Vologases III

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 Nota: Para outros significados, veja Vologases. Para o rei arsácida da Armênia, veja Vologases III da Armênia.
Vologases III
Xainxá
Vologases III
Dracma de Vologases III cunhado em Selêucia do Tigre em 121/2
Xá do Império Arsácida
Reinado 191-208
Antecessor(a)
Sucessor(a) Vologases IV
 
Morte 147
Dinastia arsácida
Pai Pácoro II
Religião Zoroastrismo

Vologases III (em parta: 𐭅𐭋𐭂𐭔; romaniz.: Walagaš) foi xainxá do Império Arsácida de 110 a 147, filho e sucessor de Pácoro II (r. 78–110). Seu reinado foi marcado por conflitos civis e guerras. Na sua ascensão, teve que lidar com o usurpador Osroes I (r. 109–129), que conseguiu tomar a parte ocidental do império, o que deixou Vologases III no controle de suas partes orientais. Depois que Osroes I violou o Tratado de Randeia com os romanos ao nomear Partamásiris como rei da Armênia em 113, o imperador Trajano (r. 98–117) invadiu as terras partas, tomando brevemente as cidades partas de Selêucia do Tigre e Ctesifonte e alcançando o golfo Pérsico. Esses ganhos duraram pouco; todas as conquistas romanas foram perdidas após a morte de Trajano em 117. Vologases III, cujos domínios orientais permaneceram intocados, aproveitou o estado enfraquecido de Osroes I para recuperar o território perdido e finalmente o derrotou em 129. Outro contendor chamado Mitrídates V apareceu logo depois, mas também foi derrotado por Vologases III, em 140.

Vologases III teve que enfrentar uma invasão dos nômades alanos de 134 a 136, enquanto no leste procurou aumentar as ações políticas e militares em resposta à ampliação do Império Cuchana. Sob o imperador Antonino Pio (r. 138–161), uma vez ocorreram distúrbios na Armênia devido à nomeação de um novo rei pelos romanos na Armênia. Vologases III, no entanto, não protestou, seja por não ser poderoso o suficiente, ou possivelmente porque não queria colocar em risco o próspero comércio de longa distância, do qual o Estado parta estava obtendo grandes receitas. Vologases III foi sucedido pelo filho de Mitrídates V, Vologases IV, em 147.

Nome[editar | editar código-fonte]

Vologases é a forma grega e latina do parta Walagaš (𐭅𐭋𐭂𐭔). O nome também é atestado no persa novo como Balāš e no persa médio como Wardāḫš (também escrito Walāḫš). A etimologia do nome não é clara, embora Ferdinand Justi proponha que Walagaš, a primeira forma do nome, seja um composto das palavras "força" (varəda) e "bonito" (gaš ou geš em persa moderno).[1]

Reinado[editar | editar código-fonte]

Dracma de Osroes I

Vologases III era filho de Pácoro II (r. 78–110). Durante os últimos anos do reinado de Pácoro, Vologases III cogovernou com ele.[2] Um contendor parta chamado Osroes I apareceu em 109.[3] Pácoro morreu no mesmo ano e foi sucedido por Vologases III, que continuou a luta de seu pai com Osroes I pela coroa. Osroes I conseguiu tomar a parte ocidental do império, incluindo a Mesopotâmia, enquanto Vologases III governou no leste.[4] Osroes I violou o Tratado de Randeia com os romanos ao depor Axídares, irmão de Vologases III, e nomear o irmão deste último, Partamásiris, como rei da Armênia em 113.[5] Isto deu ao imperador Trajano (r. 98–117) um pretexto para invadir o domínio parta e tirar vantagem da guerra civil em curso entre Vologases III e Osroes I.[2][4] Trajano conquistou a Armênia e a transformou em província romana em 114.[5] Em 116, Trajano capturou Selêucia do Tigre e Ctesifonte, as capitais dos partos.[2][4][6] Trajano chegou até ao golfo Pérsico, onde forçou o governante vassalo parta de Caracena, Atambelo VII, a pagar tributo.[7] Temendo uma revolta dos partos, Trajano instalou Partamaspates, filho de Osroes I, no trono de Ctesifonte.[6][8]

Relevo de Vologases em Beistum

Contudo, estes ganhos duraram pouco; revoltas ocorreram em todos os territórios conquistados, com os babilônios e judeus expulsando os romanos da Mesopotâmia, e os armênios causando problemas sob a liderança de certo Sanatruces.[2][5][4] Após a morte de Trajano em 117, os partos removeram Partamaspates do trono e restabeleceram Osroes I.[6] O sucessor de Trajano, Adriano (r. 117–138) renunciou aos remanescentes das conquistas de Trajano no leste e reconheceu o Tratado de Randeia, com o príncipe parta Vologases I tornando-se o novo rei da Armênia.[2][5][9] O estado enfraquecido da parte ocidental do Império Arsácida deu a Vologases III - cujos domínios orientais permaneceram intocados - a oportunidade de recuperar o território perdido tomado por Osroes I.[4]

Vologases III finalmente conseguiu remover Osroes I do poder em 129.[3] No entanto, pouco depois, um novo contendor chamado Mitrídates V apareceu.[10][11] Vologases III também enfrentou novos desafios em outros lugares; em 134, o rei da Ibéria, Farasmanes II (r. 117–138) fez com que os nômades alanos invadissem os domínios dos partos e dos romanos. Chegaram até à Albânia, Média Atropatene, Arménia e Capadócia; acabaram sendo repelidos dois anos depois, após muitos obstáculos e pesados custos econômicos.[1] No leste, Vologases III procurou aumentar as ações políticas e militares em resposta à ampliação do Império Cuchana.[3] Vologases III derrotou e depôs Mitrídates V em 140.[10][11]

Sob o sucessor de Adriano, Antonino Pio (r. 138–161), ocorreu um distúrbio depois que os romanos nomearam um novo rei na Armênia.[1] Vologases III, no entanto, não protestou, seja por não ser poderoso o suficiente, ou possivelmente porque não queria colocar em risco o próspero comércio de longa distância, do qual o Estado parta estava obtendo receitas substanciais. Pode ter tentado recuperar terras perdidas anteriormente para o Império Cuchana. Uma única fonte budista registra que o governante cuchana Canisca I derrotou uma invasão parta durante a época de Vologases III.[12] Vologases III foi sucedido pelo filho de Mitrídates V, Vologases IV, em 147.[3][4]

Cunhagem e relevos[editar | editar código-fonte]

Sob Pácoro II, o uso da imagem da deusa grega Tique no reverso das moedas partas tornou-se mais regular do que o do rei sentado com um arco, especificamente nas casas da moeda de Ecbátana. Isto foi revertido em Vologases III.[13] Raramente, um templo do fogo é representado no verso de suas moedas.[14] No anverso de suas moedas há um retrato dele usando a mesma tiara de seu pai.[15] Um relevo rochoso em Beistum retrata um monarca parta, provavelmente Vologases III.[14]

Referências

  1. a b c Chaumont 1988, p. 574–580.
  2. a b c d e Dąbrowa 2012, p. 176.
  3. a b c d Dąbrowa 2012, p. 176, 391.
  4. a b c d e f Gregoratti 2017, p. 133.
  5. a b c d Chaumont 1986, p. 418–438.
  6. a b c Kettenhofen 2004.
  7. Hansman 1991, p. 363–365.
  8. Bivar 1983, p. 91.
  9. Badian 2002, p. 458.
  10. a b Kia 2016, p. 203.
  11. a b Dąbrowa 2012, p. 391.
  12. Ghirshman 1965, p. 262.
  13. Rezakhani 2013, p. 771.
  14. a b Olbrycht 2016, p. 96.
  15. Olbrycht 1997, p. 33.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Badian, Ernst (2002). «Hadrian». Enciclopédia Irânica, Vol. XI, Fasc. 4. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia. p. 458 
  • Bivar, A. D. H. (1983). «The Political History of Iran under the Arsacids». In: Yarshater, Ehsan. The Cambridge History of Iran, Volume 3 (1): The Seleucid, Parthian and Sasanian Periods. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. pp. 21–99. ISBN 0-521-20092-X 
  • Chaumont, M. L.; Schippmann, K. (1988). «Balāš VI». Enciclopédia Irânica, Vol. III, Fasc. 6. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia. pp. 574–580 
  • Dąbrowa, Edward (2012). «The Arsacid Empire». In: Daryaee, Touraj. The Oxford Handbook of Iranian History. Oxônia: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-987575-7 
  • Gregoratti, Leonardo (2017). «The Arsacid Empire». In: Daryaee, Touraj. King of the Seven Climes: A History of the Ancient Iranian World (3000 BCE - 651 CE). Irvine, Califórnia: Centro da Jordânia para Estudos e Cultura Persa. ISBN 9780692864401 
  • Ghirshman, Roman (1965) [1954]. Iran: From the Earliest Times to the Islamic Conquest. Baltimore: Penguin Books. ISBN 978-0-14-020239-7 
  • Kettenhofen, Erich (2004). «Trajan». Enciclopédia Irânica. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia. pp. 418–438 
  • Kia, Mehrdad (2016). The Persian Empire: A Historical Encyclopedia [2 volumes]. Santa Bárbara: ABC-CLIO. ISBN 978-1610693912 
  • Olbrycht, Marek Jan (1997). «Parthian King's tiara - Numismatic evidence and some aspects of Arsacid political ideology». Notae Numismaticae. 2: 27–61 
  • Olbrycht, Marek Jan (2016). «The Sacral Kingship of the Early Arsacids. Fire Cult and Kingly Glory». Anabasis: Studia Classica et Orientalia. 7: 91–106 
  • Rezakhani, Khodadad (2013). «Arsacid, Elymaean, and Persid Coinage». In: Potts, Daniel T. The Oxford Handbook of Ancient Iran. Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 978-0199733309