Noções Básicas de Psicanálise

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An elementary textbook of psychoanalysis
Noções Básicas de Psicanálise (BR)
Noções Básicas de Psicanálise
Autor(es) Charles Brenner
Idioma inglês (original)
País Estados Unidos
Assunto Psicanálise
Gênero Não-ficção
Lançamento 1955
Páginas 219
Edição brasileira
Tradução Ana Mazur Spira
Arte de capa Paulo de Oliveira
Editora Imago Editora
Lançamento 1975
Páginas 260

Noções Básicas de Psicanálise: Introdução à Psicologia Psicanalítica[1] é um livro do psiquiatra norte-americano Charles Brenner. Lançado em meados do século XX sob o nome An Elementary Textbook of Psychoanalysis, é considerado uma das melhores introduções à psicanálise e é o livro indicado para os estudantes ao iniciarem o curso de formação na área.[2]

É um livro feito tanto para quem é formado em medicina ou psicologia quanto para os leitores em geral. Nele, é feito um apanhado geral da teoria psicanalítica sem desvios para teorias mais específicas ou preferências pessoais do autor.[3] Todavia, uma leitura atenta e concentrada é imprescindível.

Estrutura[editar | editar código-fonte]

As seções a seguir contém amostras do que está contido em cada um dos capítulos. Elas explicam brevemente o seu conteúdo, mas não dispensam a sua leitura.

Capítulo 1: Duas hipóteses fundamentais[editar | editar código-fonte]

(pp. 17-30)

São apresentadas as duas hipóteses fundamentais da psicanálise, a saber:

  1. O determinismo psíquico — segundo este postulado do próprio Freud, nenhum evento psíquico é aleatório ou acontece sem precedentes. Pelo contrário, não existe descontinuidade na vida mental, e mesmo eventos que parecem não ter causalidade na história de vida de um indivíduo, assim o são apenas na aparência, ou seja, possuem raízes inconscientes. Por exemplo, uma crise de ansiedade pode estar diretamente ligada a um abuso sofrido pelo indivíduo na primeira infância[4]. Na vida cotidiana, esquecer-se de algo ou mesmo sonhar são exemplos de eventos que apenas parecem não acontecer por uma razão, embora uma análise psicanalítica possa revelar relações coerentes e significativas da vida psíquica do indivíduo que vivencia tais situações.
  2. Os processos psíquicos são, antes de tudo, inconscientes. A consciência é um atributo, uma propriedade excepcional desses processos, que pode emergir ou não em determinado momento da vida psíquica do indivíduo. Ambas as hipóteses mencionadas estão intimamente ligadas, de forma que dificilmente se poderia concebê-las em separado. A psicanálise é o método desenvolvido por Freud de acesso ao material inconsciente, que não pode ser observado diretamente, ainda nos dias de hoje, de nenhuma forma.

Capítulo 2: Os impulsos[editar | editar código-fonte]

(pp. 31-45)

Impulsos (ou pulsões — não confundir com instintos) são constituintes psíquicos geneticamente determinados (embora modelados em maior proporção pela experiência de vida) que produzem um estado de excitação psíquica ou de tensão. Segundo o princípio da homeostase, esse acumulo de energia é o que move o indivíduo a agir para gerar uma descarga de excitação ou gratificação, afim de restaurar-se o equilíbrio. Ao dirigir essa energia à representação mental (lembranças, pensamentos, fantasias) de uma pessoa ou coisa, ocorre o processo de catexia. É importante ressaltar que tais processos são puramente intrapsíquicos e sua explicação é didática — não existe, de maneira física e visível, essa energia dentro dos seres humanos.

Os impulsos sexuais e agressivos[editar | editar código-fonte]

Inicialmente conceituados como pulsões sexuais e de autopreservação, ou de vida e de morte, as pulsões sexuais e pulsões agressivas são as duas classificações conhecidas dos impulsos, assim denominadas por se alinharem de maneira mais satisfatória com a teoria psicanalítica. São concebidas de maneira intrínseca, de forma que toda e qualquer ação do indivíduo possua, em algum nível, a ação desses dois impulsos.

A pulsão sexual dá origem ao componente erótico dos processos psíquicos humanos, que é alimentada por uma energia psíquica denominada de libido, e acompanha os seres humanos desde o seu nascimento, estando intimamente ligada às fases do desenvolvimento psicossexual. Nesse ponto, é essencial perceber a questão do sexual para a psicanálise é tida como uma força vital, como uma categoria que engloba o sexo, mas não se restringe a ele, sendo uma melhor definição, em termos gerais, a noção de prazer como delineadora desse campo[5]. A catexia da libido durante as fases do desenvolvimento psicossexual gera, invariavelmente em cada uma das etapas, uma maior fixação em determinados objetos (o seio, as fezes, o pênis) que decaem com o tempo, mas não cessam completamente, de forma que em situações desfavoráveis ou de insatisfação em relação a novos prazeres é possível que aconteça um processo de "refluxo" do processo libidinal, denominado de regressão. Tais conceitos, apesar de aparentemente patológicos, não os são, necessariamente.

A pulsão agressiva dá origem ao componente puramente destrutivo dos processos psíquicos humanos, que é alimentada por uma energia psíquica não denominada formalmente, mas que, por vezes, aparece como "agressividade" (embora esse termo seja tão limitador quanto a questão sexual discutida anteriormente). Outras vezes, a própria libido é apresentada como energia para as duas pulsões. o impulso agressivo também possui as características de fixação e regressão, bem como também está inserido nas fases do desenvolvimento psicossexual humano (O bebê morder do seio da mãe, por exemplo). A ligação da pulsão agressiva com o prazer ainda parece incerta, tendo autores que a apoiam[6] e outros não, como o próprio Freud[7].

Capítulo 3: O aparelho psíquico[editar | editar código-fonte]

(pp. 47-70)

São apresentados os três modelos da mente propostos por Freud ao longo de sua carreira, que, apesar de divididos em estruturas, devem ser entendidos por uma perspectiva funcional, pois são dinâmicos em sua essência:

  1. Hipótese topográfica — A segunda teoria de Freud divide o aparelho psíquico a partir do seu conteúdo, dividido em consciente (Cs), pré-consciente (Pcs) e inconsciente (Ics). O Pcs se distingue do Ics apenas na facilidade com que esse conteúdo tem de emergir à consciência: no caso do Pcs, pode facilmente ser lembrado com algum esforço e atenção, já no caso do Ics, existe uma força no interior da própria mente que barra o seu acesso. Por uma proximidade funcional, foi criado o sistema Cs-Pcs em contraposição ao sistema Ics, também chamado de Psicologia Profunda.
  2. Hipótese estrutural — Complementar à hipótese topográfica, com a adição de três novas "estruturas" funcionalmente relacionadas: o Id (isso), o Ego (eu) e o Superego (supereu). Em uma perspectiva do desenvolvimento, o recém nascido nasce indiferenciado e ambas as estruturas são geradas simultaneamente ao longo do tempo, com predominância do Id nesse primeiro momento, sendo considerado como o "pai" dos outros dois[8].

Para obtermos uma orientação inicial, elementar, a respeito dessa terceira e última teoria de Freud, podemos dizer que o id compreende as representações psíquicas dos impulsos, o ego consiste naquelas funções ligadas as relações do indivíduo com seu ambiente, e o superego abrange os preceitos morais de nossas mentes, bem como nossas aspirações ideais. (p.51)

O ego se diferencia do id ainda na tenra infância, a partir das relações do bebê com o mundo, da delimitação entre o eu e o outro, do processo de identificação, da postergação da ação diante do impulso que até então demandava saciação completa e imediata. É esse retardamento da descarga de tensão que posteriormente irá também formar o complexo fenômeno do pensamento[9]. São funções do ego o controle motor, a percepção, a memória, o sentimento e o pensamento. Outro processo de diferenciação entre ego e id se dá na gradual diferenciação entre os chamados processos primários (característicos do id junto a um ego imaturo) e secundários (característicos do ego maduro e diferenciado), como visto na tabela a seguir:

Relacionado à catexia Processos primários Processos secundários Exemplo
Quanto ao deslocamento Facilmente deslocável Dificilmente deslocável Na ausência do seio ou da chupeta, o bebê satisfaz-se com o próprio dedo.
Quanto à descarga Requer descarga imediata Possui a capacidade de retardar a descarga Quando o bebê quer algo, ele chora até ser atendido.

Capítulo 4: O aparelho psíquico (continuação)[editar | editar código-fonte]

É apresentada uma nova teoria da ansiedade.

Capítulo 5: O aparelho psíquico (conclusão)[editar | editar código-fonte]

Capítulo 6: As parapraxias e o chiste[editar | editar código-fonte]

Capítulo 7: Os Sonhos[editar | editar código-fonte]

Capítulo 8: Psicopatologia[editar | editar código-fonte]

Capítulo 9: O conflito psíquico e o funcionamento mental normal[editar | editar código-fonte]

Capítulo 10: A psicanálise hoje[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Brenner, Charles (1969). Noções básicas de psicanálise: introdução à psicologia psicanalítica. [S.l.]: Imago 
  2. Eric Berne, A Layman's Guide to Psychiatry and Psychoanalysis (Middlesex 1976) p. 297.
  3. Clínica, Redação Psicanálise (11 de abril de 2020). «Noções básicas de Psicanálise: começando do zero». Psicanálise Clínica. Consultado em 13 de janeiro de 2023 
  4. Kirch, Juliana Pocaterra; Correa, João Jorge (2015). «As Contribuições da Psicanálise para a Compreensão do Psiquismo Infantil». Revista Pleiade (17): 34–40. ISSN 2674-8231. Consultado em 19 de janeiro de 2023 
  5. Freud, Sigmund (13 de agosto de 2013). «As resistências à Psicanálise (1925 [1924])». O ego e o ID e outros trabalhos (1923-1925). Col: Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. [S.l.]: Imago 
  6. Hartmann, H.; Kris, E.; Loewenstein, R. M. (1951). «[Notes on the theory of aggression]». Revista De Psicoanalisis (3): 402–429. ISSN 0034-8740. PMID 14930427. Consultado em 26 de maio de 2024 
  7. Freud, Sigmund (13 de agosto de 2013). Além do princípio do prazer, psicologia de grupo e outros trabalhos (1925-1926). [S.l.]: Imago 
  8. Hartmann, Heinz; Kris, Ernst; Loewenstein, Rudolph M. (janeiro de 1946). «Comments on the Formation of Psychic Structure». The Psychoanalytic Study of the Child (em inglês) (1): 11–38. ISSN 0079-7308. doi:10.1080/00797308.1946.11823535. Consultado em 27 de maio de 2024 
  9. Organization and Pathology of Thought: Selected Sources. Trans. & Commentary by David Rapaport (em inglês). [S.l.]: Columbia University Press. 1959