Língua puyuma

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Puyuma

Pinuyumayan, Punuyumayan

Pronúncia:[pujuma] / [pinujumajaŋ] / [punujumajaŋ]
Outros nomes:卑南族 (Bēinán), 卑南語 (Bēinányǔ), Pinuyumayan, Punuyumayan, Kadas, Panapanayan, Pilam, Piyuma, Pyuma[1]
Falado(a) em: Taiwan
Região: Condado de Taitung
Total de falantes: 1500 (em 2011)[2]
Família: Línguas austronésias
 Línguas formosanas
  Puyuma
Escrita: Alfabeto Latino
Estatuto oficial
Língua oficial de: Taiwan como parte das Línguas formosanas
Regulado por: Conselho de Povos Indígenas de Taiwan (中華民國原住民族委員會)[3], Academia Sinica
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: pyu
Mapa mostrando a ilha de Taiwan, com destaque para o Condado de Taitung
Puyuma é um idioma considerado vulnerável pela UNESCO

A língua Puyuma (AFI: [pujuma], chinês: 卑南語, pinyin: Bēinányǔ), conhecida pelos seus falantes como Pinuyumayan e/ou Punuyumayan, é uma língua austronésia de ramo formosano, falada nativamente pelos Puyuma, povo indígena do sudeste taiwanês. Falada nativamente por cerca de 1500 pessoas, é uma língua em situação vulnerável[2] segundo o Atlas Mundial das Línguas em Perigo (en) da UNESCO. Seus oradores são majoritariamente adultos mais velhos e idosos.[4]

A língua apresenta teses divergentes quanto à sua posição dentro das austronésias formosanas, sendo atualmente classificada pela maioria de seus como um ramo individual das línguas formosanas.[5] Veja mais em Classificação e Variedades.

Povo Puyuma em 1897
Povo Puyuma atualmente

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Puyuma_people_in_formal_clothings
Casal Puyuma com vestimentas formais

O termo puyuma é a transliteração do nome da antiga tribo principal do ramo étnico, os Nawang (chinês: 南王)[6]. O termo então evoluiu, referindo-se ao grupo étnico como um todo e ao idioma por eles falado. Porém, devido às variantes dialetais do puyuma, foram elaborados por seus falantes outros dois principais termos: pinuyumayan, que exclui o dialeto Nawang, e punuyumayan, que engloba todas as variedades do Puyuma[7].

De acordo com seus falantes, o termo puyuma significa "unidade", "concórdia". Atualmente todos os três termos são aceitos como nome nativo da língua.[7]

Classificação e Variedades[editar | editar código-fonte]

Classificação[editar | editar código-fonte]

Em primeiros estudos, as línguas formosanas foram divididas em quatro sub-grupos: Atayal, Tsou, Paiwan, e Malaio-Polinésias, dentro dos quais o Puyuma fora agrupado dentro do grupo das línguas Paiwan[5].

Em uma classificação posterior, as formosanas foram divididas em três grupos baseados em semelhanças mútuas: Atayal, noroeste-formosanas e sul-formosanas, sendo a última a categoria na qual o Puyuma fora classificado[5].

Em trabalhos recentes, contudo, o Puyuma é majoritariamente classificado como um ramo próprio das formosanas[5].

Variedades[editar | editar código-fonte]

Dialetos do Puyuma

Antigamente, a grupo étnico Puyuma distribuia-se ao longo de oito vilarejos, cada um com seu próprio dialeto. Há registros de seis destes dialetos nos estudos do Puyuma. São eles: Nanwang, Katipul, Rikavung, Kasavakan, Pinaski, e Ulivelivek[8].

Nanwang é geralmente considerado o dialeto fonologicamente mais conservado, pois preserva algumas estruturas do proto-puyuma. Todos os outros dialetos são geralmente agrupados em um único grupo, denominado Katipul, pois todos compartilham da variação que as plosivas vozeadas ([b], [d], [ɖ] e [g]) se tornaram fricativas. Contudo, não há nenhum consenso sobre a quantidade de dialetos do Puyuma e sua classificação.[9]

Distribuição Geográfica[editar | editar código-fonte]

Bandeira do Condado de Taitung

O Puyuma é falado na região de presença de seu grupo étnico, no sudeste de Taiwan.[10]

Distribuição das línguas formosanas pelo território, Puyuma em vermelho

Historicamente, o Puyuma era falado em oito vilarejos distribuidos ao leste da Cordilheira Central de Taiwan, ao sul do Rio Beinan e na área montanhosa ao do Rio Huandong, porém atualmente seus falantes se concentram principalmente na Cidade de Taitung e no Município de Beinan, ambos localizados no Condado de Taitung[11], o terceiro maior da ilha. Há registros de poucos falantes nos municípios de Chenggong e Taimali, também pertencentes ao condado.[12]

É utilizado entre membros da comunidade étnica puyuma, ao lado do mandarim e do hokkien taiwanês[12] , que são os idiomas mais falados na nação, e do japonês, resquício da influência do domínio japonês, que se estendeu do final do século XIX até a metade do século XX.[13]

O uso da língua é mais presente nos membros mais velhos da comunidade, onde ela é falada de maneira preponderante ou até exclusiva e nota-se um crescente desuso da língua entre os membros mais jovens da comunidade. Porém, esforços para a ministração de aulas em prol da manutenção do idioma tem sido feitos[4].

Estatuto Oficial[editar | editar código-fonte]

O Puyuma é reconhecido como uma língua oficial taiwanesa como parte das línguas formosanas, reconhecidas como línguas nacionais[14], e é regulado por dois órgãos oficiais: O Conselho dos Povos Indígenas de Taiwan[3] e a Academia Sinica.[15]

História[editar | editar código-fonte]

Arte militar da Dinastia Yuan

Os registros mais antigos da existência do grupo étnico datam da Dinastia Yuan (1234-1368), quando os puyuma comercializavam com chineses han do oeste taiwanês. Os chineses han nomearam a região habitada pelo povo puyuma "BeiNunMi", nome que foi utilizado para se referir à área de domínio puyuma por séculos.[16] O primeiro registro da língua Puyuma data da mesma época, no dicionário de Gilbert Happart, escrito em 1650 mas publicado somente em 1840. Inicialmente, o Puyuma foi comparado por estudiosos com o japonês devido a similaridades fonéticas entre os dois idiomas, ideia que foi derrubada em 1801 por Don Lorenzo Hervas, que concluiu que a língua não possuia nenhuma conexão com o chinês ou com o japonês.[17] O período de auge do grupo se deu após o fim da invasão holandesa (en) em Taiwan, no século XV, quando os Puyuma dominaram regiões próximas, consolidando uma área de setenta e duas tribos, que provavelmente apresentavam uma miríade de dialetos.[16]

Povo Puyuma em 1897

Com o passar do tempo a língua evoluiu, e a área de domínio Puyuma foi gradualmente dominada por outros povos e etnias, sofrendo influência de idiomas de outros ramos formosanos, principalmente das línguas Paiwan, até atingir a configuração atual dos seis dialetos do Puyuma, resquícios da época em que os Puyuma se distribuíam ao longo de oito vilarejos no sudeste taiwanês.[16] Foi somente na década de 1950 que a classificação do Puyuma começou a ser estudada e em 1999 o Puyuma foi classificado por estudiosos como um ramo individual dos idiomas austronésios formosanos.[5][17] Atualmente o dialeto mais amplamente falado é o Nawang, porém o Puyuma em sua totalidade encontra-se ameaçado de extinção devido ao pequeno número de falantes nativos e a idade avançada dos mesmos.[16]

Fonologia[editar | editar código-fonte]

Consoantes[editar | editar código-fonte]

O Puyuma apresenta 18 sons consonantais. Os retroflexos [ʈ], [ɖ] e [ɭ] são escritos como <t>, <d> e <l>, respectivamente, a nasal velar [ŋ] é escrita como <ng> ou <n>, a aproximante central palatal [j] é escrita como <y> e a plosiva glotal [ʔ] é marcada por um apóstofro <'>.[18].

Consoantes do Puyuma[19]
Bilabial Alveolar Retroflexa Palatal Velar Glotal
Plosiva Desvozeada p t ʈ k ʔ
Vozeada b d ɖ g
Nasal m n ŋ
Fricativa s
Vibrante r
Aproximante Central j w
Lateral l ɭ

Plosivas

O Puyuma possui 9 fonemas plosivos. As plosivos vozeadas ([b], [d], [ɖ] e [g] são não-aspiradas e as desvozeadas ([p], [t], [ʈ] e [k]) são não-aspiradas quando precedem vogais mas aspiradas em posição final na palavra[18].

  • Exemplos:
    • bali [bali] ("vento")
    • tau [ʈau] ("ser humano")
    • tiktik [tiktikʰ] ("martelo")

A plosiva glotal [ʔ] é representada por um ' .

  • Exemplos
    • sa'ad [saʔad] ("galho")
    • ta'ta [taʔta] ("fechadura")

Nasais

São três fonemas nasais: a nasal bilabial [m], a nasal alveolar [n] e a nasal velar [ŋ] (escrita como <ng>)[20].

  • Exemplos:
    • rami [rami] ("raíz")
    • pilang [pilaŋ] ("liderar")
    • enay [ənaj] ("água")

Fricativas

A única fricativa é a fricativa alveolar surda [s], que se torna palatalizada como [ʃ] quando precedendo vogais fechadas[21].

  • Exemplos:
    • siri [ʃiri] ("cabra")
    • supeng [ʃupəŋ] ("seio")
    • sagar [sagar] ("gostar")

Vibrante e Aproximantes

O Puyuma possui um fonema vibrante, a vibrante múltipla alveolar [r]. São dois fonemas aproximantes laterais: a aproximante lateral alveolar [l] e a aproximante lateral retroflexa [ɭ], e dois aproximantes centrais: a aproximante palatal [j] (escrita como <y>) e a aproximante velar [w][22].

  • Exemplos:
    • wary [wari] ("dia")
    • yuyu [juju] ("você")

Em encontros vocálicos entre pelo menos uma vogal fechada e outra vogal, a inserção de uma aproximante central (xevá) é obrigatória.[23]

  • Segue alguns exemplos:
    • mi-alup ➝ [mijalup]
    • mu-atimul ➝ [muwatimuɭ]

Vogais[editar | editar código-fonte]

O Puyuma possui 4 sons vocálicos. A central média [ə] é escrita como <e> e a posterior fechada arredondada [u] é pronunciada como a posterior semi-fechada arredondada [o] quando precedendo <ng> (o fonema nasal velar [ŋ])[24].

Vogais do Puyuma[25]
Anterior Central Posterior
Fechada i u
Média ə
Aberta a

Se o prefixo de uma palavra possui uma coda e está prefixado à uma palavra iniciada com consoante, a inserção de uma xevá é opcional para evitar um encontro consonantal, dessa maneira: mar-kataguin ➝ [marəkataguin][26].

Fonotática[editar | editar código-fonte]

Sistema fonotático do Puyuma

[δ] representa uma sílaba, constituída de um ataque [O] e uma rima [R]; uma rima se constitui de um núcleo [Nuc] e uma coda [Coda].

No Puyuma, a sílaba mínima consiste em uma vogal e as possíveis formações silábicas são vogal (V), consoante-vogal (CV), vogal-consoante (VC) e consoante-vogal-consoante (CVC)[27].

Tonicidade[editar | editar código-fonte]

Seguindo regra geral, a sílaba tônica é a última da palavra[28].

Ortografia[editar | editar código-fonte]

Em primeiros estudos, constata-se que o Puyuma não possuia um sistema ortográfico regulado e seus usuários divergiam opiniões sobre os símbolos usados para os sons[4].

A partir da década de 1980, padres católicos e pastores protestantes presentes na região começaram a usar o alfabeto latino em traduções de escrituras e hinos para o Puyuma, contando com o oferecimento de aulas para a comunidade ensinando a escrever o Puyuma utilizando o alfabeto latino, sendo este em 2005, oficializado como a ortografia padrão do idioma pelo Conselho dos Povos Indígenas de Taiwan (en)[4].

Ainda que o Puyuma hoje possua um sistema ortográfico oficial, inconsistências, geralmente envolvendo a representação da plosiva glotal [ʔ], das aproximantes, ou da xevá, ainda ocorrem[5].

A maioria das letras e sons funcionam de forma similar ao português, exceto os sons que não estão presentes no português e alguns que assumem uma ortografia diferente, que estão listados na tabela abaixo:[18]

Ortografia do Puyuma[29]
Fonema Letra/dígrafo que o representa
/j/ y
/ʈ/ t
/ɖ/ d
/ɭ/ l
/ŋ/ ng
Pronunciação do Puyuma[29]
Letra Aproximação em outros idiomas
Aa /a/ como em "gato" (pt)
Bb /b/ como em "bela" (pt)
Dd /d/ como em "dedo" (pt), /ɖ/ como em "nord" (sueco [nuːɖ])
Ee /ə/ como em "cerveja" (pt)
Gg /g/ como em "goma" (pt)
Ii /i/ como em "signo" (pt)
Kk /k/ como em "cama" (pt)
Ll /l/ como em "lama" (pt), /ɭ/ como em "belle" (francês [bɛl])
Mm /m/ como em "mola" (pt)
Nn /n/ como em "navio" (pt), /ŋ/ (escrito ng) como "sing" (inglês 🔊 [sɪŋ])
Oo /o/ como em "olho" (pt)
Pp /p/ como em "papel" (pt)
Ss /s/ como em "sal" (pt)
Tt /t/ como em "taça" (pt)
Uu /u/ como em "unha" (pt)
Ww /w/ como em "wall" (inglês [wɑl])
Yy /j/ como em "iorubá" (pt)

Gramática[editar | editar código-fonte]

Morfologia[editar | editar código-fonte]

Radicais

Os radicais do Puyuma podem ser livres ou presos, sendo os livres aqueles que podem ocorrer no discurso como palavras simples e os presos os que não ocorrem sem a presença de afixos[30].

Exemplos de radicais[30]
Presos Livres
ma-tina ("grande") suan ("cachorro")
ma-rayas ("frequentemente") kiping ("roupas")

Afixos

O Puyuma possui prefixos, utilizados para uma miríade de objetivos[31], sufixos, que agem como marcadores, nominalizadores e denotadores de voz[32], apenas dois infixos, um marcador de voz ativa e um que denota tempo perfeito em frases nominais e circunfixos.[33]

Exemplos de afixos[34]
Prefixos Sufixos Infixos Circunfixos
ki = "pegar algo"

(ki-aput = pegar flores)

an = marcador de substantivação

(akan-an = "comida" / akan = comer)

em = marcador de voz ativa

(temakaw da paisu i Isaw = "Isaw roubou dinheiro")

-in- -anan = "os membros de"

(dinekal-anan = "os membros do vilerejo"

mutu = "se transformar em algo"

(mutu-suan = virar cachorro"

ay = marcador de voz locativa

(tu takaw-ay ku da paisu kan Isaw = "Isaw roubou dinheiro de mim")

in = marcador de tempo perfeito em frases nominais

(ku tinima na tilil - "O livro é minha compra")

ka- -an = "a estação de algo"

( ka-salem-an = "a estação de cultivo")

puka = marcador de números ordinais

(puka-enem = "o sexto")

anay = marcador de voz de transferência

(tu takaw-anay i tinataw da paisu = "Ele roubou dinheiro para sua mãe")

sa- -an' = "pessoas fazendo coisas juntas"

( sa-ra'ip-an = "pessoas semeando juntas")

Pronomes[editar | editar código-fonte]

Os pronomes no Puyuma podem ser pessoais ou demonstrativos.[35]

Pronomes pessoais

Os pronomes pessoais são divididos em pronomes presos, distinguidos entre caso nominativo, sendo este dividido nas formas de sujeito e de possessor do sujeito, e caso genitivo; e pronomes livres, sub-divididos em caso nominativo, caso oblíquo e neutros.[36]

Os pronomes oblíquos se diferenciam em forma de não-sujeito e forma de possessor do sujeito. Esta última age como uma classe de pronomes possessivos.[37]

Um pronome preso é um pronome que se comporta como clítico, ou seja, encontra-se preso a um verbo, o antecedendo ou o sucedendo. Já os pronomes livres possuem independência fonológica e gramatical.[38]

Os pronomes presos do caso nominativo na forma do sujeito e os pronomes do caso genitivo são proclíticos e os pronomes presos nominativos da forma de possessor do sujeito são enclíticos.[39]

Legenda: S = singular, P = plural, INC = inclusivo (nós= eu + você), EXC = exclusivo (nós = eu + eles).

Pronomes Pessoais Presos do Puyuma[39]
1ªS 2ªS 3ªS 1ªP INC 1ªP EXC 2ªP 3ªP
Nominativo Sujeito -ku -yu --- -ta -mi -mu ---
Possessor do sujeito ku- nu- tu- ta- niam- mu- tu-
Genitivo ku- nu- tu- ta- mi- mu- tu-
Pronomes Pessoais Livres do Puyuma[40]
1ªS 2ªS 3ªS 1ªP INC 1ªP EXC 2ªP 3ªP
Nominativo nanku nanu nantu nanta naniam nenemu nantu
Oblíquo Não-sujeito kanku kanu kantaw kanta kaniam kanemu kantaw
Possessor do sujeito DF: kanku, kananku ID: daku, dananku DF: kanu, kananu ID: danu, dananu DF: kantu, kanantu ID: datu, danantu DF: kanta, kananta ID: data, dananta DF: kaniam, kananiam ID: daniam, dananiam DF: kanemu, kananemu ID: danemu, dananemu DF: kantu, kanant ID: datu, danantu
Neutro kuiku yuyu taitaw taita mimi muymu ---

Legenda: DF = definido, ID = indefinido

Pronomes demonstrativos

Os pronomes demonstrativos no Puyuma podem ser nominativos ou oblíquos, e variam dependendo da distância estabelecida entre o falante e o objeto demonstrado.[41]

Pronomes Demonstrativos do Puyuma[41]
Próximo Média distância Distante
Nominativo Singular idi, idini idu, idunu idiyu
Plural nadi, nadini nadu, nadunu nadiyu
Oblíquo Singular kandi, kandini kandu, kandunu kandiyu
Plural kanadi, kanadini kanadu, kanadunu kanadiyu

Substantivos[editar | editar código-fonte]

Caso, classe e número

O Puyuma possui marcadores de frase nominal, que são palavras que acompanham os substantivos, indicando seu caso, classe (comum, próprio ou locativo), número, e se são definidos ou não.[42]

Os marcadores do caso nominativo marcam a função de sujeito, enquanto os marcadores do caso oblíquo marcam a função de substantivos que não agem como sujeito na sentença.[42]

Substantivos comuns no Puyuma são semelhantes aos substantivos comuns do português, denotando a maioria das coisas comuns. Substantivos próprios se referem a nomes próprios e relações de parentesco com gerações mais velhas[43] e substantivos locativos denotam nomes de lugares, referências locacionais e direções geográficas.[44]

Marcadores nominais do Puyuma[42]
Nominativo Oblíquo
Subs. comum Definido na kana
Indefinido a da
Subs. próprio Singular i kan
Plural na kana
Subs. locativo i
  • Exemplos:
    • Comum: Sadu na asi tu tinekel (bastante / marcador de subs. comum nom. definido / leite / ele/a / bebeu) = "O leite que ele/a bebeu era bastante"[45]
    • Próprio: Tu padek-aw i temutaw (ele/a / carregou nas costas / marcador de subs. próprio nom. singular / avó) = "Ele/a carregou sua avó nas costas"[43]
    • Locativo: Ma-kiteng i timul (pequeno / marcador de subs. locativo / sul) = "O sul é pequeno"[44]

Os substantivos do Puyuma também podem ser originados da derivação de verbos, em suas formas radical, imperativa e/ou intransitiva, modificados pela adição de afixos.[46]

Substantivos de ação

Derivam-se dos verbos de ação e denotam o ato.[47]

  • Exemplos:
    • ki-karun = trabalhar (radical "karun") ➝ kiakarun-an = trabalho
    • ma-deki/ka-deki = condenar (radical "deki") ➝ deki-an = condenação
    • m-engad = respirar (radical "engad") ➝ angad = respiração

Substantivos de estado

Denotam o estado em que se encontra.[48]

  • Exemplos:
    • ka-asat = alto (radical "asat") ➝ asat-an = altura
    • ka-bulay = bonita (radical "bulay") ➝ bulay-an = beleza
    • k-igela = envergonhado (radical "igela") ➝ kiagelan = vergonha

Substantivos pessoa-denotativos

Denotam a pessoa que os realiza/é.[49]

  • Exemplos:
    • temakesi = estudar (radical "takesi") ➝ tematakesi = estudante
    • ma-'idang = velho (radical "-'idang") ➝ ma-'idang-an = pessoa velha
    • ka-bangsar = bonito (radical "bangsar") ➝ bangsar-an = rapaz
    • ka-bulay = bonita (radical "bulay") ➝ bulabulay-an = moça

Numerais[editar | editar código-fonte]

O sistema numérico do Puyuma é de base decimal[50]. Para números ordinais, o termo "puka" é sufixado ao número em sua forma cardinal, com exceção do primeiro, que traduz para "palibak".[51]

Numerais cardinais no Puyuma[52][53]
Número Escrita em Puyuma
1 sa
2 dua
3 telu
4 pat
5 lima
6 nem
7 pitu
8 walu
9 iwa
10 pulu
11 pulu-sa
12 pulu-dua
15 pulu-luwat
20 dua-pulu / makabetraan
21 dua-pulu sa / makabetraan miasa
30 telu-pulu / makatelrun
40 pat-pulu / makapetel
100 sa-leman
200 dua-leman
1000 sa-kudul
2000 dua ya kudul

Verbos[editar | editar código-fonte]

Os verbos no Puyuma são dividos de acordo com sua quantidade de argumentos[54], seu aspecto e sua voz.[54]

Dualidade verbo-nominal

No Puyuma, de maneira semelhante a outros idiomas austronésios, o mesmo termo, geralmente um radical, é utilizado de maneira verbal e de maneira nominal. Por exemplo, a palavra senay pode significar "canção" e "cantar" (em modo infinitivo ou imperativo), dependendo do contexto e estrutura da frase em que é utilizado.[55]

Senay da senay! = "Cante uma canção!"

Takesi i sabak! = "Estude dentro (de casa)!"

Argumentos

Quanto à quantidade de argumentos, os verbos podem ser não-valentes, monovalentes, bivalentes e trivalentes.[56]

Verbos não-valentes

Não apresentam nenhum argumento.[54]

  • Exemplo:
    • Araremeng-la (escurecendo) = "Está escurecendo"[54]

Verbos monovalentes

Possuem apenas um argumento obrigatório, o sujeito nominal, sendo sempre intransitivos.[57]

  • Exemplo:
    • Semasenay i 'baeli (cantando / marcador de subs. próprio nom. singular / minha irmã mais velha) = "Minha irmã mais velha está cantando"[57]

Verbos bivalentes

Possuem dois argumentos obrigatórios e podem assumir forma transitiva ou intransitiva, definidas por sufixação.[57]

  • Exemplo:
    • M-adas mi da liung (levantamos / nós / marcador de subs. comum indefinido oblíquo / porco) = "Nós levantamos um porco[58]

Verbos trivalentes

Possuem três argumentos: um argumento ativo, um paciente e um menos-paciente; podendo ser entendido como um ator da ação, um beneficiado e um tema. São sempre transitivos, e possuem mais de uma voz.[58]

  • Exemplo:
    • Ku pabulas-anay kan Lugi na kabung (eu / emprestei / marcador de voz de transição / marcador de subs. próprio singular oblíquo / argumento passivo / marcador de subs. comum definido / chapéu) = "Eu emprestei o chapéu para o Lugi"[55]

Aspecto verbal

O aspecto verbal no Puyuma é marcado por enclíticos. São eles: -la, que denota aspecto perfeito (ação totalmente finalizada), -diya, que denota aspecto imperfeito (ação interrompida), e -dar, que denota aspecto frequentativo (ação frequente).[59]

Verbos sem marcador de aspecto podem ser interpretados como no presente ou no passado.[60]

O gerúndio é representado por uma duplicação da primeira sílaba do radical e a adição de um afixo marcador de voz.[61]

  • takesi = estudante ➝ ta + em (infixo de voz ativa) + takesi ➝ tematakesi = estudando
  • sanga = produzir ➝ sa + em (infixo de voz ativa) + sanga ➝ semasanga = produzindo

Voz verbal

Os verbos podem estar em voz ativa, voz passiva, voz locativa e voz de transferência.[34]

Voz ativa: prefixo -m ou -ma, ou infixo -em-.[31]

Voz passiva: sufixo -aw.[31]

Voz locativa: sufixo -ay.[31]

Voz de transferência: sufixo -anay.[31]

Sentença[editar | editar código-fonte]

As sentenças são iniciadas com o predicado, usualmente seguindo a forma Verbo Objeto Sujeito VOS[32]. Os elementos são marcados e definidos pelo uso de diversas estruturas auxiliares, como marcadores, reduplicações e afixos.[62]

  • Exemplo:
    • Temakaw da paisu i Isaw (roubar / dinheiro / marcador de subs. próprio nom. singular / sujeito) = "Isaw roubou dinheiro"

Frases nominais

Em frases nominais, há a ausência de verbos. Assim, o predicado pode ser composto apenas por um substantivo, um pronome, um numeral, um advérbio, ou outra estrutura nominal similar.[63]

  • Exemplo:
    • Ameli a suan (negação / marcador de subs. comum indefinido / cachorro) = "Não é um cachorro" (literalmente: Não um cachorro)

Frases verbais

Em frases verbais, o verbo é o elemento principal do predicado.[32]

  • Exemplo:
    • Tu beray-anay na la'ub (ele/ela / deu a eles / marcador de subs. comum nom. definido / concha de cozinha) = "Ele/a deu a concha de cozinha a eles"

Vocabulário[editar | editar código-fonte]

Exemplo de texto[editar | editar código-fonte]

Excerto de "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry em Puyuma

"Enem driya ku ami i, matemuy ki kiniyangeran kana kawaikawi aw kana unan na yaulas. Idini i, amau nanku nilribakan temutrautrau, Ku panauwanay dra maidrangan ku tinutrautrau. "Adri mu inedang?" Ku kayaw i, "a kabung idru i! Inedang ta dra manay!"[53]

Tradução em português

Quando eu tinha seis anos de idade, eu era cheio de imaginação sobre o elefante e a serpente. Essa é a primeira pintura de minha vida: Eu levei a pintura para os adultos e perguntei se eles se assustariam. Todos me responderam, "Por que um chapéu daria medo?"[53]

Lista de Swadesh[editar | editar código-fonte]

Aqui estão algumas palavras pertencentes à lista de Swadesh em Puyuma.

Lista de Swadesh[64][65]
Palavra Palavra em Puyuma
eu ku
tu yu
isso idis
quem manay
o quê kuda / imanay
um sa
dois dua
peixe kuraw
cachorro suan
casa ruma
sangue damuk
osso ukak
ovo biʈunun
chifre su'ang
cauda ɭudus
orelha ʈangiɭa
Olho maʈa
nariz tingran
Dente wali
Língua sema
mão ɭima
saber saigu
morrer minatai
dar veray
sol kadaw
lua bulan
água enay
sal yam
pedra rasa
vento baɭi
fogo apue
ano ami
muito sadu
novo bekal
nome ngarat


Referências

  1. Ethnologue.
  2. a b UNESCO's Atlas of the World's Endangered Languages.
  3. a b Conselho dos Povos Indígenas de Taiwan.
  4. a b c d Teng, p. 34.
  5. a b c d e f Teng, p. 35.
  6. Digital Museum of Taiwan Indigenous People.
  7. a b Teng p-28.
  8. Teng, p. 32.
  9. Teng, pp. 32-33.
  10. Cauquelin, p. 1.
  11. Teng, pp. 27-30.
  12. a b Indigenous People Cultural Development Center.
  13. Teng, p. 33.
  14. Indigenous Languages Development Act.
  15. Academia Sinica.
  16. a b c d Digital Museum of Taiwan Indigenous Peoples.
  17. a b Cauquelin, p. 21.
  18. a b c Teng, p. 42.
  19. Teng, pp. 42-49.
  20. Teng, p. 43.
  21. Teng, p. 44.
  22. Teng, pp. 44-45.
  23. Teng, p. 56.
  24. Teng, p. 51.
  25. Teng, p. 50.
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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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  • «Conselho dos Povos Indígenas de Taiwan (em chinês)» 🔗 
  • «UNESCO's Atlas of the World's Endangered Languages (em inglês)» 🔗. 2011 
  • «Digital Museum of Taiwan Indigenous Peoples (em inglês)» 🔗 
  • «Indigenous Peoples Cultural Development Center (em inglês)» 🔗 
  • «Austronesian Basic Vocabulary Database (em inglês» 🔗 
  • «Omniglot (em inglês» 🔗 
  • «The Austronesian Comparative Dictionary (em inglês» 🔗 
  • Cauquelin, Josiane (1991). The Puyuma Language. [S.l.]: Brill. ISBN 9789860147285 
  • «Academia Sinica (em inglês)» 🔗 
  • Teng, Stacy Fang-Ching (2007). A reference grammar of Puyuma, an Austronesian language of Taiwan. Col: Pacific Linguistics. Canberra: Pacific Linguistics, Research School of Pacific and Asian Studies, Australian National University. ISBN 9780858835870 


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Ligações externas[editar | editar código-fonte]