Henry Box Brown

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Henry Box Brown
Henry Box Brown
Nome completo Henry Brown
Conhecido(a) por enviou a si mesmo pelo Correio para fugir da escravidão
Nascimento 1815
Condado de Louisa, Virgínia, Estados Unidos
Morte 15 de junho de 1897 (82 anos)
Toronto, Ontário, Canadá
Nacionalidade norte-americano
Ocupação Mágico, artista e abolicionista

Henry Box Brown (Condado de Louisa, cerca de 1815Toronto, 15 de junho de 1897) foi um mágico e artista norte-americano.

Henry nasceu na escravidão, em uma plantação na Virgínia. Ao se ver separado da família, vendida a outro fazendeiro, Henry enviou a si mesmo pelo Correio, dentro de uma caixa, com a ajuda de dois membros da paróquia local, na esperança de reencontrá-los e de conseguir sua liberdade.[1] Sua atitude seria vista como uma inspiração por outros escravizados que também buscavam a liberdade.[2]

Por um breve período, Henry foi um ativo abolicionista em todo o noroeste dos Estados Unidos, mas sendo uma figura pública e um escravizado fugido, ele se sentia vulnerável, em especial depois da assinatura da Lei do Escravo Fugitivo, de 1850, que aumentou a pressão para a captura de escravizados que fugiram de seus senhores. Assim, ele se mudou para a Inglaterra, onde morou e trabalhou por 25 anos, falando sobre a abolição, mas também apresentando números de mágica e ilusionismo.[3]

Henry se casaria novamente na Inglaterra e retornaria aos Estados Unidos em 1875, onde continuou ganhando a vida como ilusionista, fazendo turnês pelo país até 1889. No fim da vida, ele se mudou para Toronto, onde se aposentou.[3][4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Henry nasceu escravizado em 1815 ou 1816, na fazenda Hermitage, de posse de John Barret, ex-prefeito de Richmond, no Condado de Louisa, na Virgínia. Seus pais eram cristão e, especialmente sua mãe, costumava lhe falar das escrituras e dos valores de Cristo. Ele tinha pelo menos um irmão e uma irmã, com algumas fontes dizendo que eram pelo menos quatro irmãs e três irmãos, que depois foram enviados para várias outras fazendas da região.[2] Aos 15 anos, após a morte de John Barret, ele foi enviado para trabalhar em uma fábrica de tabaco em Richmond, de propriedade de William Barret, filho de John.[5]

Em sua autobiografia, Narrativa da vida de Henry Box Brown, escrita pelo próprio, ele descreveu seu senhor:

Fuga[editar | editar código-fonte]

Henry se casou com uma mulher também escravizada, mas de outro senhor, chamada Nancy, em 1836, com quem teve pelo menos três filhos. Os dois frequentavam à igreja batista da área e Henry cantava no coral aos domingos. Contratado pelo dono da fábrica de tabaco, com um salário, Henry conseguiu alugar uma casa, onde morava com a família.[3] Porém, o casamento não era reconhecido legalmente e mesmo pagando uma taxa ao dono da fazenda de Nancy para que sua esposa e seus filhos não fossem vendidos, ele traiu a confiança de Henry e os vendeu a outro dono de escravos, mesmo com Nancy grávida do quatro filho do casal, em agosto de 1848.[4][6]

Henry se lamentou por meses, pensando em uma maneira de reencontrar a esposa e os filhos, até que ele decidiu fugir e usando um método incomum. Com a ajuda de um negro liberto e membro do coral da igreja, chamado James Caesar Anthony Smith, ele entrou em contato com Samuel Alexander Smith, um sapateiro e apostador branco, que concordou em ajudar na fuga de Henry. Os três pensaram em várias maneiras, mas Henry pensou que a melhor maneira era ser enviado de trem para a Filadélfia, estado onde a escravidão era ilegal, como se fosse uma mercadoria. Samuel avisou James Miller McKim, líder da Sociedade Anti-escravidão da Pensilvânia, envolvido com a Underground Railroad, que se comprometeu em receber "a carga" em seu destino.[3][4]

Em 29 de março de 1849, Henry fingiu um machucado na fábrica com ácido sulfúrico para poder ir até a cidade em busca de um médico, quando na verdade ele foi até a sapataria de Samuel. Samuel e James colocaram Henry em uma apertada caixa de madeira, com apenas um orifício para respirar, alguns biscoitos e um pouco de água em um cantil, colocando no manifesto a descrição de "comida seca", a ser enviada de Richmond para a Filadélfia.[7] Henry pagou 86 dólares a Samuel Smith pela postagem. Na transferência de barco a vapor pelo rio Potomac para Washington vindo de Richmond, passando por Fredericksburg e pelo terminal ferroviário do Potomac em Aquia Creek, Henry foi virado de cabeça para baixo na caixa por várias horas e quase morreu, mesmo com o aviso estampado na caixa de "manuseie com cuidado" e "este lado para cima". Em outras transferências, a caixa foi manuseada rudemente, mas ele resistiu em silêncio. Ele foi transportado por vagão, ferrovia, barco a vapor, vagão novamente, ferrovia, balsa, ferrovia e finalmente vagão de entregas.[3][6]

Seu pacote chegou à Filadélfia em 30 de março. McKim a buscou na agência do Correio e a levou para o escritório da Sociedade Anti-escravidão da Pensilvânia, onde a caixa foi aberta com ansiedade pelos presentes. Depois de 26 horas confinado na caixa, Henry saiu de dentro cansado, porém livre.[2] Ao sair da caixa, lhe perguntaram como ele estava e, agradecido por ter conseguido fugir, ele teria cantado um salmo para celebrar sua liberdade.[6]

A Sociedade Anti-escravidão esperava poder utilizar o mesmo método para libertar mais escravizados, já que panfletos, palestras, cartas e outros materiais escritos falando sobre abolição não conseguiam chegar ao sul do país. Como os Correios ganharam agilidade e segurança e a constituição garantia a privacidade das correspondências dos cidadãos, ela era um meio considerado perfeito para libertar escravizados. [7]

Liberdade[editar | editar código-fonte]

The Resurrection of Henry Box Brown at Philadelphia, litografia por Samuel Rowse, 1850

Henry se tornou um ativo palestrante para a Sociedade Anti-escravidão de Massachusetts, chegando a conhecer Frederick Douglass. O apelido "Box" (caixa, em inglês), surgiu em uma convenção anti-escravidão em Boston, em maio de 1849 e depois ele acabou adotando como parte de seu nome. Henry publicou duas versões de sua autobiografia, chamada Narrativa da vida de Henry Box Brown, escrita pelo próprio. A primeira foi escrita com a ajuda de Charles Stearns, em 1849, que seguia o padrão de outras narrativas sobre a escravidão na época. A segunda foi publicada em Manchester, em 1851, depois de sua mudança para a Inglaterra.[7]

Frederick Douglass[8] gostaria de Henry não tivesse revelado por qual método ele tinha escapado em suas palestras. Quando Samuel Smith tentou libertar outros escravos, em Richmond, em 1849, eles foram presos.[2] No ano de sua fuga, Henry entrou em contato com o novo dono de sua esposa e filhos, que ofereceu vender sua família de volta, mas Henry recusou, talvez por não ter o valor total. Ele não veria mais a família.[7]

Depois que a Lei do Escravo Fugitivo de 1850 foi aprovada, que exigia cooperação entre as forças da lei para a captura de fugitivos mesmo em estados onde a escravidão era ilegal, Henry se mudou para a Inglaterra para sua prória segurança, onde se tornou uma figura pública. Ele excurcionou pelo país pelos próximos anos, falando sobre a abolição em centenas de palestras por ano, ao longo de uma década.[2][9]

Com a eclosão da Guerra de Secessão, em 1861, ele abandonou as palestras e se tornou artista, atuando nos palcos, cantando e fazendo shows de mágica e ilusionismo, onde era conhecido como o "Príncipe Africano". Na Inglaterra ele conheceu sua segunda esposa, Jane Floyd, uma mulher branca, filha de um fabricante de latas da Cornualha, em 1855, com quem começou uma nova família.[10]

Em 1875, Henry retornou aos Estados Unidos com sua família com um grupo de mágicos.[3]

Morte[editar | editar código-fonte]

Em algum momento, a família se mudou para Toronto, no Canadá e há indícios de que eles continuaram atuando e fazendo shows de mágica até o começo da década de 1890. Seu último show documentado aparece em um jornal, que fala que Henry, sua filha Annie e sua esposa Jane se apresentaram em Brantford, em Ontário, em 26 de abril de 1889.[5][4]

Henry Brown morreu em 15 de junho de 1897, em Ontário, aos 82 anos.[2][3]

Referências

  1. Vanessa Centamori (ed.). «72 horas de agonia: Henry Brown, o escravo que conseguiu alforria ao ser enviado dentro de uma caixa». Aventuras na História. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  2. a b c d e f Suzette Spencer (ed.). «Brown, Henry Box (1815 or 1816–1897)». Encyclopedia Virginia. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  3. a b c d e f g Martha Cutter (ed.). «Will the real Henry Box Brown please stand up». Common-place: Journal of early American life. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  4. a b c d Sydney Trent (ed.). «Slavery cost him his family. That's when Henry 'Box' Brown mailed himself to freedom.». The Washington Post. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  5. a b Bryan Walls (ed.). «Henry 'Box' Brown Freedom Marker: Courage and Creativity». PBS. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  6. a b c d e Brown, Henry (1851). Narrative of the Life of Henry Box Brown, Written by Himself. Manchester: Lee & Glynn. p. 5 
  7. a b c d Robbins, Hollis (2009). «Fugitive Mail: The Deliverance of Henry "Box" Brown and Antebellum Postal Politics». American Studies. 50: 5. doi:10.1353/ams.2011.0045 
  8. «Henry Box Brown». Frederick Douglass in Britain. Consultado em 3 de setembro de 2021 
  9. Cutter, Martha J. (2017). The Illustrated Slave: Empathy, Graphic Narrative, and the Visual Culture of the Transatlantic Abolition Movement, 1800-1852. [S.l.: s.n.] ISBN 9780820351162 
  10. «Henry 'Box' Brown, escaped slave turned showman». Jeffrey Green Blog. Consultado em 3 de setembro de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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