Jelantik, que governava Karangasem, que lhe enviasse 1 200 soldados de elite para esmagar a rebelião. Não obstante o exército de Matarão ser mais avançado tecnologicamente e ter dois navios de guerra modernos, os combates prolongaram-se e só em 1984 é que as tropas de Matarão conseguiram ocupar as aldeias rebeldes e cercar s últimos resistentes sassaques.[9]

A 20 de fevereiro de 1894 os sassaques pediram formalmente aos holandeses que interviessem em seu favor.[9] Vendo no pedido e na situação uma oportunidade para ampliar o seu controlo sobre as Índias Orientais, os holandeses aceitaram o pedido e começaram a sabotar a importação pelos governantes balineses de armas e abastecimentos de Singapura.[9][10]

No entanto, o bloqueio não mudou o curso da guerra e a exigência feita pelos holandeses para que Matarão se rendesse foi rejeitada.[9] Em julho de 1894, os holandeses enviaram uma expedição militar para derrubar o monarca de Matarão,[10] dando início ao que por vezes é chamado Guerra de Lomboque. Os balineses resistiram e a 25 de agosto atacaram um campo militar que os holandeses tinham montado em Matarão, causando mais de 500 mortos, um deles o general que comandava a expedição. Os holandeses enviaram reforços e em 8 de novembro bombardearam intensamente as posições balinesas em Matarão, tendo destruído a cidade e o palácio real, que foi saqueado, e causado a morte de cerca 2 000 balineses. No final de novembro todas as posições balinesas tinham sido aniquiladas e as tropas balinesas tinham-se rendido ou cometido puputan (suicídio ritual coletivo). Os holandeses dominaram a totalidade da ilha até 1942.

Época colonial e pós-independência[editar | editar código-fonte]

No período colonial, Lomboque foi, juntamente com Amboíno, Gorontalo e Minahasa, uma das quatro regiões orientais das Índias Orientais Neerlandesas a estar sob administração direta holandesa.[19] Graças ao apoio da aristocracia sassaque, os holandeses tinham apenas 250 soldados para controlar a população de Lomboque, que nessa altura seria cerca de meio milhão de pessoas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as Pequenas Ilhas da Sonda, incluindo Lomboque, foram ocupadas pela Marinha Imperial Japonesa. Partindo de Surabaia, em Java no dia 8 de março de 1942, desembarcaram no porto de Ampenan de Matarão na tarde do dia seguinte, tendo derrotado rapidamente as forças holandesas.[20] Após o fim da guerra, em 1945, os japoneses retiraram e a ilha voltou temporariamente ao controlo dos holandeses. Depois da subsequente independência da Indonésia, a aristocracia balinesa e sassaque continuaram a dominar Lomboque. Em 1958, a ilha foi incorporada na província de Sonda Ocidental e Matarão tornou-se a capital provincial. Na sequência do golpe de estado falhado ocorrido em Jacarta e Java Central em 1 de outubro de 1965, ocorreram massacres de comunistas em Lomboque.

Durante a "Nova Ordem" (o regime do presidente Suharto, entre 1967 e 1998), a ilha passou por um período de estabilidade e desenvolvimento, mas não ao nível do que se passou em Java e Bali. Más colheitas provocaram uma crises alimentares graves em 1966 e 1973, com consequências graves, especialmente a de 1966. O programa transmigrasi do governo central transladou muitas pessoas para fora de Lomboque. Na década de 1980 assistiu-se a investidores e especuladores instigarem um boom turístico emergente, mas apenas uma pequena parte dos lucros ficou na ilha. As crises políticas e económicas indonésias do final da década de 1990 atingiram fortemente Lomboque. Em janeiro de 2000 estalaram motins em Matarão, cujas vítimas foram sobretudo cristãos e chineses étnicos, alegadamente instigados por agentes provocadores de fora da ilha. O turismo caiu acentuadamente, mas nos anos mais recentes assistiu-se a um crescimento renovado.

Sismos de 2018[editar | editar código-fonte]

Em sismo de Lomboque de 29 julho de 2018 provocou 20 mortos, centenas de feridos e danos materiais significativos. Foi o prenúncio de um sismo mais forte que se seguiu oito dias depois.[21][22] O sismo de 5 de agosto teve uma intensidade de 6,9 MW e 7.0  ML. Causou danos catastróficos no norte de Lomboque e, embora em menor escala, também em Bali. No total, morreram mais de 550 pessoas e 7 000 ficaram feridas.[23] Em 19 de agosto ocorreu um terceiro sismo, que matou 13 pessoas e causou estragos em 1 800 edifícios.[24]

Inicialmente, a Agência Nacional de Gestão de Desastres (Badan Nasional Penanggulangan Bencana) recusou ajuda internacional, alegando que os sismos não eram uma emergência nacional e que os locais eram capazes de responder sem ajuda.[25] Todavia, a infraestruturas para gestão de e assistência a catástrofes instaladas localmente não eram adequadas em Lomboque e nos arredores, pelo que os primeiros a responder ao desastre forem organismos governamentais locais, como polícias e militares, voluntários nacionais e estrangeiros e proprietários de empresas nas áreas menos afetadas da ilha, incluindo as ilhas Gili.

Contudo, as infraestruturas para a gestão e assistência a catástrofes não estavam adequadamente instaladas em Lombok e nos seus arredores; portanto, os primeiros a responder ao desastre foram as agências governamentais locais, como a polícia e o pessoal militar, voluntários nacionais e estrangeiros e proprietários de empresas nas partes de Lombok que foram menos afetadas pelos terremotos, incluindo as ilhas Gili. Foram organizadas iniciativas internacionais de pequena escala através de redes socieias e da web, para ajudar a obter recursos básicos, como alimentos, água potável[26] e abrigos temporários.[27] Estas iniciativas foram vitais nas primeiras fases do desastre, que decorreram antes da chegada de assistência governamental em maior escala.

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  • Parte do texto foi inicialmente baseado na tradução do artigo «Lombok» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
  1. a b Badan Pusat Statistik, 2024, Provinsi Nusa Tenggara Barat Dalam Angka 2024 (Katalog-BPS 1102001.52)
  2. Enciclopédia Brasileira Mérito, p. 157
  3. Paixão 2021
  4. Correia 2022
  5. Biro Pusat Statistik, Jakarta, 2011.
  6. a b Bachtiar Lavigne
  7. Lavigne et al. 2013
  8. 2013
  9. a b c d e f g Keurs 2007, p. 190.
  10. a b c d e Ooi 2004 [falta página]
  11. a b c Houtsma 1993 [ref. deficiente]
  12. a b c Harnish & Rasmussen 2011 [falta página]
  13. a b Cederroth 1999, p. 9.
  14. a b Müller 1997 [falta página]
  15. Arhem & Sprenger 2015 [falta página]
  16. Na & Naʻīm 2009, p. 238.
  17. Lansing 2009, p. 20.
  18. Reader & Ridout 2014, p. 494.
  19. Legge 2009, p. 65.
  20. L., Klemen (1999–2000). «The Lesser Sunda Islands 1941-1942». Forgotten Campaign: The Dutch East Indies Campaign 1941-1942 (em inglês) 
  21. «Korban Jiwa Gempa Lombok Bertambah Jadi 20 Orang» [O número de mortos no sismo de Lombok aumenta para 20 pessoas]. Liputan6.com (em indonésio). 5 de agosto de 2018 
  22. «Asia Pacific: Multiple Disasters Affect Millions in the Region». ReliefWeb (em inglês). United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs. 30 de julho de 2018 
  23. Lamb, Kate (6 de agosto de 2018). «Indonesia Earthquake: At Least 91 Dead After Quake Strikes Lombok and Bali». The Guardian (em inglês). London 
  24. «Quake Swarm Jolts Indonesian Islands, Killing at Least 13». Bangkok Post (em inglês). 20 de agosto de 2018 
  25. Bimal, Paul (22 de setembro de 2018). «Lombok Earthquakes Reveal that Indonesia's Disaster Management Is Shaky». East Asia Forum (em inglês) 
  26. «More Lifesaving Aid Needed Urgently as A Third Big Earthquake Hits Lombok» (em inglês). Oxfam International. 9 de agosto de 2018 
  27. «Lombok Earthquake». Gilibookings.com (em inglês). 30 de novembro de 2020 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Enciclopédia Brasileira Mérito (EBM), XI, São Paulo: Mérito S. A., 1967 
  • Arhem, Kaj; Sprenger, Guido (2015), Animism in Southeast Asia, ISBN 978-1-317-33662-4 (em inglês), Routledge 
  • Harnish, Anne; Rasmussen (2011), Divine Inspirations: Music and Islam in Indonesia, ISBN 978-0-19-979309-9 (em inglês), Oxford University Press 
  • Lavigne, Franck; Degeai, Jean-Philippe; Komorowski, Jean-Christophe; et al. (15 de outubro de 2013), «Source of the great A.D. 1257 mystery eruption unveiled, Samalas volcano, Rinjani Volcanic Complex, Indonesia», Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, Proceedings of the National Academy of Sciences, ISSN 1091-6490 (em inglês), 110 (42): 16742–16747 
  • Müller, Kal (1997), Pickell, David, ed., East of Bali: From Lombok to Timor, ISBN 962-593-178-3 (em inglês), Tuttle Publishing 
  • Ooi, Keat (2004), Southeast Asia: A Historical Encyclopedia, From Angkor Wat to East Timor (3 Volume Set), ISBN 978-1576077702 (em inglês), Santa Barbara, Califórnia: ABC-Clio, OCLC 646857823 
  • Reader, Lesley; Ridout, Lucy (2014), The Rough Guide To Bali & Lombok (em inglês) 8.ª ed. , Rough Guides 
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