Patronímico

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O patronímico (do grego πατρωνυμικός, πατήρ "pai" e ὄνομα, "nome") é um nome ou apelido de família (sobrenome) cuja origem encontra-se no nome do pai ou de um ascendente masculino. Em Portugal, a princípio o nome patronímico era utilizado como indicador de filiação e genitivo paterno, sendo alterado de geração em geração. Depois de algumas gerações, esses nomes tornaram-se hereditários e passaram a ser usados ​​de pai para filho e pela família em extensão. Em Portugal, o sistema de nomenclatura foi bem estabelecido por volta dos anos 1100. Os costumes das nomenclaturas do Brasil, país de língua oficial portuguesa, são os mesmos vigentes em Portugal seu antigo colonizador e devem seguir o mesmo padrão graças aos acordos ortográficos da língua portuguesa.

Não é possível determinar o ano exato ou mesmo o século, quando um nome de família em particular foi tomado. Por volta do final do século 13 muitas famílias se determinaram a manter o patronímico sem continuar a alterar de geração em geração. Assim, os sobrenomes hereditários já estavam em uso na época da descoberta do Novo Mundo.[1]

O uso de patronímicos foi um procedimento muito comum em todas as comunidades humanas para distinguir um indivíduo dentro de seu grupo, no qual havia inúmeras pessoas com o mesmo prenome ("nome de batismo" ou "nome próprio"). Assim, "José o filho de João" ou "Antonio o filho de André". Por economia de palavras, passou-se a usar "José de João" e "Antonio de André" e, muitas vezes, suprimiu-se também a preposição "de". Desta forma se explicam os inúmeros sobrenomes cuja origem imediata e evidente é um prenome, como "Anes" ou "Eanes" (filho de João), "Fernandes" (filho de Fernão/Fernando), "Dias" (filho de Diego/Diogo), "Rodrigues" (filho de Rui/Rodrigo), "Gonçalves" (filho de Gonçalo), etc.

De facto, o patronímico, ou seja, o apelido de família cuja origem onomástica é o prenome do pai ou de um ancestral masculino configura o caso mais frequente na formação dos sobrenomes (ou 'apelidos familares').

Patronímicos ibéricos[editar | editar código-fonte]

Na Idade Média, existia em Castela, Leão, Navarra, Aragão e Portugal a prática de adicionar a desinência -ez, (por vezes -z ou -iz, e em Portugal também "-es") para formar o segundo nome do filho. Dessa forma, se um indivíduo de nome Martín tinha um filho chamado Sancho, este teria o nome completo de Sancho Martínez, ou seja, "Sancho, filho de Martín".

Este sufixo -ez, portanto, significava "filho de" e a maioria dos apelidos com essa característica são denominados "patronímicos ibéricos".

A origem desse sufixo é incerta. Alguns pesquisadores atribuem-na à permanência do genitivo latino -is, com valor de possessão ou pertença, como – por exemplo – em "filius Cæsaris", ou seja, "o filho de César". Outra teoria é que teria origem no genitivo gótico latinizado -rici. Outros estudiosos, porém, sustentam que a terminação -ez tem origens pré-romanas – celtíbero "kentis", que se supõe significar "filho", ou na partícula "ez", que significaria "de". De facto, nenhuma outra língua latina possui tal desinência patronímica. Ademais, o genitivo latino -is não explica os sufixos patronímicos mais raros encontrados em Ferraz ou Muñoz e também a relevante frequência de topônimos como Badajoz ou Jerez.

Uma outra explicação plausível seria a existência ainda hoje na língua basca do sufixo -(e)z com valor possessivo ou modal. O filólogo Ramón Menéndez Pidal oferece o exemplo das palavra bascas laar ("amoreira") e laarez ("que tem amoreiras"). Portanto, é muito provável que o patronímico ibérico -ez seja um fóssil lingüístico.

O uso deste patronímico já se registra em Navarra desde o século VIII; exemplo é o nome do rei de Navarra, García Íñiguez, que foi sucessor de seu pai, Íñigo.

O sufixo patronímico -ez estendeu-se pela Península Ibérica, adotando a forma -es em galego-português (como em Peres, Lopes ou Gomes) e -is em catalão (como em Peris, Llopis ou Gomis).

Por outro lado, também temos o mesmo sufixo es nas línguas ibéricas com o significado de origem, como em francês.

Ressalta-se, todavia, que nem todo sobrenome português terminado em es se deve pela adição desse sufixo, como é o caso de alguns toponímicos: Arantes, Bulhões, Fiães, Linhares, Meireles etc.

Lista de alguns patronímicos ibéricos[editar | editar código-fonte]

prenome original patronímico castelhano patronímico galaico-português
Afonso4 Afonso Afonso
Álvaro Álvarez Álvares/Alves
Antón/Antom/Antão/António Antúnez Antunes
Benito/Beneito/Bento/Bieito Benítez/Benéitez Bentes/Bieites/Biéitez
Bermudo/Vermudo Bermúdez/Vermúdez Bermudes
Bernardo/Bernaldo Bernárdez/Bernáldez Bernardes
Diego/Diogo Díaz/Díez/Diéguez Dias/Diegues
Domingo/Domingos Domínguez Domingues
Egaz/Egas Viegaz Viegas
Enrique/Henrique Enríquez Henriques
Ermígio/Hermígio Ermíguez Hermigues
Esteban/Estêvão Estébanez Esteves/Estévez
Facundo Fagúndez/Agúndez Fagundes
Fáfila/Fávila Fáfez/Fáfilaz Fafes/Fáfilas
Fernando/Hernando/Fernão Fernández/Hernández/Hernanz Fernandes
Froila/Fruela Froilaz/Fruelaz Froilas/Fruelas
García/Garcia Garcés Garcês
Geraldo/Giraldo Geráldez/Giráldez Geraldes
Godinho/Godim Godínez Godins
Gómez/Gomes1 Gómez Gomes
Gonzalo/Gonçalo González Gonçalves
Gutier/Gutierre/Guterre² Gutiérrez Guterres
Juan/João
(através do latim Ioannes)
Yáñez Eanes/Anes
Lope/Lopo1 López Lopes
Marcos Márquez Marques
Martín/Martim/Martinho Martínez Martins
Menendo/Mendo/Mem1 Menéndez/Méndez Mendes
Miguel Miguez Migueis
Muño/Monio1 Muñoz/Muñiz Moniz/Munhoz
Nuño/Nuno Núñez Nunes
Ordoño/Ordonho Ordóñez/Ortiz Ordonhes
Pelayo/Paio1 Peláez/Páez Pais
Pero/Pedro Pérez Peres/Pires
Ramiro Ramírez Ramires
Rodrigo Rodríguez Rodrigues
Ruy/Rui/Roi³ Ruiz Ruis/Rois
Sancho Sánchez Sanches
Suero/Soeiro1 Suárez Soares
Tello/Telo Téllez Teles
Varão4 Varón Varão
Velasco/Vasco Velázquez/Vázquez Vasques/Vaz
Vímara Vimaránez Vimaranes/Guimarães
Ximeno/Ximena Giménez/Jiménez Ximenes
  • 1 - prenome arcaico, não mais em uso.
  • 2 - prenome arcaico, não mais em uso. Variante ibérica equivalente ao germânico Walthari (Walter)
  • 3 - Ruy ou Rui é uma forma arcaica hipocorística de Rodrigo.
  • 4 - invariante quando passado a patronímico.

Patronímicos italianos[editar | editar código-fonte]

No "Bel Paese", os sobrenomes patronímicos têm a facilidade de assumir várias formas, principalmente de acordo com a região da Itália em que este sobrenome é originado. Uma das mais comuns é o sufixo "-i". Como no caso de sobrenomes como: Lorenzi (filho de Lorenzo), Franceschi (filho de Francesco), Giuliani (filho de Giuliano) etc. Tomemos como exemplo o nome Sebastiano Paoli. Paoli é filho de Paolo. Ou então Guerino Stefani. Stefani é filho de Stefano. Outro exemplo pode ser este: Enrico Nicoli. Nicoli é filho de Nicola.

Patronímicos eslavos[editar | editar código-fonte]

Na Rússia, na Ucrânia e na Bielorrússia, entre o nome próprio e o de família, usa-se um patronímico, geralmente uma forma arcaica do genitivo do nome do pai. Em russo, o patronímico termina em "-овна" (-ovna) para as mulheres, e em "-ович" (-ovitch) ou "-ич" (-itch) para os homens (ver alfabeto cirílico). Exemplos: Лариса Константиновна Кузнецова (Larissa Constantinovna Kuznietchova) e Борис Константинович Кузнецов (Boris Constantinovitch Kuznietchov), filhos de Константин Fulanо-вич Кузнецов (Constantin Fuloanovitch Kuznietchov).

Estes sufixos aplicam-se ao radical lexical do nome em causa.

Este sistema quase nunca se aplica ao nome da mãe, mas isso pode acontecer[2].

Na Polônia, os patronímicos são normalmente identificáveis pelos sufixos -iak, -ski e -wicz, como por exemplos Szczepaniak ("filho de Szczepan"), Józefski ("filho de Józef") ou Kaźmirkiewicz ("filho de Kazimierz"). Na República Tcheca e na Eslováquia, é comum o sufixo -ek, tomemos por exemplo Ondrejek ("filho de Ondrej"), Michalek ("filho de Michal") ou Jakubek ("filho de Jakub").

Na Letônia e Estônia (em alguns casos) mas, principalmente, na Lituânia é comum o uso do sobrenome terminado em "-vičius", variante do "-wicz" da vizinha Polônia. Tomemos por exemplo: Antanas Sleževičius. Sleževičius, filho de Sleže.

Na Croácia, Sérvia, Eslovênia e Bósnia e Herzegovina, o equivalente ao patronímico polaco -wicz grafa-se -vić (ou -вић no alfabeto cirílico). Milošević, por exemplo, significa "filho de Miloš". Também é usado o "-ić". Milanić, por exemplo, é "filho de Milan". Muitos sobrenomes italianos terminados em "-ici" ou "-vici" ou ainda "-ovi" vêm do fato de que a antiga Iugoslávia fez divisa com a república mediterrânea.

Patronímicos romenos[editar | editar código-fonte]

Na Romênia, país de língua latina, usa-se o sufixo "-escu". Tomemos como exemplo este nome: Adrian Nicolaescu. Nicolaescu é "filho de Nicolae".

Patronímicos armênios[editar | editar código-fonte]

Na Armênia, ex-república soviética, é comum o uso do sufixo "-ian". Tomemos como exemplo este nome: Garabed Boghossian. Boghossian significa "filho de Boghos".

Patronímicos escandinavos[editar | editar código-fonte]

Nomes patronímicos na Islândia.

Nos países escandinavos era frequente o uso de patronímicos construídos a partir do prenome paterno, seguido de sufixo indicativo de se tratar de um filho (-son, -søn ou -sen) ou de uma filha (-dotter, ‑dóttir ou -datter). O historiador medieval islandês Snorri Sturluson era filho de Sturlu Þórðarsonar. Os anónimos dinamarqueses Hans Jensen e Lene Jensdatter eram os filhos de Jens Hansen. O escritor sueco Harry Martinson era filho de Martin Olofsson. Este costume subsiste na Islândia, mas desapareceu sucessivamente nos séculos XIX e XX na Dinamarca, Noruega, Suécia e Ilhas Faroé. De anotar que o uso teve uma pequena reanimação na Suécia na segunda metade do século XX.
Na Islândia usa-se quase exclusivamente o patronímico (ou matronímico), não havendo um verdadeiro nome de família (sobrenome). O nome dos filhos é formado pelo nome próprio e pelo nome de um dos pais devidamente declinado, sufixado com "-son" ou "-sen" (filho) ou "-dóttir" (filha). Assim, se um islandês chamado Guðmundur tiver uma filha chamada Björk e um filho chamado Magnús, os seus nomes serão Björk Guðmundsdóttir e Magnús Guðmundsson.

O sufixo "-son" e "-sen", principalmente, são usados em outros países do norte da Europa, como o Reino Unido, os Países Baixos e a Alemanha (caso do "-sen"). Na Finlândia (país não anglo-saxão) usa-se uma variante destes sufixos, o sufixo "-nen".

Patronímicos irlandeses[editar | editar código-fonte]

São muito comuns na Ilha Esmeralda (incluindo Irlanda do Norte - Reino Unido) os sobrenomes iniciados em "Mc" ou "Mac", no caso de filho, e "O'" (com apóstrofo), no caso de neto. Este costume se espalhou pelas Ilhas Britânicas. Tomemos como exemplo: Liam McDoherty. Liam (apelido de William), filho de Doherty. Se fosse no Brasil, chamá-lo-íamos de Liam Doherty Filho (abreviatura Fº), Liam Doherty Junior (abreviatura Jr.) ou Liam Doherty II (segundo). Ou então, no caso do "O" seguido de apóstrofe. Novo exemplo: Clint O'Callaghan. Clint, neto de Callaghan. Chamá-lo-íamos, cá, de Clint Callaghan Neto ou Clint Callaghan III (terceiro).

Patronímicos gregos[editar | editar código-fonte]

No mundo helênico há uma maior variedade de patronímicos, originados sob diversas influências. Os mais comuns são -πουλος (-púlos) (do Peloponeso), -ίδης (-ídis) e -ιάδης (-iádis) (de Ponto), -άκης (-ákis) (de Creta). Por exemplo, Nikos Vassilopoulos. Vassilopoulos é filho de Vassilos (Basílio).

Na Grécia Antiga, o patronímico com o sufixo -ίδης (-ídis) era já de uso comum. Eácide, Pelíde e Atríde (Αἰακίδης, Πηλείδης, ᾿Ατρείδης), isto é, "filho de Eaco, de Peleo, de Atreo (Αἰακός, Πηλεύς, ᾿Ατρεύς). Além do sufixo -ίδης, usava-se também a terminação -ίων (-íon), como em Κρονίων, epíteto de Zeus filho de Κρόνος (Cronos).

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • DAUZAT, Albert - Dictionnaire des noms et prénoms de France. Paris, 1975.
  • DE FELICE, Emidio - Dizionario dei cognomi italiani. Milão: Mondadori, 1980.
  • FAURE, Roberto - Diccionario de apellidos españoles. Madrid: Espasa, 2001.
  • MENÉNDEZ PIDAL, Ramón - Toponimia prerrománica hispana. Madrid, 1968.
  • STRADA, Annalisa et SPINI, Gianluigi - Cognomi italiani - origine e significato. Milão: De Vecchi Editore, 2000.
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