Jornal Pessoal

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Jornal Pessoal
Jornal Pessoal
Periodicidade Quinzenal
Sede Belém, PA
Slogan A Agenda Amazônica
Fundação 15 de setembro de 1987 (36 anos)
Fundador(es) Lúcio Flávio Pinto e Luiz Pinto

Jornal Pessoal, também conhecido como JP, é um periódico alternativo[1][2] editado pelo prestigiado[3] jornalista Lúcio Flávio Pinto e pelo também jornalista Luiz Pinto, irmão de Lúcio. Em suas categorias, de mídia alternativa e independente, é o mais longevo periódico brasileiro.[4]

Graças ao trabalho desenvolvido no Jornal Pessoal, de defesa da Amazônia brasileira[5], o jornalista, seu irmão e o seu periódico acumularam diversos prêmios nacionais e internacionais, dentre eles o International Press Freedom Awards (Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa) em 2005, dado pelo Comitê para Proteção dos Jornalistas, sendo a primeira vez que o Brasil ganharia tal honraria.[6]

A primeira edição saiu em 15 de setembro de 1987; sua manchete, sob o título "O caso Fonteles: um crime bem planejado", destacava a cobertura do assassinato do ex-deputado Paulo Fonteles.[7]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Antes de editar o "Jornal Pessoal", Lúcio aventurou-se em pelo menos duas outras oportunidades:

  • Jornal "Bandeira 3", que durou sete edições, todas no ano de 1975;
  • jornal "Informe Amazônico", com 12 edições, entre 1980 e 1981.[8]

O Jornal Pessoal surgiu porém em virtude de falta de espaço para publicar uma grande matéria investigativa. A maioria dos jornais paraenses, inclusive o maior deles, O Liberal, em pleno período democrático pós-ditadura negaram-se a publicar matérias sobre o assassinato do ex-deputado Paulo Fonteles.[9]. A principal alegação era o temor de represálias econômicas, visto que dois dos nomes envolvidos no caso como testemunhas, Francisco Joaquim Fonseca, do Grupo Jonasa, e Jair Bernardino de Souza, proprietário da empresa Belauto, eram anunciantes do jornal.[10]

Lúcio, a época jornalista do O Liberal e correspondente do Estado de S. Paulo[10], havia sido o repórter destacado para cobrir o caso, e não teve seu trabalho investigativo publicado pelo jornal O Liberal. Em virtude disso, sentiu-se ainda mais instigado a publicar a matéria.[11]

Como forma de compensar o grande trabalho que o jornalista havia feito na cobertura do caso, o jornal O Liberal cedeu seu parque gráfico para imprimir o volume 1 do Jornal Pessoal, totalmente de graça, com a única condição de não ser citado como a gráfica responsável.[12]

A matéria de capa do recém-fundado Jornal Pessoal veio com o título "O caso Fonteles: um crime bem planejado"; esta matéria lhe rendeu vários prêmios, inclusive um Prêmio FENAJ, no ano de 1988.[13]

Características[editar | editar código-fonte]

Se comparada a sua projeção, o Jornal Pessoal conta com uma redação modesta; é composta por Lúcio que é o redator e diretor, e seu irmão Luiz Pinto que trabalha como ilustrador/diagramador e o distribuidor. Ambos produzem as cópias do periódico em uma gráfica própria.[14]

Os irmãos Pinto reconhecem que o periódico tem "redação franciscana", em virtude da simplicidade do veículo informativo. O Jornal Pessoal tem aparência de um jornal estudantil; o seu formato é pequeno, equivalente a uma folha de papel ofício. Em 2012, ao comemorar 25 anos de existência, passou a ter edições de 16 páginas, depois de ter circulado por grande parte da sua história com 12. Outras características é que não usa cor, nem foto, exceto em suas seções memorialísticas, que abrigam imagens do passado. Suas ilustrações são charges.[15]

O JP nunca aceitou publicidade nem disponibiliza assinaturas. A renda para que continue editando vem comercialização da sua tiragem, de dois mil exemplares quinzenais, dos quais mil e seiscentos são vendidos em bancas de revista de Belém, capital do Pará.[15] Conta por vezes com doações vindas de anônimos e de campanhas de financiamento coletivo.[16]

Censura e violência[editar | editar código-fonte]

Por sua característica combatividade em relação às questões Amazônicas, em especial aos grandes grupos econômicos, o Jornal (e o jornalista Lúcio Flávio) respondem atualmente a 33 processos na justiça de Belém, a maioria com base na chamada Lei de Imprensa, de 1967.[17] São frequentemente citados no Jornal Pessoal as famílias Maiorana (e o grupo ORM), Sarney e Barbalho (e o grupo RBA), Lula (e o PT), Simão Jatene (e o PSDB), além da empresa mineradora Vale.[18][19]

Dos processos movidos contra o jornalista, 13 são de autoria de membros da família Maiorana, que vêm a ser os proprietários das Organizações Rômulo Maiorana (ORM), ao qual pertencem o jornal e a TV Liberal, esta afiliada à Rede Globo.[17] No dia 21 de janeiro de 2005, o jornalista foi agredido a socos e pontapés, em local público, por Ronaldo Maiorana e por dois policiais militares que trabalham ilegalmente como seguranças do empresário.[17][20] Os Maiorana foram patrões de Lúcio Flávio.[17]

Lúcio foi condenado a pagar indenização de R$ 8 mil (o que valia em 2012 perto de R$ 22 mil, incluindo custas e honorários advocatícios), referentes a uma ação por danos morais movida por Cecílio do Rego Almeida, fundador da C.R. Almeida, que é uma das maiores construtoras do país. Almeida, falecido em 2008, alegou na ação ter sido ofendido pelo jornalista, que o chamou de "pirata fundiário" em reportagem publicada em 1999 no Jornal Pessoal. O texto descrevia a apropriação ilegal por Almeida de quase 5 milhões de hectares de terras públicas no Vale do Rio Xingu, no Pará. Lúcio afirmou que foi "(...) condenado por falar a verdade." A grilagem das terras herdadas pelos filhos do fundador da empreiteira, foi anulado por uma decisão da Justiça Federal.[21]

Referências

  1. VELOSO, Maria do Socorro Furtado Veloso; AZEVEDO Junior, Aryovaldo de Castro; PAVAN, Maria Ângela; LIMA, Maria Érica de Oliveira Lima.. Pessoal: Modelo de imprensa contra-hegemônica na Amazônia brasileira. Lisboa: Observatorio/Scielo, 2011, v.5 n.2.
  2. NASCIMENTO, Mirian Alves do.. A Mídia Alternativa Possível no Brasil. In: WOITOWICZ, Karina Janz (org). Recortes da mídia alternativa: histórias e memórias da comunicação no Brasil. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2009. 312 p.
  3. Um dos heróis de Repórteres Sem Fronteiras - Observatório da Imprensa
  4. Sem citar fontes, o Blog "As Charges do Jornal Pessoal", mantido pelos irmãos Lúcio e Luiz Pinto, afirma o seguinte: "O mais antigo jornal independente do Brasil (...)". Disponível em: <2.bp.blogspot.com/-8VMtcB3ZNsE/T9s_emfa1SI/AAAAAAAAAx0/Q7aO834h4_o/s1600/Cabe%25C3%25A7alho.jpg>
  5. SILVA, Ruthane Saraiva da. Jornalismo alternativo na Amazônia: o discurso do desmatamento no Jornal Pessoal (1987-2012). 2013. 169 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos. Belém: Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, 2013.
  6. IPFA 2005 - Lucio Flavio Pinto - Committee to Protect Journalists
  7. Arquivo do Jornal Pessoal, 1ª quinzena de 1987. - University of Florida/George A. Smathers Libraries.
  8. PINTO, Lúcio Flávio. Primeira edição. Blog As Charges do Jornal Pessoal. 1º de junho de 2012.
  9. RABIN, Cláudio. Série Mongabay: Ecologistas ameaçados: A resistência do jornalista da Amazônia, apesar de décadas de ameaças e perseguição. Mongabay: 31 de março de 2016
  10. a b VELOSO, Maria do Socorro Furtado. Imprensa, poder e contra-hegemonia na Amazônia: 20 anos do Jornal Pessoal (1987-2007). Tese do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da USP. São Paulo: ECA/USP, 2008.
  11. AMORIM, C. R. T. C. Jornal Pessoal: o metajornalismo cidadão. - Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi/Scielo. Ciências Humanas, Belém, v. 3, n. 3, p. 401-408, set.- dez. 2008
  12. AMORIM, Célia Regina Trindade Chagas. Jornal Pessoal: um exemplo de resistência à censura na Amazônia. In: Universidade Estadual de Ponta Grossa. (Org.). Recortes da mídia alternativa: História & memórias da comunicação no Brasil. Paraná: UEPG, 2009, v. 1, p. 121-134
  13. VIEIRA, André. A Agonia de Lúcio Flavio: O jornalista Lúcio Flávio precisa sobreviver às ameaças dos políticos e empresários mais poderosos do norte do país. Revista Rolling Stone - Fevereiro de 2007
  14. MARQUES, R. S.; OLIVEIRA, A. S.. A Revolta Contra a Simetria das Informações: O Caso do Jornal Pessoal no Estado do Pará. In: Universidade Federal de Pernambuco. (org.). VII Seminário de Ciências Políticas e Relações Internacionais: Anais do Grupo de Trabalho "Eleições Comportamento Político". Recife: UFPE, 2013, p. 157-170
  15. a b PINTO, Luiz. Os 25 anos do JP. Blog As Charges do Jornal Pessoal. 22 de agosto de 2012.
  16. TAVEIRA, Caroline Gonçalves. Quem coloca a bunda em Caras não coloca a cara em Bundas – Um resgate da Imprensa Alternativa no Brasil. São Paulo: Revista Alterjor, 2014, Vol. 2, Nº 10.
  17. a b c d PINTO, L. F. Jornalismo na Selva. In: POMAR, P. E. R.. Mídia(s) No Brasil: O Poder dos Conglomerados e Múltiplos Contrapoderes. São Paulo: Revista Adusp, jan. 2008, nº42
  18. PINTO, Luiz. As primeiras charges. Blog As Charges do Jornal Pessoal. 1 de junho de 2012.
  19. As chages de 2003-2004 - Blog As Charges do Jornal Pessoal
  20. SEIXAS, Netília Silva dos Anjos; CASTRO Avelina Oliveira de.. Imprensa e poder na Amazônia: a guerra discursiva do paraense O Liberal com seus adversários. Bauru: Revista Comunicação Midiática, Vol. 9, No 1
  21. PEREIRA, J. A. G.. Solidariedade a Lúcio Flávio. São Paulo: Revista Página 22/FGV, março de 2012.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]