Mestre Juca

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Mestre Juca

José Raimundo Pereira, conhecido como Mestre Juca (Ouro Preto, 1923 - Ouro Preto, 28 de março de 2006) foi um pedreiro e canteiro-mor brasileiro.

É considerado o último mestre da cantaria de Ouro Preto.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Ouro Preto, em 1923. Viveu quase a vida inteiro no bairro São Sebastião, sendo o segundo de uma família de cinco filhos. Seu pai era apanhador de tropas e sua mãe dona de casa. [1] Começou a trabalhar aos 11 anos, em uma fábrica de chá preto, próxima a Cachoeira das Andorinhas.[2] Depois trabalhou na Serra da Brigida, retirando o pó roxo-rei para fabricação de tintas.[1]

Foi casado com Ilda Pereira. Carlos Alberto Pereira é seu filho, formado em Engenharia de Minas, e professor da Escola de Minas, da Universidade Federal de Ouro Preto.[3] Faleceu em 28 de março de 2006.[4]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Pelas adversidades da vida, estudou até o terceiro ano do ensino primário. Em 1939 foi contratado para trabalhar nas reformas da antiga Casa da Câmara e Cadeia de Ouro Preto, como servente de pedreiro. Naquela época Ouro Preto estava recebendo muitos turistas, e o prédio histórico tornar-se-ia o Museu da Inconfidência.[2]

Esse trabalho foi importante para torna-lo um mestre canteiro brasileiro, já que a reforma contou com canteiros espanhóis e portugueses, devido a inexistência de oficiais da cantaria no Brasil. A obra foi finalizada em 1942. Depois disso Juca trabalhou no Parque Metalúrgico de Ouro Preto, até a sua aposentadoria.[1]

Em 1975, aos 42 anos, foi convidado a trabalhar na Universidade Federal de Ouro Preto, exercendo diversas funções. Em 1980 foi transferido para o SPHAN, oculpando o cargo de mestre de obras.[1] Sempre transmitiu os conhecimentos da cantaria, que aprendeu de forma autoditada. Em 1997 foi convidado para ensinar seus saberes na Fundação de Arte de Ouro Preto.[2]

Obras cantaria[editar | editar código-fonte]

Em 1980 começou a trabalhar unicamente com a cantaria. Acredita-se que desde fins do século XIX não existiam artesões canteiros em Ouro Preto. A habilidade de lavras pedras reapareceu a partir dos saberes e estudos de Mestre Juca. Muitos consideram o quadro espacial da cidade de Ouro Preto como depositário da memória da técnica da cantaria, o que poderia, dentre outros fatores, ter permitido ao Mestre Juca reinventar o ofício, dada sua larga experiência com os monumentos urbanos preservados desde o século XVIII.[1]

A cruz da ponte do Pilar foi a sua primeira obra de restauração, tendo utilizado quartizito do Itacolomy. Em 1982 restaurou o chafariz da Casa do Pilar, que havia sido desmontado por moradores em busca de ouro no local. Em 1983 e 1991 restaurou as janelas da Igreja São Francisco de Paula e do Museu da Inconfidência.[3]

Em 1995 restaurou o chafariz e um frade da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, em Cachoeira do Campo, Ouro Preto. Entre 1996 e 1999 trabalhou em restauros para o Museu do Oratório e para o Museu da Inconfidência, novamente.[3]

Entre 2001 e 2005 restaurou e construi cruzes para o Chafariz do Rosário, para o cemitério da Igreja São Francisco de Assis, para a Praça Amadeu Barbosa e para o adro da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Lavras Novas, Ouro Preto.[5] Em 2003 construiu um lavabo para a Igreja de Nossa Senhora das Mercês e restaurou o relogio presente na Igreja de Santa Efigênia.[3]

Projeto Cantaria[editar | editar código-fonte]

Em 2000 inicou um projeto conjuntamente a Universidade Federal de Ouro Preto, tendo construido um suporto de cantaria para o logotipo do Centro de Convenções da universidade. Seu projeto com a UFOP buscou ensinar as artes da cantaria, tendo formado onze oficiais canteiros.[3]

Seu projeto recebeu uma Moção de Aplauso pela Câmara Municipal de Ouro Preto, em 2008, a Medalha do Aleijadinho, em 2010, e o Trofeu Comunidade da Fundação Cultural de Minas Gerais, em 2011.[3]

Honrarias[editar | editar código-fonte]

Em 2002 recebeu a Ordem de Mérito Cultural, pelas mãos do Presidente da República, Itamar Franco.[2] Em 2006 recebeu a Medalha João Velloso, homenagem maior da Câmara Municipal de Ouro Preto,[4] havia recebido anteriormente, em 2003, a Medalha Bernardo Pereira de Vasconcellos.[3]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e Rodrigues, Deise Simões (2006). Memória da arte: Mestre Juca e a reinvenção da cantaria (PDF). Mariana: Universidade Federal de Ouro Preto, Monografia de Bacharelado 
  2. a b c d «MESTRE JUCA :: 20 anos Cantaria». 20-anos-cantaria.webnode.page. 2 de dezembro de 2020. Consultado em 13 de maio de 2024 
  3. a b c d e f g Mota, Fernanda Amaral; Nogueira, Francielle Câmara; Pereira, Carlos Alberto (30 de setembro de 2016). «O MESTRE CANTEIRO JUCA: CAMINHOS DE UMA PESQUISA E EXTENSÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO». Além dos Muros da Universidade (1): 60–72. ISSN 2675-3693. Consultado em 13 de maio de 2024 
  4. a b «Última homenagem a Mestre Juca - Câmara Municipal de Ouro Preto». 19 de abril de 2006. Consultado em 13 de maio de 2024 
  5. Pereira, Carlos Alberto; Liccardo, Antonio; Da Silva, Fabiano Gomes (2007). A Arte da Cantaria (PDF). Belo Horizonte: C Arte. ISBN 978-85-7654-046-5