Lorena Cabnal

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Lorena Cabnal
Nascimento 1973
Cidadania Guatemala
Ocupação ativista

Lorena Cabnal (Guatemala, 1973) é cofundadora do movimento feminista comunitário-territorial na Guatemala e da Red de Sanadoras Ancestrales del Feminismo Comunitário.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Lorena cresceu na periferia da capital da Guatemala, durante a guerra civil guatemalteca. Sua família teve que fugir do território maya q´eqchí, em Alta Verapaz, depois de ser expulsa por latifundiários, assim como outras milhares de pessoas indígenas que foram deslocadas forçadamente durante o governo militar de Efráin Rios Montt.[2]

Cresceu num contexto de violência que ela considerava como parte da vida quotidiana. Após conversar com uma amiga sobre os abusos sexuais cometidos por seu pai contra ela, Lorena tornou-se consciente sobre essa violência e aos 15 anos fugiu de casa.[3][4]

A ativista queria estudar medicina, porém sua situação econômica não o permitia. Não obstante, sua mãe, que atuava como curandeira herbalista e também como cozinheira em casas particulares, tinha contatos que permitiram sua filha entrar no curso de medicina transfusional. Ali, Lorena conheceu mulheres importantes para sua trajetória: a médica Gladys Murga, que foi sua mentora no âmbito médico e a filósofa María Rosa Padilla, de quem ouviu as primeiras interpretações acadêmicas com uma perspectiva social e antropológica sobre os povos indígenas.[5]

Aos 25 anos decidiu se afastar da sua comunidade e chegou a Santa María Xalapán, onde começou a trabalhar contra a violência sexual e onde conheceu Victoria Serrano, quem se tornou e foi sua avó espiritual até seu falecimento.

Ativismo[editar | editar código-fonte]

Lorena é uma ativista feminista e sanadora, filha da cosmologia maya xinca. Com companheiras na montanha de Santa María Xalapán, deu início ao ativismo pela defesa do território, lutando contra os transgênicos, os tratados de livre comércio, as expropriações realizadas por latifundiários e contra a mineração, e foram as realidades machistas quotidianas, como por exemplo que o governo de sua comunidade estava conformado por 357 homens e nenhuma mulher, e que só existiam guias espirituais homens, o que a impulsionou a questionar a vida dentro de sua comunidade e, junto com um grupo de mulheres que compartilhavam as mesmas preocupações, as levaram a fundar o feminismo comunitário territorial. [6][7][8][4]

Feminismo comunitário territorial[editar | editar código-fonte]

Lorena não se identifica como feminista decolonial, mas sim como feminista comunitária territorial, pois considera que os corpos-territórios sofrem opressões e violências tanto no presente como nas memórias ancestrais, e promove a cura como forma de poder seguir lutando pela defesa dos territórios-corpo-terra.[8]

Para Lorena, o corpo é um elemento primordial, pois considera que sobre ele se construiu a colonização, a invasão, a pilhagem, o genocídio, e a exproprição tanto dos territórios como dos saberes ancestrais, o racismo e, portanto, se encontra constantemente sob ameaça, tornando-se um território em disputa.[9] Para ela, é necessário lutar contra essas violências ao mesmo tempo que se luta para defender a terra.[10] Na última década, o feminismo comunitário estendeu-se por países como Bolívia e Guatemala, a partir de onde Lorena e suas companheiras lançaram a proposta da Recuperação e Defesa do Território Corpo-Terra, que trata de visibilizar a necessidade de tecer as lutas contra os projetos extrativistas e pela erradicação da violência exercida pelos homens contra os corpos das mulheres nas mesmas comunidades em resistência.[8]

Para a feminista guatemalteca a cura é um caminho cósmico-político. Cósmico pela memória ancestral e pelo vínculo com a natureza, e político porque é preciso curar-se para estar bem, mas também para seguir lutando.[11]

Obras[editar | editar código-fonte]

  • Acercamiento a la construcción del pensamiento epistémico de las mujeres indígenas feministas comunitarias de Abya Yala (2010)
  • De las opresiones a las emancipaciones: Mujeres indígenas en defensa del territorio cuerpo-tierra (2016)
  • Feminismo comunitario desde las mujeres maya-xinca de Guatemala (2019)

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Lorena Cabnal: "Recupero la alegría sin perder la indignación, como un acto emancipatorio y vital"». pikara magazine (em espanhol). 13 de novembro de 2019. Consultado em 9 de dezembro de 2022 
  2. Giménez, J.; Sánchez, E. Bravo (9 de junho de 2017). «La indígena desterrada por feminista». Madrid. El País (em espanhol). ISSN 1134-6582. Consultado em 15 de maio de 2023 
  3. Welle (www.dw.com), Deutsche, Fuerza Latina - Lorena Cabnal: sanar de la violencia | DW | 10.10.2019 (em espanhol), consultado em 9 de fevereiro de 2023 
  4. a b Leal, Por Lourdes Godínez (22 de outubro de 2015). «Lorena Cabnal: defensora del cuerpo-tierra de las mujeres». cimacnoticias.com.mx (em espanhol). Consultado em 10 de dezembro de 2022 
  5. tinta, Redacción La (21 de setembro de 2020). «Lorena Cabnal: "Tejernos en conciencia para sanar la vida"». La tinta (em espanhol). Consultado em 10 de fevereiro de 2023 
  6. «La indígena desterrada por feminista». El País (em espanhol). 9 de junho de 2017. ISSN 1134-6582. Consultado em 9 de dezembro de 2022 
  7. Belaich, Fabio (6 de março de 2020). «Lorena Cabnal, activista y referente maya (de Guatemala): "Recupero la alegría sin perder la indignación, como un acto emancipatorio y vital" - Por Florencia Goldsman». NODAL (em espanhol). Consultado em 10 de fevereiro de 2023 
  8. a b c «Lorena Cabnal: Sanar y defender el territorio-cuerpo-tierra | Noticias». www.cua.uam.mx (em espanhol). Consultado em 9 de dezembro de 2022 
  9. mayo, Karen Santiago 14. «Lorena Cabnal: Sanación, feminismo y defensa comunitaria». Luchadoras (em espanhol). Consultado em 9 de dezembro de 2022 
  10. Álvarez, Celia (4 de dezembro de 2019). «La activista Lorena Cabnal, sobre el feminismo en Guatemala: Solo tienen voz las mujeres blancas y urbanas». elDiario.es (em espanhol). Consultado em 10 de dezembro de 2022 
  11. López, Eugenia (26 de junho de 2018). «Lorena Cabnal: Sanar y defender el territorio-cuerpo-tierra». Avispa Midia (em espanhol). Consultado em 9 de fevereiro de 2023