Roberto Nunes Morgado

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Roberto Nunes Morgado
Nascimento 1946
Morte 26 de abril de 1989 (43 anos)
São Paulo (SP)
Nacionalidade brasileiro
Ocupação contador e árbitro
Filiação FPF e CBF

Roberto Nunes Morgado (1946São Paulo, 26 de abril de 1989) foi um contador[1] e árbitro brasileiro.[2]

Polêmico, gostava de chamar a atenção durante os jogos[3] e assumidamente imitava o estilo espalhafatoso de Armando Marques.[1] Com 1,71 metro e apenas 59 kg,[4] e adepto de indicações exageradas dos lances, ficou conhecido como "Pantera Cor-de-Rosa".[3]

Em um jogo entre Vasco e Ferroviário[4] pelo Campeonato Brasileiro de 1983, expulsou a Polícia Militar de campo (usando o cartão vermelho),[1] o que fez com que a Comissão Brasileira de Arbitragem exigisse um exame de sanidade mental do árbitro.[3] Levava o episódio na brincadeira: "Agora, sou o único juiz da praça que tem atestado de sanidade mental."[1] Ele tinha sido internado em uma clínica no ano anterior, com problemas psicológicos, e voltaria a ser internado em 1983 e em 1985.[5] Também ficara afastado da reta final do Campeonato Paulista de 1978, ao ser esfaqueado por dois assaltantes, justamente quando era o árbitro que mais tinha apitado no torneio.[6]

Foi capa de uma edição da revista Placar em novembro de 1984, ilustrando a chamada "Juiz: santo ou ladrão?".

O último jogo que apitou foi a segunda semifinal do Campeonato Paulista de 1987, entre São Paulo e Palmeiras, quando expulsou quatro palmeirenses e foi bastante criticado.[5] "É pena que o Morgado tenha arrumado toda aquela palhaçada", reclamou Nélson Duque, presidente do Palmeiras.[7] Acabou vetado para o Campeonato Brasileiro daquele ano ao não alcançar nota mínima em uma prova por escrito da Comissão Brasileira de Arbitragem de Futebol.[8] Em fevereiro do ano seguinte, foi internado no Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, com AIDS.[5] Abandonado pelos amigos e pela esposa,[4] morreu um ano depois.

Homossexual assumido, ficou famoso por frequentar seguidamente a boca do lixo paulistana ao lado de um grupo de amigos. No entanto, viu a turma se afastar rapidamente quando foi detectado que era portador do vírus HIV.[9] Faleceu esquecido em um leito de hospital, distante até mesmo de sua família.

Sobre seu enterro, o jornalista Dalmo Pessoa contaria, em 2015: "Um dirigente de um grande clube foi visitar o Morgado. Levou uma mala cheia de dinheiro. Queria que ele roubasse no jogo do domingo seguinte. Morgado mostrou a casa para o dirigente. Casa muito pobre, ele vivia com o pai, bem velho. Disse que era pobre e honrado e que não aceitava dinheiro algum. Quando ele morreu, eu fiz um discurso no túmulo e contei essa história. Foi um homem de bem."[10]

Referências

  1. a b c d "Coisa de louco", Ari Borges, Lemyr Martins, Maria Helena Araújo, Divino Fonseca, Roberto José da Silva, Sérgio Augusto Carvalho e Lenivaldo Aragão, Placar número 756, 16 de novembro de 1984, Editora Abril, págs. 26-31
  2. "Pantera Cor-de-Rosa": famoso juiz dos anos 80 morreu esquecido com HIV UOL Esportes
  3. a b c Enciclopédia do Futebol Brasileiro Lance!, Areté Editorial, 2001, pág. 494
  4. a b c "O drama de um aidético", Alfredo Ogawa, Placar 35 Anos — Coleção de Aniversário número 3, "As Grandes Reportagens", junho de 2005, Editora Abril, págs. 54-55, publicada originalmente em 1988
  5. a b c "O drama de um juiz com Aids", Kássia Caldeira, Placar número 933, 22 de abril de 1988, Editora Abril, pág. 54
  6. «Azar tira Morgado deste campeonato!». São Paulo: Diário Popular. Popular da Tarde (3 593): 6. 22 de maio de 1979 
  7. "O São Paulo do São Pita", Marcelo Laguna, Mário Sérgio Venditti e Nelson Urt, Placar número 900, 31 de agosto de 1987, pág. 25
  8. "A Semana", Placar número 901, 7 de setembro de 1987, Editora Abril, pág. 9
  9. Um outro árbitro que cabe destaque em nossas reflexões é Roberto Nunes Morgado Universidade Federal de Goiás
  10. «Comentarista salvou amigo da ditadura e sofre com descaso do 'Mesa Redonda'». UOL. 5 de março de 2015. Consultado em 13 de julho de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]