Discussão:Mário Cesariny

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Cesariny "autor de literatura gay" e "personalidade LGBT"?![editar código-fonte]

Não concordo de modo nenhum com a integração de Cesariny nessas categorias. "Literatura gay"?: quem assim o inclui à má-fila por certo não o leu ou não percebe nada de literatura ou da câmara escura. Era um poeta surrealista, puro e duro, e sem fazer jeitos a ninguém. Quanto ao LGBT não se enquadra nesse tipo de registo. Cesariny era demasiado livre para se deixar rotular ou ser rotulado. Basta ler as entrevistas que deu a esse respeito: era contra o folclore gay, casamentos, adopções, etc. Liberto-o, portanto, dessas cadeias cor-de-rosa com cheiro a Inquisição. Já lhe bastaram (e de sobra) as que lhe quiseram impor em vida.—Orlando F 23h09min de 20 de Junho de 2007 (UTC)

Adequação e relevância da categorização "Autor de literatura gay"[editar código-fonte]

A categoria Autores de literatura gay, tal como indicado na sua página, reúne artigos sobre autores de literatura de temática gay. Esta categoria colige a informação da Wikipedia de língua portuguesa sobre todos os autores cujas obras, pela sua temática gay - explícita ou não - ou cujos percursos de vida tiveram relevância e influência sobre a cultura gay. É uma categoria ampla, que deve incluir desde autores não gay que escrevem explicitamente sobre personagens ou temas da cultura gay, até autores homossexuais de épocas remotas em que era perigoso crime abordar explicitamente a temática homossexual.

Lendo a poesia de Mário Cesariny, as suas entrevistas, a sua biografia, fica claro que o poeta surrealista se deve incluir na categoria "Autores de literatura gay". O mesmo se pode compreender pelas seguintes referências seleccionadas (entre várias) à homossexualidade de Mário Cesariny e à importância da sua obra para a cultura gay:

Aceito que o poeta, em vida, negasse rótulos; aceito e respeito que desdenhasse o "folclore gay"; aceito que esta seja uma categoria que a si, pessoalmente, não lhe interessa: mas claro que não é isso que está em causa quando se categoriza desta forma este artigo! --Jmx 15h13min de 22 de Junho de 2007 (UTC)

Acho completamente absurdo que se classifique Cesariny como "autor de literatura gay". Para mim não é nada claro: li-o vezes sem conta e de gay nem ponta. Libertário, apaixonado louco, visionário, sim. Gay? Nada. Por essa ordem de ideias, também Platão deveria figurar nesse index. Acho que o próprio MCV consideraria essa etiquetação abusiva e bastante ridícula.—Orlando F 19h30min de 1 de Julho de 2007 (UTC)

Orlando F: Eis alguns belos exemplos de poesia retirados de Pena Capital, 3ª edição aumentada, de 2004. Espero que o auxiliem a compreender e aceitar a classificação "autores de literatura gay".

  • de profundis amamus (um poema de paixão tranquila): "Ontem/às onze/fumaste/um cigarro/encontrei-te/sentado/ficámos para perder/todos os teus eléctricos/os meus/estavam perdidos/por natureza própria/(...)/Não faz mal abracem-me/os teus olhos/de extremo a extremo azuis/vai ser assim durante muito tempo/decorrerão séculos antes de nós/mas não te importes/muito/nós só temos a ver/com o presente/perfeito/corsários de olhos de gatos intransponível/maravilhados maravilhosos únicos/nem pretérito nem futuro tem/o estranho verbo nosso."
  • being beauteous (um furtivo encontro sexual?): "O meu amigo inglês que entrou no quarto de cama e correu de um só gesto todas as cortinas/sabia o que corria/digo disse direis era vergonha/era sermos estranhos mais do que isso: estrangeiros/(...)/O meu amigo inglês não se lembrava/senão dos gestos simples do começo/e corria as cortinas e criava/para além do beijo flébil que podemos/a viagem sem fim e sem regresso."
  • um poema de luis cernuda/birds in the night (sobre a "farsa elogiosa repugnante" que foi a atitude do establishment à vida de Rimbaud e Verlaine): "O governo francês - ou foi o governo inglês? - colocou uma lápide/Na casa número 8 de Great College Street, Camden Town, Londres,/Onde Rimbaud e Verlaine, par exótico, tiveram um quarto,/Viveram, beberam, trabalharam, fornicaram/Durante algumas semanas tormentosas./Ao acto inaugural assistiram decerto embaixador e presidente da câmara/Todos os que em vida de Verlaine e Rimbaud foram seus inimigos/(...)/Ouvirão os mortos o que os vivos dizem deles?/Oxalá não: há-de ser um alívio esse silêncio interminável/Para aqueles que viveram pela palavra e por ela morreram/Como Rimbaud e Verlaine. Mas o silêncio ali não impede/Aqui a farsa elogiosa repugnante. Já alguém anelou/Que a humanidade tivesse uma só cabeça, para cortá-la./Exagerava talvez: fosse apenas uma carocha esborrachada."
  • o regresso de ulisses (sobre as fronteiras entre os géneros, a apologia da diversidade e a rejeição, mais uma vez, da falsidade da "civilização ocidental"): "O HOMEM É UMA MULHER QUE EM VEZ DE TER UMA CONA TEM UMA PIÇA, O QUE EM NADA PREJUDICA O NORMAL ANDAMENTO DAS COISAS E ACRESCENTA UM TIQUE DELICIOSO À DIVERSIDADE DA ESPÉCIE. MAS O HOMEM É UMA MULHER QUE NUNCA SE COMPORTOU COMO MULHER, E QUIS DIFERENCIAR-SE, FAZER CHIC, NÃO CONSEGUINDO COM ISSO SENÃO PRODUZIR MONSTRUOSIDADES COMO ESTA FAMOSA «CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL» SOB A QUAL SUFOCAMOS MAS QUE, FELIZMENTE, VAI DESAPARECER EM BREVE.(...) E DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS QUE PENÉLOPE ESPERA O REGRESSO DE ULISSES. MAS O REGRESSO DE ULISSES É O HOMEM QUE É UMA MULHER E A MULHER QUE É UMA MULHER QUE É UM HOMEM."