Ceuci Nunes

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Ceuci de Lima Xavier Nunes (Miguel Calmon, Bahia, 4 de fevereiro de 1963) é uma médica infectologista, política e ativista social brasileira, que ganhou destaque no combate à pandemia de Covid-19 na Bahia e na coordenação nacional do movimento “Médicas e Médicos pela Democracia”.

Atuação médica[editar | editar código-fonte]

Iniciou sua formação médica aos 17 anos, em 1980, na Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. Após estágio no Hospital Emílio Ribas, referência para doenças infecciosas e parasitárias em São Paulo, iniciou sua Residência Médica no Hospital Santo Antônio, criado e dirigido pela Irmã Dulce, concluída em 1989. No mesmo ano, realizou curso de Especialização em Medicina Tropical no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, retornando à Bahia para atuar no Hospital Santo Antônio como preceptora de ensino na Residência Médica, atividade que manteve até dezembro de 2001.[1]

Ceuci Nunes em entrevista à revista do Sindimed - Sindicato dos Médicos da Bahia, 2009.

Em 1997, concluiu seu Mestrado em Medicina Interna na Universidade Federal da Bahia - UFBA, onde tratou dos fatores de risco para meningoencefalite tuberculosa. No mesmo ano, obteve o título de especialista em Infectologia. Em 1999, iniciou também na UFBA o doutorado em Medicina Interna, que incluiu uma especialização em Pesquisa Clínica na Universidade da Califórnia. Em 2004, defendeu sua tese doutoral sobre características clínico-epidemiológicas da infecção pelo HIV/Aids em mulheres na Bahia.[1]

Dirigiu o Hospital Couto Maia por 15 anos, período que construiu a nova sede da instituição, agora considerado o mais moderno hospital de doenças infectocontagiosas do Brasil. O hospital, que passou a ser denominado Instituto Couto Maia, foi construído onde antigamente havia o Hospital Dom Rodrigo de Menezes (antiga Colônia para Leprosos), e é fruto de uma parceria público-privada e integra a rede da Secretaria de Saúde da Bahia - SESAB.[2][3][4][5][6]

É Professora Adjunta da Escola Baiana de Medicina há 22 anos, onde foi uma das fundadoras do centro de referência para pacientes com o vírus HTLV. Tem dezenas de trabalhos científicos publicados, com ênfase na área de doenças infectocontagiosas.[1][7][8]

Ativismo político e social[editar | editar código-fonte]

Foi presidente do Diretório Acadêmico Pirajá da Silva, da Escola Baiana de Medicina. Documentos de órgãos de informação da ditadura militar registram que Ceuci era monitorada pelos órgãos de repressão do regime vigente, constando, que em 1981, integrou a direção do Centro de Educação e Saúde Popular – CESP, instituição que desenvolvia ações de saúde no bairro popular da Liberdade, em Salvador e era presidida por seu ex-colega de Diretório Acadêmico, Fernando Vasconcelos. Em 1983, participou da refundação da União dos Estudantes da Bahia e é também listada em documentos de órgãos de informação.[9][10][11]

Em 1993, foi eleita Conselheira do Conselho Regional de Medicina da Bahia, tendo sido reeleita por diversos mandatos até 2008[12] e eleita em 2009 para o Conselho Federal de Medicina, onde integrou, dentre várias atividades, a Comissão de Assessoramento ao Programa Nacional de Aids do Ministério da Saúde.[13][14]

Ceuci tem tido atuação ligada aos movimentos sociais, notadamente os relacionados à defesa dos direitos das Pessoas Vivendo com HIV/Aids.[15][16][17][18][19]

Foi fundadora do movimento Médicos pela Democracia na Bahia e também da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia - ABMMD, integrando a coordenação nacional dessa entidade dedicada à defesa do Sistema Único de Saúde - SUS e das instituições democráticas no país.[20][21] Em novembro de 2021, em audiência na Câmara dos Deputados sobre a pandemia de Covid-19, Ceuci Nunes criticou, em nome da ABMMD, o posicionamento do Conselho Federal de Medicina - CFM quanto ao uso da cloroquina e hidroxicloroquina no chamado tratamento precoce, por deixar o Conselho de resguardar a população e estimular o uso de uma medicação sem eficácia comprovada contra a Covid.[22]

Desde o início da pandemia de Covid-19, enquanto diretora do Hospital Couto Maia, teve um papel de liderança importante na defesa das medidas sanitárias de prevenção e controle da doença, bem como na defesa do Sistema Único de Saúde e da valorização dos profissionais de saúde.[23][24][25][26] No final de 2021, o Ministério Público da Bahia a homenageou com uma ‘Medalha do Mérito’ por sua experiência na área de doenças infecciosas e parasitárias e "em reconhecimento ao trabalho de coordenação da equipe do Instituto Couto Maia, que foi o primeiro hospital de referência para Covid-19 na Bahia".[27]

Em 31 de julho de 2022, foi aprovada sua candidatura a deputada estadual pelo PT - Partido dos Trabalhadores, Bahia. Obteve 36992 votos, o que não foi suficiente para se eleger. Foi a mais votada do PT na capital baiana, com 19776 votos.

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Ceuci é filha do odontólogo e pecuarista João Xavier Nunes e da professora Águeda de Lima Xavier Nunes, já falecidos. Tem dois filhos – Raquel e Vítor.

Referências

  1. a b c CNPq, Currículo Lattes (10 de agosto de 2021). «Currículo de Ceuci de Lima Xavier Nunes». Consultado em 30 de abril de 2022 
  2. Medicina, Associação Bahiana de (26 de setembro de 2018). «Presidente da ABM visita Instituto Couto Maia». Consultado em 30 de abril de 2022 
  3. Bahia, Governo da (7 de julho de 2014). «Parecer Técnico da Secretaria da Fazenda ao Projeto do Instituto Couto Mala.» (PDF). Consultado em 10 de fevereiro de 2022 
  4. Bastos, Claudilson José de Carvalho e outros. (22 de dezembro de 2021). «Pandemia do Covid-19: Relato de Experiência do Teleatendimento do Instituo Couto Maia (TELEICOM), Salvador, Bahia, Brasil.». Consultado em 20 de fevereiro de 2022 
  5. Augusto, Carlos (6 de julho de 2018). «Com investimento de R$ 120 milhões, Governo Rui Costa inaugura nova sede do Instituto Couto Maia em Salvador». Jornal Grande Bahia (JGB). Consultado em 3 de maio de 2022 
  6. Bahia, Ministério Público da (12 de abril de 2019). «Fórum de Vigilância Epidemiológica debate desafios da saúde pública no país». Consultado em 30 de abril de 2022 
  7. Galvão-Castro, B., Grassi, M. F. R., Galvão-Castro, A. V., Nunes, A. S., Galvão–Barroso, A. K., Araújo, T. H. A., ... & Soliani, M. L. C. Integrative and multidisciplinary care for people living with HTLV in Bahia, Brazil: 20 years of experience. Frontiers in Medicine, 1124.
  8. Perazzo, Hugo; Cardoso, Sandra W.; Ribeiro, Maria Pia D.; Moreira, Rodrigo; Coelho, Lara E.; Jalil, Emilia M.; Japiassú, André Miguel; Gouvêa, Elias Pimentel; Nunes, Estevão Portela (7 de janeiro de 2022). «In-hospital mortality and severe outcomes after hospital discharge due to COVID-19: A prospective multicenter study from Brazil». The Lancet Regional Health - Americas (em inglês). 100244 páginas. ISSN 2667-193X. doi:10.1016/j.lana.2022.100244. Consultado em 2 de maio de 2022 
  9. SNI, Sistema Nacional de Informações. «Informe confidencial relativo às eleições do Centro de Educação e Saúde Popular - CESP, de 18 de janeiro de 1985» (PDF). Sistema de Informações do Arquivo Nacional. Consultado em 1 de abril de 2022 
  10. «CEUCI NUNES Entrevista publicada na Revista Luta - sindimed-ba». ptdocz.com (em inglês). Consultado em 3 de maio de 2022 
  11. SNI, Serviço Nacional de Informações. «Informação Confidencial referente ao Congresso Nacional da UEB, 14 de junho de 1983» (PDF). Sistema de Informações do Arquivo Nacional. Consultado em 1 de abril de 2022 
  12. Medicina, Conselho Federal de. (22 de setembro de 1993). «Resolução Conselho Federal de Medicina nº 1.384, de 16 de setembro de 1993.» 
  13. Medicina, Conselho Federal (13 de novembro de 2009). «Composição das Comissões e Câmaras Técnicas Internas do Conselho Federal de Medicina.» (PDF). Portal do Conselho Federal de Medicina. Consultado em 3 de maio de 2022 
  14. Saúde, Ministério da (2018). «Relatório de Gestão do Exercício de 2017 da Secretaria de Vigilância da Saúde.» (PDF). Consultado em 30 de abril de 2022 
  15. ALBA. «Colegiado debate trabalho de prevenção e combate à Aids». ALBA. Consultado em 3 de maio de 2022 
  16. «Avanços, desafios e perspectivas da Luta Contra a AIDS» (PDF). ISaúdeBahia. 1 de dezembro de 2015 
  17. «GGB irá homenagear personalidades e entidades com troféu 'Honra ao Mérito da Diversidade Cultural LGBT'». Toda Bahia. 3 de setembro de 2018. Consultado em 3 de maio de 2022 
  18. «Brasil na luta contra a Aids». www.isaude.com.br. Consultado em 3 de maio de 2022 
  19. Nunes, Ceuci de Lima Xavier; Gonçalves, Lívia A.; Silva, Patrícia T.; Bina, José Carlos (dezembro de 2004). «Características clinicoepidemiológicas de um grupo de mulheres com HIV/AIDS em Salvador-Bahia». Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical: 436–440. ISSN 0037-8682. doi:10.1590/S0037-86822004000600002. Consultado em 3 de maio de 2022 
  20. Democracia, Médicos pela (20 de julho de 2016). «Pela exoneração do Ministro da Saúde, Ricardo Barros». Consultado em 10 de fevereiro de 2022 
  21. «Quem somos». ABMMD. Consultado em 3 de maio de 2022 
  22. Jeremoabo.com. «CFM volta a defender autonomia de médicos para prescrever hidroxicloroquina contra Covid-19». Jeremoabo.com. Consultado em 3 de maio de 2022 
  23. Bahia, Ministério Público da (17 de fevereiro de 2022). «MP promove webnário sobre vacinação infantil». Consultado em 25 de fevereiro de 2022 
  24. Bahia, Ministério Público da (24 de fevereiro de 2022). «Especialistas destacam durante webinário que vacinação infantil é obrigatória e segura». Consultado em 2 de maio de 2022 
  25. «Dra. Ceuci Nunes apresenta palestra sobre panorama das epidemias no Brasil – Alma Baiana». Consultado em 3 de maio de 2022 
  26. «"Precisamos da solidariedade da população", afirma médica Ceuci Nunes». Vermelho. 19 de março de 2020. Consultado em 3 de maio de 2022 
  27. Bahia, Ministério Público da (14 de dezembro de 2021). «Semana do MP - Prêmio J.J. Calmon de Passos e Medalha do Mérito são entregues na abertura do evento». Consultado em 2 de maio de 2022