Manuel Zerbone

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Manuel Zerbone
Manuel Zerbone
Nascimento 7 de novembro de 1856
Horta
Morte 29 de março de 1905 (48 anos)
Horta
Cidadania Reino de Portugal
Alma mater
Ocupação escritor, professor
Empregador(a) Escola Secundária Manuel de Arriaga

Manuel Zerbone Júnior (Horta, 7 de Novembro de 1856 — Horta, 29 de Março de 1905) foi um professor, escritor e publicista açoriano, de origem sarda ou corsa, que se notabilizou como um dos principais motores do movimento intelectual que surgiu na ilha do Faial na segunda metade do século XIX.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Manuel Zerbone nasceu na cidade da Horta, ali concluindo os seus estudos primários. Depois de alguns estudo na sua ilha natal, partiu para a cidade do Porto, onde concluiu o ensino secundário. Durante a sua estadia naquela cidade conheceu Manuel Teixeira Gomes, Luís Botelho e José Maria de Queirós Veloso. Estudou seguidamente em Lisboa, frequentando o Curso Superior de Letras, mas não concluiu qualquer curso superior.[3]

Regressou à ilha do Faial onde se fixou e foi professor de Francês no Liceu da Horta. Simultaneamente iniciou um percurso de publicista e jornalista, que o levaria a colaborar com múltiplas iniciativas editoriais na ilha do Faial, noutras ilhas dos Açores e no exterior do arquipélago. Passou também a ser um dos grandes impulsionadores do movimento intelectual que então surgiu na ilha, centrado em torno de uma tertúlia que incluía Florêncio Terra, Manuel Joaquim Dias, Rodrigo Guerra e Henrique das Neves.

O grupo fundou o Grémio Literário Faialense e o O Açoriano, um semanário com espaço dedicado às letras, onde publicam textos predominantemente com o cunho do romantismo, mas onde surgem […] sinais de novidade na colaboração, como contista, de Florêncio Terra e, sobretudo de Manuel Zerbone, este com umas prosas poéticas onde se patenteia, sintomaticamente, a influência do criador do poema em prosa, Aloysius Bertrand de "Gaspard de la Nuit".[4] Para além da poesia e da crónica, Manuel Zerbone afirmou-se como contista e romancista, tentando também o teatro.

Sobre as crónicas de Manuel Zerbone, o crítico literário e estudioso da literatura açoriana Pedro da Silveira escreveu: Impõe-se publicá-las na totalidade e, à parte, os seus contos e os poemas em prosa. Discípulo, nos poemas em prosa de Aloysius Bertrand e de Baudelaire, é uma das figuras mais interessantes da literatura açoriana do seu tempo.[5] O mesmo crítico considera que numa primeira abordagem a obra de Manuel Zerbone parece fútil, por vezes um mero jogo de palavras habilidosamente tecido mas sem fundo. Não é assim, porém. As aguarelas impressionistas deste discípulo de Aloysius Bertrand e de Baudelaire do "Spleen" de Paris revelam um verdadeiro poeta, delicado e de funda sensibilidade.[6]

Marcelino de Almeida Lima, outro dos membros da tertúlia e também colaborador n´O Açoriano,escreveu que Manuel Zerbone tinha uma alma de artista, verdadeiro esteta em tudo, no julgar e no praticar, até nas cousas mais comezinhas da vida, destacava-se no círculo dos intelectuais; e muito poderia ter-se salientado, porque condições não lhe faltavam, se não fosse a incapacidade para se amarrar ao trabalho de cinzelar obra de vulto.[7] Ernesto Rebelo, outro dos membros da tertúlia, diz que Zerbone tinha um estilo ligeiro e maleável, adequado ao predilecto género de literatura que em França teve por iniciador Júlio Janin e no qual, em Portugal, tanto se distingue Júlio César Machado – o folhetim, as crónicas alegres.[8]

Depois de uma carreira como professor liceal na ilha do Faial, faleceu na Horta em 1905, com apenas 49 anos de idade.

Obra publicada[editar | editar código-fonte]

A maior parte da obra de Manuel Zerbone está dispersa por múltiplos periódicos, a maioria dos quais da Horta (O Fayalense, Atlântico, União e Biscuit), do Porto (Folha Nova) e de Lisboa (Diário da Manhã). A sua obra Aguarela (prosa poética) foi incluído na Antologia de Poesia Açoriana de Pedro da Silveira.[9] Com Florêncio Terra, escreveu o romance A vingança da noviça (publicado em folhetim n’O Açoriano), e a peça dramática em três actos Luísa.

Em 1989 a Câmara Municipal da Horta editou uma recolha das suas Crónicas Alegres.[10] A colectânea, organizada por Carlos Lobão, inclui parte das crónicas saídas n’O Açoriano sob o pseudónimo Pablo.

Notas

  1. «Manuel Zerbon» no Álbum Açoriano, p. 530. Lisboa, Bertrand, 1903-1908.
  2. «Zerbone Júnior, Manuel» na Enciclopédia Açoriana.
  3. Pedro da Silveira (1977), Antologia de Poesia Açoriana do século XVIII a 1975. Lisboa, Sá da Costa: 177-178.
  4. Pedro da Silveira (1998), "Sobre a Horta como centro literário: uma proposta de estudo". In O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV a XX, Horta, Núcleo Cultural da Horta: 599-600.
  5. Pedro da Silveira (1922-2003) – Um breve perfil.
  6. Pedro da Silveira (1977), Antologia de Poesia Açoriana do século XVIII a 1975. Lisboa, Sá da Costa: 177.
  7. Marcelino Lima, Anais do Município da Horta. Vila Nova de Famalicão, Oficinas Gráficas Minerva: 569-570, 1943.
  8. Ernesto Rebelo (1982), "Notas açorianas. Escriptores e homens de lettras". In Arquivo dos Açores. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, IX: 33-34, 1887.
  9. *Pedro da Silveira (1977), Antologia de Poesia Açoriana do século XVIII a 1975. Lisboa, Sá da Costa: 177-178.
  10. Crónicas Alegres I, 1884-85. Horta, Câmara Municipal da Horta, 1989.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Ernesto Rebelo (1982), "Notas açorianas. Escriptores e homens de lettras". In Arquivo dos Açores. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, IX: 33-34, 1887.
  • Fernando Faria Ribeiro (2007), Em dias passados. Figuras, instituições e acontecimentos da história faialense. Horta : Núcleo Cultural da Horta.
  • Marcelino Lima (1943), Anais do Município da Horta. Vila Nova de Famalicão, Oficinas Gráficas Minerva.
  • Pedro da Silveira (1977), Antologia de Poesia Açoriana do século XVIII a 1975. Lisboa, Sá da Costa.
  • Pedro da Silveira (1998), "Sobre a Horta como centro literário: uma proposta de estudo". In O Faial e a periferia açoriana nos séculos XV a XX, Horta, Núcleo Cultural da Horta: 597-602.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]