Valhalla88

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Valhalla88
Nomes anteriores Nazista Sul88/Valhalla
Requer pagamento? não
Gênero neonazismo
revisionismo histórico
ativismo político
País de origem  Brasil
Lançamento 1997
Extinção 2007
Sede Argentina
Santa Catarina
Estado atual desativado

Valhalla 88, ou Nazista Sul88/Valhalla, criado em 1997, foi o maior site brasileiro e um dos maiores do mundo sobre revisionismo nazista. Ele foi derrubado pela Polícia Federal em 2007. O site possuia conexões próximas com outros sites neonazistas internacionais e mantinha um estreito relacionamento com o movimento Poder Branco. Em outubro de 2003, figurou em 47 no ranking top 100 Nationalist and Revisionist Sites, contando com 3.466 acessos naquele ano. O grupo foi definido pelo Ciudad Libre de Opinión, site que hospedava o Valhalla88, como sendo skinheads Nacional-Socialistas.[1]

Nome[editar | editar código-fonte]

Valhalla é um salão onde os que tiveram uma morte heróica se preparam para o fim do mundo. A mitologia nórdica é comumente usada como simbolismo por grupos neonazistas.[2] Já 88 é um apito de cachorro. Como a oitava letra do alfabeto é o "h", 88 significa "hail hitler".[3]

História[editar | editar código-fonte]

O website Nazista Sul88/Valhalla foi criado em 1997, com sede em Santa Catarina e tendo textos assinados por um usuário conhecido como Nacionalista 88. Se filiou à organização americana NSDAP/AO e se hospedou no prestigiado site neonazista argentino Ciudad Libre de Opinión, criado em 1999. Com o tempo, se tornou um dos maiores sites neonazistas do Brasil, chegando a uma média de 200 mil vizualizações diárias. Entre 2004 e 2005, passou a ser investigado pelo Ministério Público Federal e o Ministério Público do Rio Grande do Sul por pedido do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra e da Federação Israelita do Rio Grande do Sul e contando com a ajuda da Interpol. Em 2006, foi retirado do site argentino e criou seu próprio domínio, sendo conhecido desde então como Valhalla88. Ele foi fechado pela Polícia Federal a pedido da comunidade judaica em agosto de 2007, porém parte do material foi hospedado no site Nueva Orden.[1][4][5][6]

Conteúdo[editar | editar código-fonte]

Entre o conteúdo disponibilizado, estava o download de textos, imagens, cartazes, charges, postagens e músicas em mp3 de teor revisionista, incluindo a difusão de ideias de pessoas como Paul Rassinier, Robert Faurisson, Reverendo I. B. Pranaitis, Richard Harwood, Alfred Rosenberg, entre outros. Eles também divulgavam links para outros sites neonazistas, como o argentino Ciudad Libertad/Libre Opinión, o português Movimento Nacional Socialista do Atlântico, o espanhol Nueva Ordem, o site da Editora Revisão e os sites de música White Pride Records e Final Stand Records. O próprio site também vendia produtos neonazistas.[1]

Diferente dos grupos de skinheads e neonazistas, o site se propunha a ser sério e acadêmico. Eles defendiam que o nacional-socialismo sofreu uma série de injustiças por parte da mídia e da história oficial, argumentando que "nunca foi dado aos Nacional Socialistas o direito de defesa ou a oportunidade de um debate democrático e justo". Portanto o site seria responsável por divulgar os "verdadeiros" ideais do nazismo.[7] Eles também incentivavam o ativismo político em cédulas neonazistas com pelo menos cinco membros,[4] e instruiam o grupo sobre o que fazer e quais eram os locais e horários mais apropriados para agir. Entre as atividades, estava a difusão dos ideais do grupo ao espalhar panfletos e chamar a atenção da mídia. O site também instruia seus militantes que, se pegos pela polícia, deveriam dizer "não tenho nada a declarar", pois é melhor levar uns socos e pontapés do que passar anos na prisão.[1]

O grupo defendia ideias tipicamente nazistas e neonazistas, como a dominação do capital pelos sionistas, arianismo, segregação racial, darwinismo social e a negação do holocausto. Apesar disso, criticavam o nazismo tradicional por não se envolver com questões atuais, e se colocavam como uma alternativa. Eles consideravam a civilização ocidental, o capitalismo, o materialismo, a burguesia, o individualismo, o marxismo e o globalismo como seus inimigos. A solução para tais problemas seria a completa destruição do mundo moderno, que levaria ao chamado Ano Zero. O site também tentava se separar de outras ideologias, como o conservadorismo, defendendo que o nazismo é de esquerda por ter um caráter revolucionário. Apesar disso, pregavam a abolição de programas assistencialistas, a nacionalização de empresas e a implementação de um estado de bem-estar social apenas para nazistas. Apesar de não compactuar com grupos de direita, o site propunha uma aliança, desde que eles pregassem a destruição do sistema.[7]

A cultura ariana defendida pelo grupo, porém, não se trata do nazismo original, mas de um neonazismo trazido por imigrantes europeus e misturado com ideias tipicamente brasileiras. Entre as ideias inclusas no pensamento nazista está até mesmo o socialismo, onde o trabalhador é cooptado a se juntar ao grupo para derrubar a elite econômica. A mistura de ideias, no entanto, leva a um paradoxo, já que o nazismo é essencialmente capitalista.[7] Outro paradoxo é a negação do grupo em ser racista. Isso vem de uma distorção da ideia de raça, onde se acredita que a cultura e a superioridade racial são passadas pelo sangue.[8]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d SANTANA, Monica da Costa (2014). «NEONAZISMO NO CIBERESPAÇO DO BRASIL E DA ARGENTINA - análise comparada dos sítios Valhalla88 e Ciudad Libre Opinión (1997-2009)». Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós-Graduação em História Comparada. Consultado em 18 de outubro de 2022 
  2. Tom Birkett. «Far-right extremists keep co-opting Norse symbolism – here's why» (em inglês). The Conversation. Consultado em 18 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2022 
  3. «88 | Hate Symbols Database | ADL». www.adl.org (em inglês). Consultado em 18 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2022 
  4. a b SANTANA, Monica da Costa (2014). «História, extremismo político e apropriações do ciberespaço: análise comparada entre sítios Valhalla88 e Ciudad Libre Opinión (1999-2009)» (PDF). Anpuh-Rio. Anais do XVI Enocontro Regional de História da Anpuh-Rio: Saberes e Práticas Científicas. ISSN 978-85-65957-03-8 Verifique |issn= (ajuda). Consultado em 18 de outubro de 2022 
  5. Silva, Karla K. J.; Maynart, Dilton C. S. (2010). «Intolerância Digital: história, extrema-direita e cibercultura (1996-2009)». Scientia Plena (12(b)). ISSN 1808-2793. Consultado em 18 de outubro de 2022 
  6. André Bernardo, Giuliana de Toledo e Nathan Fernandes (23 de janeiro de 2018). «O extremista mora (no celular) ao lado». Revista Galileu. Consultado em 18 de outubro de 2022. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2022 
  7. a b c ANDRADE, Guilherme Ignácio Franco de (2015). «Valhalla 88: O nacional socialismo brasileiro e sua ideologia política». Universidade Federal do ABC. Revista Contemporâneos. 1 (13). ISSN 1982-3231. Consultado em 18 de outubro de 2022 
  8. ANDRADE, Guilherme Ignácio Franco de (2014). «O NACIONAL-SOCIALISMO DO GRUPO VALHALLA 88: A CONSTRUÇÃO DE UM MOVIMENTO NAZISTA NO BRASIL». Dossiê - Pensamento de Direita e Chauvinismo na América Latina. 19 (1): 18. doi:10.5433/2176-6665. Consultado em 18 de outubro de 2022