Esther Mahlangu
Esther Mahlangu (Middelburg, Mpumalanga, África do Sul, 11 de novembro de 1935) é uma artista sul-africana da nação Ndebele.[1] É conhecida por suas pinturas contemporâneas em grande escala, que fazem referência à sua herança Ndebele.[2] Esther Mahlangu recebeu um doutorado honorário (Philosophiae Doctor honoris causa) pela Universidade de Joanesburgo, em 9 de abril de 2018.[3]
Biografia[editar | editar código-fonte]
Esther Nikwambi Mahlangu nasceu em 11 de novembro de 1935, em uma fazenda localizada fora de Middelburg, Mpumalanga, África do Sul, e pertence ao povo Ndebele do Sul.[4] Mahlangu começou a pintar aos 10 anos de idade,[5] aprendendo a pintar murais com sua mãe e sua avó,[2] seguindo uma tradição do povo de Ndebele do sul, através da qual, as mulheres pintavam o exterior das casas. Foi nessa tradição cultural que Mahlangu iniciou sua jornada artística.[6] Tinha oito irmãos mais novos, seis meninos e três meninas (incluindo ela). Teve três filhos com seu marido. Porém, mais tarde, perdeu o marido e dois de seus três filhos.
Carreira[editar | editar código-fonte]
A arte de Mahlangu faz referência aos padrões encontrados em roupas e joias do povo Ndebele.[2] Os padrões que ela usa são tipicamente muito coloridos e geométricos. Suas pinturas são de grande escala.[7]
Mahlangu ganhou atenção internacional pela primeira vez em 1989, em uma exposição de arte europeia intitulada Magiciens de la terre (Magos do Mundo).[2][6] Mais tarde, em 1991, foi contratada pela BMW para criar um carro artístico, como outros criadores de BMW Art Car haviam feito antes (incluindo Andy Warhol, David Hockney e Frank Stella). O carro, um BMW 525i, foi o primeiro "African Art Car" e foi pintado com motivos típicos da tribo Ndebele. Ela foi a primeira pessoa e mulher não ocidental a projetar um desses carros artísticos.[8] O carro foi, posteriormente, exibido no Museu Nacional das Mulheres nas Artes em Washington, DC, em 1994. Também foi exibido no British Museum, em Londres, em 2017.[9]
Entre 1980 e 1991 foi residente do museu ao ar livre de Botshabelo, que apresenta a cultura Ndebele aos visitantes.[10]
Seus desenhos também foram reproduzidos em 1997 nas caudas de aviões da British Airways[11] e, mais recentemente, a mesma técnica foi usada pela artista para pintar no novo Fiat 500 na ocasião da exposição "Por que a África?" (2007, Torino).
Mahlangu é uma das artistas africanas cuja arte é frequentemente exibida internacionalmente. Suas obras estão em importantes coleções particulares, incluindo a Coleção de Arte Contemporânea Africana (CAAC), de Jean Pigozzi, e em muitos museus ocidentais. Apesar de ser uma artista reconhecida internacionalmente, Esther Mahlangu vive em sua comunidade, em grande contato com sua cultura.
Temas[editar | editar código-fonte]
Mahlangu segue uma tradição local através da qual este tipo particular de técnica de pintura era elaborada em família, comunicada, aprendida e transmitida apenas pelas mulheres. Essas pinturas estão intimamente ligadas à antiga tradição de decorar as casas na ocasião do rito de passagem dos meninos. Entre os 18 e os 20 anos, os jovens da tribo frequentam “uma escola de circuncisão”, ritual que confirma a sua passagem à idade adulta. Para celebrar este evento, as mulheres pintam completamente o interior e o exterior das suas casas com uma preparação de esterco de vaca e pigmentos naturais. Tintas acrílicas de cores vivas também são aplicadas em desenhos contornados por linhas pretas. Embora aparentemente simples, a abstração geométrica revelada por essas pinturas é ressaltada pela constante repetição e simetria de formas que tornam toda a obra bastante complexa.
A arte de Esther Mahlangu evidencia a tensão entre o local e o global, entre a proximidade e o distanciamento. Apesar de continuar a usar "vocabulário artístico" intimamente ligado às suas tradições, Mahlangu aplicou as padronagens a vários objetos, incluindo telas, esculturas, cerâmicas, automóveis e aviões. Ela também colaborou com várias marcas como BMW, Fiat, EYTYS, Melissa's, Beleverde, Museu Britânico e Rolls Royce.
Atualmente[editar | editar código-fonte]
O BMW Artcar 1991 de Esther Mahlangu esteve em exibição no Museu Britânico como parte da exposição "África do Sul: a arte de uma nação", de 27 de outubro de 2016 a 27 de fevereiro de 2017. O novo BMW Individual, série 7, com acabamentos internos de madeira pintados por ela, foi exibido na Frieze Art Fair 2016 com a exposição de trabalhos co-curados pela BMW e 34FineArt. Recentemente, ela concluiu uma edição especial de design de garrafa da Vodka Belvedere (com 50% de todos os lucros para ajudar a combater o HIV/AIDS na África). Como artista residente, Mahlangu foi contratada em 2014 pelo Museu de Belas Artes da Virgínia para criar duas grandes obras de arte.[2]
Mahlangu é diretora de uma escola que ensina meninas não apenas a pintar, mas também a técnica de pintar desenhos em composições específicas de contas.[12][13] A tradição não é uma entidade estática. Como sugere o trabalho de Mahlangu, "tradição" é um campo móvel, voltado para o futuro e pronto para incorporar diversos estímulos. Na verdade, embora a África do Sul hoje seja um dos países africanos que podem facilitar e promover o trabalho de seus artistas, nacional e internacionalmente, com eventos como o evento bienal de Joanesburgo, o trabalho de Esther Mahlangu é ainda mais corajoso, porque ela nasceu e cresceu em meio a turbulências políticas e sociais.
Esther Mahlangu tem trabalhado incansavelmente, expondo e desenvolvendo seu talento ao redor do mundo. Ela é engajada em compartilhar seus conhecimentos com a geração mais jovem, com o objetivo de deixar um legado que perdurará pelas próximas gerações.[14]
Referências
- ↑ «The Living Art of Esther Mahlangu». The Washington Post. 4 de setembro de 1994. Consultado em 29 de fevereiro de 2012
- ↑ a b c d e «Ndebele artist Mahlangu uses bold colors, striking graphics to honor African heritage». The Washington Post. 3 de outubro de 2014. Consultado em 1 de abril de 2015
- ↑ Mphande, Joy (9 de abril de 2018). «Esther Mahlangu gets conferred with an Honourary Doctorate». Zalebs
- ↑ Magnin, André; Jacques Soulillou (1996). «Esther Mahlangu». Contemporary Art of Africa. [S.l.]: H. N. Abrams. pp. 46 ff. ISBN 978-0-8109-4032-1
- ↑ Phaidon Editors (2019). Great women artists. [S.l.]: Phaidon Press. ISBN 0714878774
- ↑ a b «South African artist painting commissioned murals at VMFA». RVA News. 17 de setembro de 2014. Consultado em 1 de abril de 2015
- ↑ «Esther Mahlangu: An Artistic Residency - Exhibitions»
- ↑ «12 - Esther Mahlangu». 13 de maio de 2011
- ↑ Cashdan, Marina (23 de setembro de 2016). «Esther Mahlangu Is Keeping Africa's Ndebele Painting Alive». Artsy (em inglês). Consultado em 30 de dezembro de 2019
- ↑ «Esther Mahlangu CV» (PDF). Esther Mahlangu. Consultado em 30 de dezembro de 2019
- ↑ «Esther Mahlangu (1935 - )». The Presidency, The Republic of South Africa. Consultado em 30 de dezembro de 2019
- ↑ info@codelikeclockwork.com, Code Like Clockwork (Pty) Ltd. «Esther Mahlangu Ndebele Art School - Participant - Open Africa - Do Travel Differently». Consultado em 2 de abril de 2015. Cópia arquivada em 9 de março de 2016
- ↑ «Esther Mahlangu». South African History Online. Consultado em 30 de dezembro de 2019
- ↑ Mun-Delsalle, Y.-Jean. «Esther Mahlangu, One Of South Africa's Most Famous Artists, Perpetuates Traditional Ndebele Painting». Forbes (em inglês). Consultado em 30 de dezembro de 2019