Minas & Armadilhas

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Minas & Armadilhas
Informação geral
Origem Lisboa
País Portugal Portugal
Gênero(s) Punk rock
Período em atividade 19781979
Integrantes Paulo Borges
Paulo Ramos
Zé Eduardo
Peter Machado †

Minas & Armadilhas foi uma das primeiras bandas portuguesas de punk rock, formada em Lisboa, em 1978. Tiveram um percurso efémero e não deixaram qualquer registo discográfico.

Considerados uns dos precursores do estilo, eram formados por Paulo Borges (vocal), Paulo Ramos (guitarra), Zé Eduardo (baixo) e Peter Machado (bateria). Composições simples e sonoridade rápida e directa com influência de bandas como os Clash ou Sex Pistols. Durante a sua curta passagem mantiveram-se fiéis aos valores da cultura punk.

História[editar | editar código-fonte]

Despertar do punk em Portugal[editar | editar código-fonte]

O movimento associado à cultura punk surgiu na segunda metade de 1970, nos Estados Unidos e no Reino Unido, inserido no contexto de plena crise económica nos anos da Guerra Fria. Sob estas influências, os Minas & Armadilhas decidiram aderir aos valores da Contracultura numa atitude de revolta contra o rock progressivo dos Yes, Genesis, Pink Floyd, entre outros, e contra o marasmo social da época: betos, queques, hippies e freaks da sociedade portuguesa do pós-25 de Abril. De facto, a Revolução de Abril funcionou como um catalisador de vontades, de reivindicações e de manifestações, e nesse âmbito foi favorável ao eclodir das primeiras manifestações punks em Portugal. O movimento punk era caracterizado pelo princípio de autonomia do 'faça-você-mesmo', com um estilo baseado na música, roupa e comportamento, sobretudo de rebeldia contra o sistema.[1][2]

"O perigo alastrou repentinamente e todo o mundo se pode muito bem ver incapaz de domar ou montar, seja de que maneira for, a onda! Saiu o 1º single punk prensado em Portugal. (…) "Get a Grip on Yourself" e "London Lady", os dois títulos, são amostras poderosas da música dos Stranlgers, se não completamente esclarecedoras, pode-se mesmo assim apontar como de muita importância."

– António Sérgio fala da importância que a música punk teve na sociedade.[3]

Mas não foi fácil a entrada do punk rock na sociedade portuguesa. Só em Dezembro de 1977, o radialista António Sérgio assinalava na revista Música & Som o lançamento do primeiro single punk prensado em Portugal: "(Get A) Grip (On Yourself)", dos Stranglers.[4] Foi no seu programa "Rotação", na Rádio Renascença, que António Sérgio deu a conhecer, entre 1977 e 1980, o novo estilo musical, pese embora algumas limitações editoriais. O primeiro evento público de punk em Portugal aconteceu, em Fevereiro de 1978, no Archote Clube, no Arco do Cego em Lisboa, numa organização de António Sérgio, Joaquim Lopes e José Guerra, que contou com passagens comentadas de vários discos de bandas de punk rock inglesas, americanas e francesas. As notícias sobre actuações de bandas punk nacionais começaram a aparecer através de fanzines e, timidamente, pela revista Música & Som nos números de Maio e Junho de 1978, em que noticiou os concertos dos Faíscas no pavilhão de Os Belenenses e dos Aqui d’el-Rock no Clube Atlético de Campo de Ourique.[3] A edição de fanzines tornou-se uma espécie de autopromoção das bandas, sendo a principal forma de comunicação, pois o rock não era totalmente divulgado em Portugal pelas rádios, jornais ou televisão. O movimento punk, como qualquer outra tribo urbana, tem necessidade de promoção e divulgação dos projectos que desenvolve e foi aqui que a criação de fanzines encontrou o seu propósito.[5]

Os elementos dos Minas & Armadilhas SARL (como também se chegaram a denominar) enquadravam-se nos pequenos grupos heterogéneos de jovens radicais, que mantinham contactos com as novidades inglesas (discos, roupas, etc), e foi nesses grupos sociais que se identificou a vontade de ser punk. Eram estudantes de artes, músicos tanto da classe operária como da classe média e jornalistas aborrecidos com o que o rock se tinha tornado. Primeiro, os Aqui d’el-Rock, e depois os Faíscas, Minas & Armadilhas, Raios e Coriscos, UHF e Xutos & Pontapés, procuraram seguir os valores da cultura punk.[6]

Formação e fim da carreira[editar | editar código-fonte]

Paulo Borges e Paulo Ramos conheceram-se no Liceu Gil Vicente e voltaram a encontrar-se na Faculdade de Letras, em 1978, quando resolveram criar uma banda que desse continuidade ao seu gosto musical. Ouviam Sex Pistols, Clash, Damned, Television e Dr. Feelgood. Borges ficou como vocalista e escreveu as letras enquanto Ramos compôs os temas e ocupou-se da guitarra. O nome ficou Minas & Armadilhas. Ao núcleo inicial juntaram-se Zé Eduardo (baixo) e Peter Machado (bateria). Os ensaios eram na casa de Ramos ou na sala da Senófila. No dia 5 de Maio de 1979 realizaram o primeiro concerto no Liceu D. Pedro V, em Lisboa, juntamente com as bandas Raios e Coriscos, Xutos & Pontapés e Aqui d’el-Rock. O jornalista Pedro Ferreira escreveu na revista Música & Som:

As bandas que em Portugal emergiam do punk mostravam que também aqui era possível fazer música apenas com duas guitarras, uma bateria e um microfone, valorizando o poder da redução do rock aos dois ou três acordes essenciais. No dia 3 de Junho de 1979 marcaram presença no "Festival Antinuclear – Pelo Sol" no Parque Eduardo VII, em Lisboa, com UHF, Trovante, Rão Kyao, Pedro Barroso, Vitorino, Fausto, Jorge Palma, entre outros.[8] A actuação ficou marcada pelo incêndio no amplificador do baixo de Zé Eduardo, que tinha sido emprestado pelos UHF, e que condicionou as actuações das restantes bandas. Faziam a sua própria divulgação distribuindo a fanzine "Estado de Sítio", editada pelo vocalista Paulo Borges – que publicou pelo menos seis números ao longo do ano de 1978 – sobre notícias da música punk e informação da actividade da banda.[5]

Ainda em 1979, em Agosto, fizeram a primeira parte de dois concertos dos Xutos & Pontapés, um no antigo Casino de Santa Cruz e, o mais marcante, na Praça de Touros de Vila Viçosa, onde também actuaram os UHF. Paulo Borges lançou fogo a um jornal e insuflou um discurso que aborreceu as convicções locais. Corridos do palco, e perante tamanha confusão, a organização fugiu com o dinheiro e não pagou o cachet às bandas. O material de som, óptimo para a época, tinha sido cedido pelos Tantra.[9] O concerto teve imagens captadas pelo canal RTP, que se julga terem sido perdidas.[10]

O último concerto foi realizado, em Outubro de 1979, na Sociedade Filarmónica Alunos de Apolo. O guitarrista João Cabeleira ocupou o lugar de Paulo Ramos que tinha deixado o grupo poucos meses antes. À semelhança dos Faíscas e dos Raios e Coriscos, os Minas & Armadilhas terminaram a carreira sem gravarem a música que produziram.[6]

Membros[editar | editar código-fonte]

Integrantes [11]
Convidados
  • João Cabeleira – Guitarra eléctica (substituiu Paulo Ramos em 1979)
  • Jojó Benzovak – Guitarra solo (apenas no concerto no LIceu D. Pedro V)

Reconhecimento[editar | editar código-fonte]

Entre os principais temas, destacam-se "MInas & Armadilhas p'ra Tudo Rebentar" e o emblemático "Lisboa a Arder" – escrito por Paulo Borges e musicado por Paulo Ramos – enaltece a cultura punk, numa crítica à cidade de Lisboa que, apesar de cosmopolita, encontrava-se parada no tempo: "Ouves discos em casa/ Vagueias pelas ruas/ De revoltado não tens nada/ Que paixões são as tuas?/ Andas a estagnar/ Afundas-te em boa ordem/ Aprende a delirar/ Toma o gosto pela desordem/ Estou farto de castrados/ Estou farto de flipados/ Quero algo para fazer/ Quero ver Lisboa a arder!", diz o trecho da canção.
Em 2017, a banda de punk rock Patrulha do Purgatório, homenageou os Minas & Armadilhas com uma versão de "Lisboa a Arder" no álbum Pede a Deus que Te Mate e ao Diabo que Te Leve.[12] O disco recupera dez temas há muito esquecidos e para muitos desconhecidos, e outros nunca gravados. É um tributo a dez bandas pioneiras do punk rock português.[13]

Referências

  1. «Mudar a mente, mudar o mundo». Revista Progredir. 2012. Consultado em 11 de Novembro de 2017 
  2. Nuno Ribeiro (18 de Março de 2015). «A um Passo da Loucura». Arte Sonora. Consultado em 9 de Novembro de 2017 
  3. a b Paula Guerra (15 de Janeiro de 2014). «Génese do punk em Portugal». Keep it Simple, Make it Fast–Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Consultado em 23 de Dezembro de 2017 
  4. «Grip / London Lady (Single)». Discogs. Consultado em 23 de Dezembro de 2017 
  5. a b Pedro Quintela (2013). «As cenas punk em Portugal (1977-2012)». Faculdade Economia da Universidade de Coimbra: 9. Consultado em 23 de Dezembro de 2017 
  6. a b Paulo Bettencourt Lemos (Outubro de 2011). «A Importância do Punk em Portugal» (PDF). Faculdade de Letras–Universidade de Coimbra: 33. Consultado em 9 de Novembro de 2017 
  7. «Por não querer nem governo nem Estado. Para uma narrativa política dos 35 anos dos Xutos–Dantes, o tempo corria lento». Esquerda Net. 9 de Março de 2014. Consultado em 23 de Dezembro de 2017 
  8. M. Ribeiro 2014, pp. 219–222
  9. M. Ribeiro 2014, p. 237
  10. André Almeida Santos (1 de Novembro de 2017). «Entre 1978 e 1988, o que fez o punk por aqui?». Observador. Consultado em 23 de Dezembro de 2017 
  11. «Fotografias concerto Minas & Armadilhas (Liceu D.Pedro V, Lisboa, 1979)». Arquivo Punk–Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Consultado em 23 de Dezembro de 2017 
  12. «Pede a Deus que Te Mate e ao Diabo que Te Leve (CD)». Discogs. Consultado em 23 de Dezembro de 2017 
  13. «Patrulha do Purgatorio + Enterrado na Loucura–Punk em Portugal!». Viral Agenda. Consultado em 30 de Dezembro de 2017 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • M. Ribeiro, António (2014). Por Detrás do Pano. Avenida da Liberdade 166 1º andar 1250-166 Lisboa: Chiado Editora. 337 páginas. ISBN 978-989-51-2692-7 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]