Merendera montana

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaMerendera montana
Colchicum montanum
Colchicum montanum
Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Liliales
Espécie: M. montana
(L.)
Nome binomial
Colchicum montanum
Merendera montana

A Merendera montana (Lange), comummente conhecida como noselha[1], é uma espécie de planta com flor geófita[2][3], pertencente à família Colchicaceae.

Trata-se de uma planta bolbosa, amplamente endémica da Península ibérica.[4]

Nomes comuns[editar | editar código-fonte]

Além de «noselha»[5], dá ainda pelos seguintes nomes comuns: cólchico-menor[6], quita-merendas[7][5] (também grafado quita-merenda[8]) e merendera[9][10].

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Do que respeita à etimologia do primeiro nome, este aparenta tratar-se duma corruptela regional da palavra «noz», que nas regiões do Douro fora usada, em tempos remotos, para aludir aos bolbos de certas plantas, dando origem, por homofonia, ao nome «nozelha»[11], que diz respeito à espécie Monizia edulis .[12]

Os últimos dois nomes terão origens espanholas, sendo que em inúmeras regiões de Espanha, a planta exibe nomes alusivos à merenda.[13] Tal facto fica a dever-se à época de floração da noselha, que ocorre já durante o Outono, altura em que a diminuição do número de horas de sol durante o dia, implicava a supressão da refeição da merenda. Assim, a flor foi crismada «quita-merendas» (lit. tira merendas; saca merendas), pelo seu florescimento aludir ao Outono e ao fim da altura do ano em que se poderia merendar.[13]

Características[editar | editar código-fonte]

É uma planta perene, que mede entre 5 e 15 centímetros de altura.[14] As Folhas são basais, lineares, acanaladas e glabras. Quanto ao seu tipo fisionómico, é um geófito bolboso, cujas folhas começam a despontar no Outono, seguindo-se a floração. As folhas mantêm-se verdes até à Primavera, sendo que assim que chega o Verão caem.[10]

Toda as partes desta planta contêm um alcaloide tóxico chamado colchicina, se bem que este se apresenta em maiores concentrações nas folhas, pelo que é graças a ele que, durante o período vegetativo, a noselha consegue arredar os herbívoros da superfície de ao pé de si.[4]

As flores são solitárias, hermafroditas e actinomorfas, exibindo entre 6 a 7 pétalas, sendo que as anteras dos estames são mais compridas do que os filamentos.[4] O gineceu possui 3 carpelos soldados.[14]

Floresce no Outono, entre Setembro e Novembro[3], se bem que espécimes mais lampas podem já florescer em finais de Agostos entre as sabinas.[10]

Quanto ao seu fruto, trata-se duma cápsula.[10]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Ocorre em Portugal , Espanha e no Sudoeste de França junto aos Pirenéus.[4][10]

Portugal[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie presente no território português, nomeadamente em Portugal Continental.[14] Mais concretamente, nas zonas do Noroeste Ocidental, do Noroeste montanhoso; da Terra Quente e da Terra Fria transmontanas; do Centro-Norte; do Centro-Oeste calcário; do Centro-Oeste olissiponense; do Centro-Oeste cintrano e do Centro-Sul arrabidense.[3]

Em termos de naturalidade é nativa da região atrás referidas.

Habitat[editar | editar código-fonte]

A noselha prefere os ambientes serranos, zonas sáfaras, abixeiras e húmidas, a altitudes que medeiem os 900 metros e os 2 quilómetros e meio de altura.[2]

Também tem tendências ruderais, pelo que pode medrar nas margens de caminhos pedregosos de montanha.[10]

Solos[editar | editar código-fonte]

Os sítios com maior densidade de bolbos costumam ser zonas com expressiva presença de ratos-toupeira (Microtus duodecimcostatus), pelo que há alguns autores[15] que sugerem que pode haver uma relação cooperativa entre ambas as espécies. Os ratos-toupeira alimentam-se da parte subterrânea da noselha, que é, por sinal, bastante menos tóxica, o que, por seu turno activa processos de reprodução assexual nas noselhas, que não se observam em pastos imperturbados pelos ratos-toupeira.[15]

Farmacologia[editar | editar código-fonte]

Trata-se duma planta tóxica, sendo certo que, apesar de todas as partes da planta conterem a colchicina, aquela que tem o teor e a quantidade menos substancial é o bolbo.[4] Por conseguinte, é tida por uma espécie imprópria para o consumo humano.[8]

No reverso desta medalha, à noselha também são reputadas propriedades medicinais, mormente pelas suas aplicações anti-inflamatórias e antiartríticas.[8]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

Sinonímia[editar | editar código-fonte]

  • Colchicum montanum L . [14]
  • Syn , (M. bulbocodium Ram., o M. pyrenaica Auct.).
  • Merendera bulbocodioides Willd., Mag. Neuesten Entdeck. Gesammten Naturk. Ges. Naturf. Freunde Berlin 2: 27 (1808), nom. superfl.
  • Bulbocodium montanum (L.) Heynh., Alph. Aufz. Gew.: 81 (1846), nom. illeg.
  • Merendera montana (L.) Lange in M.Willkomm & J.M.C.Lange, Prodr. Fl. Hispan. 1: 193 (1862).
  • Colchicum pyrenaicum Pourr., Mém. Acad. Sci. Toulouse 3: 316 (1788).
  • Merendera bulbocodium Ramond, Bull. Sci. Soc. Philom. Paris 2: 178 (1801).
  • Geophila pyrenaica Bergeret, Fl. Basses-Pyrénées 2: 184 (1803).
  • Colchicum bulbocodioides Brot., Fl. Lusit. 1: 597 (1804).
  • Colchicum hexapetalum Pourr. ex Lapeyr., Hist. Pl. Pyrénées, Suppl.: 51 (1818), pro syn.
  • Bulbocodium lusitanicum Heynh., Alph. Aufz. Gew.: 81 (1846), nom. superfl.
  • Bulbocodium colchicoides Nyman, Syll. Fl. Eur.: 379 (1855), nom. superfl.
  • Merendera montana var. bulbocodioides (Brot.) Lange in M.Willkomm & J.M.C.Lange, Prodr. Fl. Hispan. 1: 193 (1862).
  • Merendera bulbocodium var. bulbocodioides (Brot.) Baker, J. Linn. Soc., Bot. 17: 441 (1879).
  • Bulbocodium broteroi Welw. ex Baker, J. Linn. Soc., Bot. 17: 441 (1880), pro syn.
  • Merendera montana subsp. bulbocodioides (Brot.) K.Richt., Pl. Eur. 1: 189 (1890)
  • Bulbocodium pyrenaicum (Pourr.) Samp., Herb. Portug.: 27 (1913).
  • Merendera pyrenaica (Pourr.) P.Fourn., Quatre Fl. France: 157 (1935).
  • Merendera gredensis Caball., Anales Jard. Bot. Madrid 5: 512 (1945).
  • Merendera montana var. gredensis (Caball.) Rivas Mart., Anales Inst. Bot. Cavanilles 21: 280 (1963).
  • Merendera bulbocodium f. alba Q.J.P.Silva, Agron. Lusit. 34: 182 (1972 publ. 1973).[16]

Referências

  1. Infopédia. «noselha | Definição ou significado de noselha no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 16 de outubro de 2021 
  2. a b «Flora-On | Flora de Portugal». flora-on.pt. Consultado em 20 de março de 2021 
  3. a b c «Merendera montana». Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consultado em 17 de março de 2020 
  4. a b c d e Persson, K. (2007). Nomenclatural synopsis of the genus Colchicum (Colchicaceae), with some new species and combinations. Leipzig: Botanische Jahrbücher für Systematik, Pflanzengeschichte und Pflanzengeographie. pp. 165–242. ISSN 1869-6155 
  5. a b «Jardim Botânico UTAD | Espécie Merendera montana». Jardim Botânico UTAD. Consultado em 3 de junho de 2024 
  6. «Flora Iberica. Vascular plants of the Iberian Peninsula and Balearic Islands». www.floraiberica.es. Consultado em 21 de março de 2021 
  7. Infopédia. «quita-merendas | Definição ou significado de quita-merendas no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 21 de março de 2021 
  8. a b c O que procurar no Outono: a quita-merenda, por Carine Azevedo, Wilder, 15.10.2021
  9. S.A, Priberam Informática. «merendera». Dicionário Priberam. Consultado em 21 de março de 2021 
  10. a b c d e f Castroviejo, S. (1986–2012). «Merendera montana» (PDF). Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid. p. 98-99. Consultado em 17 de março de 2020 
  11. Infopédia. «nozelha | Definição ou significado de nozelha no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 21 de março de 2021 
  12. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de nozelha». aulete.com.br. Consultado em 21 de março de 2021 
  13. a b «Las 'quitameriendas' y el origen de su curioso nombre». La Gaceta de Salamanca (em espanhol). 2 de setembro de 2015 
  14. a b c d Webb, D. A. (1964). Flora Europaea: Alismataceae to Orchidaceae (Monocotyledones) (em inglês). Cambridge: Cambridge University Press. pp. 1–452 
  15. a b D. Gómez, J. Azorín, J. Bastida, F. Viladomat& C. Codina (2003): Seasonal and spatial variations of alkaloids in Merendera montana in relation to chemical defense and phenology. J. Chemical Ecol. 29(5): 1117-1126
  16. «Colchicum montanum». Royal Botanic Gardens, Kew: World Checklist of Selected Plant Families. Consultado em 11 de Janeiro de 2010 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]