Usuário(a) Discussão:Girino/Raças Humanas
Adicionar tópicoAcho que tivemos a mesma idéia... - Al Lemos 20:38, 7 Maio 2007 (UTC)
Em stricto sensu, não haveria por que se falar em raças humanas. Este conceito, agora desacreditado nos círculos científicos, era popular no século XIX, mas perdeu todo o interesse heurístico face ao desenvolvimento da genética na segunda metade do século XX.
Histórico[editar código-fonte]
Ainda que no passado os homens, sensíveis às diferenças visíveis entre os seres humanos os tenham classificado em grupos, o conceito de divisão por cor da pele e a noção de "raça", entendida em termos biológicos, é bastante tardio. Pertence a um período inicial da ciência moderna e deriva da prática de classificação em espécies e subespécies, as quais inicialmente só eram aplicadas a vegetais e animais (Lineu, século XVII). É somente no século XIX que se começa a falar de raças dentro da espécie humana.
Foi o Conde de Gobineau que popularizou, em meados do século XIX, um novo significado, em seu ensaio racista Essai sur l'inégalité des races humaines ("Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas", 1853-1855), no qual toma partido a favor da tese poligenista segundo a qual a humanidade poderia ser dividida em várias raças distintas, as quais seriam, outrossim, passíveis de serem tratadas numa base hierárquica.
O racialismo ou racismo científico, tornou-se a partir daí a ideologia predominante nos meios eruditos, na antropologia física etc, em conjunto com o evolucionismo, com o darwinismo social e com as teorias eugênicas desenvolvidas por Francis Galton. A tentativa de prover um discurso científico para os preconceitos racistas (aquilo que Canguilhem denominaria "ideologia científica”), seria fortemente desacreditado após o genocídio dos judeus da Europa praticado pela Alemanha Nazista.
A segmentação artificial em "raças humanas” disseminou-se amplamente na época do nacionalismo inflamado, que deu lugar à proclamação de ideologias racistas em nome da ciência. Certos trabalhos, tais como o Dictionnaire de la bêtise et des erreurs de jugement, de Bechtel e Carrière, mostra que estes preconceitos eram exercidos simultaneamente entre vários países europeus. Médicos franceses, por exemplo, "explicavam” que os [{Alemanha|alemães]] urinavam pelos pés!
Na segunda metade do século XX, esta idéia foi pouco a pouco sendo abandonada sob três influências: ambigüidade do termo e ausência de base científica (demonstradas graças ao avanço da biologia e da genética); papel desempenhado por estas idéias nos quinze anos do regime nazista; obras de Claude Lévi-Strauss e Franz Boas, os quais transformaram a antropologia e lançaram luz sobre os fenômenos do etnocentrismo inerentes à toda cultura.
Em meados dos anos 1950, a UNESCO recomendou que o conceito de "raça humana", não-científico e que levava à confusão, fosse substituído por grupos étnicos, o qual insiste fortemente nas dimensões culturais dentro da população humana (língua, religião, costumes, hábitos etc). Todavia, as tentativas racistas persistem, como bem o demonstram os recentes debates sobre a publicação de "The Bell Curve” (1994), de Richard Herrnstein e Charles Murray, que afirmam ter estabelecido uma correlação científica entre "raça” (no caso, negros e brancos) e inteligência.
Estes preconceitos racistas são também encontrados entre certos partidários da sociobiologia, que visam demonstrar a origem genética dos comportamentos sociais e dentro da nova direita francesa[1].
Hoje em dia, o termo continua a alimentar debates "à volta" da biologia, embora os cientistas prefiram o conceito de população para qualificar um grupo humano, seja ele qual for. Tende também a desaparecer de outras ciências, como antropolgia e etnologia, em favor da noção predominantemente cultural de grupo étnico. Se falará, assim, de populações geográficas em biologia e diferenças entre culturas em antropologia e etnologia. O conceito de raça não possui hoje, 2007, nenhuma utilidade no que toca à humanidade. No entanto, continua a ser empregado no mundo anglo-saxão e não desapareceu completamente do texto legislativo francês. Isto põe em questão o fenômeno da "raça" enquanto construção social, problema que está no âmago dos race studies feitos nos Estados Unidos (estudos relacionados às críticas ao pós-colonialismo) e aos gender studies (que estudam o gênero como uma construção social).
Notas[editar código-fonte]
Ligações externas[editar código-fonte]
[[Categoria:Racismo]] [[Categoria:Pseudociência]] [[Categoria:Antropologia]]