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Discussão:Tratado de Alcoutim

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Último comentário: 14 de junho de 2010 de Jorge alo

Para quem quiser trabalhar na expansão do artigo, aqui fica o capítulo da Crónica de D. Fernando, do Fernão Lopes, que se lhe refere, já meio transposto para português contemporâneo de modo a facilitar-lhe a compreensão:

53. COMO FOI TRATADA PAZ ENTRE ELREI DOM HENRIQUE E ELREI DOM FERNANDO, E COM QUE CONDIÇÕES.

Durando a guerra entre Portugal e Castela da maneira que já tendes ouvido, e tratando-se assim estas coisas entre elRei dAragão e elRei dom Fernando, havia já tempo que o Papa Gregório undécimo (I) havia enviados por embaixadores aos Reis de Portugal e de Castela, para pôr entre eles paz, dom Beltram, bispo de Comenge, e dom Agapito Columna, bispo de Brixia.

Nota (I): quem os enviou, de facto, foi Urbano V, e não Gregório XI, mas a paz só foi negociada após a eleição deste último Papa.

E ainda que nós antes disto não hajamos menção feita da vinda destes prelados, sabei porém que no ano passado antes que Carmona fosse filhada (a vila rendeu-se em Maio de 1371), chegaram eles a Sevilha, onde elRei dom Henrique estava então, e falando com ele em razão da paz e de quanto era necessária entre os Reis, mostrando-lhe os danos e males que da guerra se seguiam para eles e os seus reinos, e como por tal azo se enxalçaria (exaltaria) a soberba dos inimigos da Santa Sé, outorgou elRei pela sua parte de consentir na paz, com boas e aguisadas razões. Depois vindo eles a Portugal, falaram a elRei dom Fernando sobre isto não menos razões do que aquelas que a elRei dom Henrique haviam dito sobre tal negócio, pois quantos bons conselhos e autoridades se dizer podiam, para o induzir a haver com ele paz e amorio, foram-lhe por eles oferecidas e propostas. Sobre as quais propostas elRei dom Fernando tendo havido conselho – sem primeiro se despedir das avenças e preitesias que com elRei dAragão havia tratadas, não sabemos por qual razão –, determinou de haver com ele paz. E sendo notificado isto por eles a elRei dom Henrique, acordaram os Reis em enviar os seus procuradores para tratar destas avenças em seu nome, a saber: por elRei dom Henrique, dom Afonso Perez de Gozman, alguazil mor de Sevilha, e do seu conselho; e por elRei dom Fernando, dom João Afonso, Conde de Barcelos, o qual, tendo recebidos quatro mil florins para o caminho, estava já prestes para se tornar outra vez a Aragão, mas elRei mandou que cessasse daquela ida e fosse tratar esta paz e avença entre ele e elRei dom Henrique. E feitas sobre isto de ambas as partes firmes e abastantes procurações para porem perpétua paz e amor entre os Reis, divisaram de ser todos juntos, eles e os mensageiros do Papa, numa vila que dizem Alcoutim, do bispado de Silves no reino do Algarve. E juntos ali pessoalmente, salvo o bispo de Comenge, que era então em Aragão, firmaram paz e amorio em nome dos Reis, recontada brevemente nesta guisa. Que eles fossem bons e verdadeiros amigos para sempre um do outro, e igualmente os seus filhos e herdeiros, e todos os povos a eles sujeitos. E que um Rei não fosse teúdo de ajudar o outro contra qualquer pessoa, posto que com alguma houvesse desvairo, porém que elRei dom Fernando fosse amigo delRei dom Karlos de França, assim como elRei de França era amigo delRei dom Henrique, e que elRei de França enviasse os seus mensageiros, até seis meses, a firmar isto com elRei dom Fernando, tal como depois enviou. E para estas pazes serem firmes, e os bons divedos de entre os Reis serem sempre acrescentados, foi tratado nestas avenças que elRei dom Fernando casasse com a Infanta dona Lionor, filha delRei dom Henrique, com a qual houvesse em doação, pelo casamento, Cidade Rodrigo e Valência de Alcântara, com todos os seus termos, e Monterrei e Alhariz, com todos os seus alfozes e fortalezas, os quais lugares fossem para sempre da coroa do reino de Portugal, e alguns escrevem que devia de haver mais, em dinheiro, três contos (milhões) da moeda de Castela, e que, por sua parte, elRei dom Fernando desse à dita Infanta todos os lugares que haviam sido dados por elRei dom Afonso, seu avô, à Rainha dona Beatriz em arras de casamento. E havia de ser entregue a dita Infanta a elRei, para recebê-la e havê-la por mulher, no estremo dos reinos entre Taleiga e Figueira, do dia deste trato firmado aos cinco meses primeiros, com a condição prometida e jurada por elRei, assim como jurou cada um dos outros capítulos, que desde o dia em que lhe fosse entregue até sete meses não houvesse com ela ajuntamento carnal, e isto fazia elRei seu pai porque ela era ainda muito moça, e dizia que lhe queria entretanto guisar (preparar) mui honradamente tudo o que cumpria para a festa das suas bodas. E esta condição foi a elRei dom Fernando mui má de outorgar, porém, no fim, houve-o de fazer, e diziam-lhe alguns...que jurasse ele afoutamente este capítulo, pois não minguaria quem tomasse por ele o pecado deste juramento sobre si. E foi para isto havida dispensação, por azo do divedo que entre eles havia, e publicada na cidade de Sevilha pelo dito dom Agapito, mensageiro do Papa. Foi mais firmado entre ambos os Reis que elRei dom Fernando abrisse mão e desamparasse todos os lugares e terras que ele e aqueles que mantinham a sua voz cobraram no senhorio de Castela, salvo os que havia de haver pelo casamento, e isso mesmo fizesse elRei dom Henrique aos que cobrara em Portugal, tirados os abastecimentos e o ouro e a prata que cada um neles tinha posto. E perdoaram duma parte à outra, desde o caso maior até o menor, a todos os que em serviço dos senhores andaram e se alçaram com vilas e castelos e tomaram voz contra eles. E ficaram os Reis de lhes entregar todos os seus bens de raiz, a não ser aos de Carmona – que ainda neste tempo tinham voz por Portugal, posto que já tenhamos escrito a tomada dela –, para os quais elRei dom Fernando fez muito por que entrassem nestes tratos, mas nunca elRei de Castela quis nisso consentir, dizendo, como escusa, que perdoar aos de Carmona era coisa por que se podia recrescer grande desvairo entre ele e elRei dom Fernando, mas que a mulher do Conde dom Fernando de Castro, com seu filho e companha e suas coisas, se fosse a Portugal para o seu marido, ou aonde lhe prouvesse. Outrossim, que todos os prisioneiros que nesta guerra foram filhados fossem entregues duma parte à outra sem rendição nenhuma, posto que avença tivessem feita com aqueles que os tinham em seu poder. E assim puseram outros capítulos, que para não alongar deixamos de dizer, por que se partiram em geral de toda a contenda que por qualquer guisa entre os Reis até àquele tempo pudesse nascer. Os quais capítulos os ditos procuradores juraram aos santos evangelhos nas almas (em nome) de ambos os Reis, e fizeram preito e menagem, nas mãos do dito delegado: de «que eles guardem cumpridamente estas pazes, e jurem outros tais juramentos pelas suas pessoas, submetendo-se os ditos Reis e os seus reinos a censura e a sentença eclesiástica indo contra isto em alguma coisa». E ordenaram ademais que fossem postos, até o primeiro dia de Maio, certos castelos em arreféns, a saber: da parte delRei dom Fernando, Olivença e Campo Maior, e Noudar, e Marvão, os quais havia de ter dom frei Álvoro Gonçalves, Prior do Hospital; e da parte delRei dom Henrique, Albuquerque e Exarez de Badalhouce, e Alconchel, e a Codesseira, que os tivesse Afonso Perez de Gozman. E foram tratadas e juradas estas pazes, com muitas mais firmezas e condições, no dito lugar de Alcoutim ao postumeiro dia de Março da dita era de quatrocentos e nove anos (1371), as quais elRei dom Fernando daí a dois dias jurou na cidade dÉvora, fazendo preito e menagem nas mãos do dito delegado de as ter e guardar, o que ele depois mui mal fez, segundo adiante ouvireis. E dali enviou a Castela o doutor Gil do Sem e Afonso Gomes da Silva para receberem delRei dom Henrique semelhável firmeza e juramento. E depois foi a Castela Diego Lopes Pacheco para receber da Rainha dona Joana e do Infante dom João e dalguns condes e prelados e ricos homens, que ainda não haviam jurado, o outorgamento dos ditos tratos. E na vila de Touro, onde então elRei era, no mosteiro de San Francisco, ali juraram todos em mãos do dito delegado que presente estava, aos dez dias dAgosto da dita era.Jorge alo (discussão) 18h35min de 14 de junho de 2010 (UTC)Responder