Morella (conto)

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Love and Pain (Vampire), pintura de Edvard Munch, em exibição no Munch Museum.

"Morella" é um conto do gênero de horror gótico escrito pelo autor e crítico americano do século XIX, Edgar Allan Poe. O conto foi publicado pela primeira vez na edição de abril de 1835 do Southern Literary Messenger, e uma versão revisada foi reimpressa na edição de novembro de 1839 do Burton's Gentleman's Magazine. A primeira publicação incluía um poema de 16 linhas de Poe chamado "Hymn", cantado por Morella, posteriormente publicado como um poema independente intitulado "A Catholic Hymn".[1]

Resumo do conto[editar | editar código-fonte]

Um narrador sem nome se casa com Morella, uma mulher altamente instruída que se dedica aos estudos dos filósofos alemães Fichte e Schelling, explorando a questão da identidade. Morella passa seu tempo na cama lendo e ensinando seu marido. Ao perceber o declínio físico dela, o narrador fica assustado e deseja a morte de sua esposa para que ela possa encontrar paz eterna. Eventualmente, Morella morre durante o parto, declarando: "Estou morrendo. Mas dentro de mim está o vínculo desse amor... que tu sentias por mim, Morella. E quando meu espírito partir, a criança viverá."

Conforme a filha cresce, o narrador percebe uma semelhança assustadora com sua mãe, mas ele se recusa a dar um nome à criança. Aos dez anos, a semelhança com Morella é perturbadora. Seu pai decide batizá-la para libertá-la de qualquer mal, mas esse evento traz a alma da mãe de volta para sua filha. Durante a cerimônia, o padre pergunta o nome da filha e o narrador responde "Morella". Imediatamente, a filha exclama: "Estou aqui!" e morre. O narrador mesmo leva seu corpo ao túmulo e não encontra nenhum vestígio da primeira Morella; ali, sele sepulta a segunda.

Análise[editar | editar código-fonte]

Os principais elementos literários abordados na obra são a busca pela eternidade, o amor não correspondido, a admiração que traz à tona sentimentos ruins e o desejo de morte. [2]

O crítico literário J. Gerald Kennedy analisa que a escolha do narrador de nomear sua filha como Morella sugere o desejo subconsciente dele pela morte dela, assim como ele fez com a mãe.[3] O poeta Allen Tate sugeriu que o renascimento de Morella pode ser sua transformação em uma vampira para se vingar do narrador. [4] A morte, no conto, não desperta medo: o que causa espanto é a perda da personalidade após a morte. Morella, ao dar à luz à sua filha, não encerra o ciclo da morte, mas o faz renascer. [5]

Poe explora a ideia do que acontece com a identidade após a morte, sugerindo que se ela sobrevivesse à morte, poderia então existir fora de um corpo e retornar à outro.[6] O autor foi influenciado, em parte, pelas teorias de identidade de Friedrich Wilhelm Joseph Schelling, a quem ele menciona na história.[7]

Adaptações[editar | editar código-fonte]

"Morella" é o título de um dos segmentos do filme "Tales of Terror" de 1962, dirigido por Roger Corman. O filme conta com Vincent Price, Peter Lorre e Basil Rathbone no elenco. A história também foi adaptada livremente como "Morella: O Espírito Satânico" de 1990, dirigido por Jim Wynorski.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Poe, Edgar Allan (1 de nov. de 2003). Ingram, John Henry, ed. The Complete Poetical Works of Edgar Allan PoeIncluding Essays on Poetry. [S.l.: s.n.] 
  2. Santos, Jorge Lucas Marcelo dos (29 de abril de 2021). «O conto "Morela", de Edgar A. Poe à luz da semiótica greimasiana e suas interfaces com o imaginário durandiano.». Porto das Letras (especial): p. 19. ISSN 2448-0819. Consultado em 30 de abril de 2024 
  3. Kennedy, J. Gerald. "Poe, 'Ligeia', and the Problem of Dying Women" collected in New Essays on Poe's Major Tales, edited by Kenneth Silverman. Cambridge University Press, 1993. p. 119. ISBN 0-521-42243-4
  4. Tate, Allen. "Our Cousin, Mr. Poe," collected in Poe: A Collection of Critical Essays, Robert Regan, editor. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall Inc., 1967. p. 39
  5. Silva, Ana Maria Zanoni da (2015). «A fantástica configuração da morte em Poe: uma leitura de "Morella", "Ligéia" e "Eleonora"». Revista de Letras (2). ISSN 1981-7886. Consultado em 30 de abril de 2024 
  6. Morella Arquivado em 2008-06-28 no Wayback Machine
  7. Campbell, Killis. The Mind of Poe and Other Studies. New York: Russell & Russell, Inc., 1962: 13.
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