Saltar para o conteúdo

Onychocerus albitarsis

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaBesouro-escorpião
Onychocerus albitarsis
Fotografia de um espécime de O. albitarsis, por Antonio L. Sforcin Amaral.
Fotografia de um espécime de O. albitarsis, por Antonio L. Sforcin Amaral.
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Coleoptera
Subordem: Polyphaga
Família: Cerambycidae
Subfamília: Lamiinae[1][2]
Tribo: Anisocerini[1][2]
Género: Onychocerus
Espécie: O. albitarsis
Nome binomial
Onychocerus albitarsis
Pascoe, 1859[3]

O Onychocerus albitarsis é um inseto neotropical da ordem Coleoptera e da família Cerambycidae, subfamília Lamiinae; um besouro cujo habitat são as florestas tropicais e subtropicais úmidas da América do Sul; da bacia do rio Amazonas e Mata Atlântica do Brasil até o sul do Peru, a Bolívia e o Paraguai. No Brasil há registros para os estados do Amazonas, Maranhão, Ceará, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Esta espécie, com sua descrição feita em 1859 pelo entomologista Francis Polkinghorne Pascoe no texto "On New Genera and Species of Longicorn Coleoptera. Part IV" e publicada na página 31 do Transactions of the Entomological Society of London, é o único besouro conhecido que tem suas antenas equipadas com inoculadores de toxinas e que podem injetar tais compostos químicos quando sob predação ou quando se sentem ameaçados.[1][3][4][5][6] Isto não ocorre com nenhum outro inseto pertencente à ordem Coleoptera, embora outros besouros do gênero Onychocerus possuam estruturas pontiagudas na extremidade de suas antenas,[1][7][8] o termo Onychocerus significando "antenas com garras".[9] Embora não se saiba qual a planta-alimento de suas larvas, está citado que outras espécies do gênero Onychocerus se alimentam de plantas das famílias Anacardiaceae e Euphorbiaceae, que incluem entre os seus integrantes espécies dotadas de toxicidade que poderiam estar inseridas no seu processo de produção de peçonha.[1]

Descrição, características e denominação[editar | editar código-fonte]

O besouro Onychocerus albitarsis apresenta élitros pulverulentos, de brancacentos a castanhos, com manchas em negro sobre sua superfície rugosa. São dotados de longas antenas, características da família.[10] Quem primeiro reportou uma picada por antenas foi H. H. Smith, em 1884, no texto "Antennae of a beetle used as defensive weapons", publicado na The American Naturalist, afirmando:

"Agarrando-o (o besouro) com o dedo indicador e o polegar, eu estava prestes a transferi-lo para o frasco de coleta, quando, para minha surpresa, me infligiu uma mordida ou picada, o que me fez cair com calma. Ao defender-se assim, o inseto usou suas antenas espalhando-as e depois jogando-as para trás e para cima com um forte puxão".[11]

Porém, até o momento era desconhecida a produção e inoculação de toxinas pelo inseto, associando-se a dor e reação alérgica à perfuração causada pela extremidade da antena. Em 2008, um texto, "Convergent evolution in the antennae of a cerambycid beetle, Onychocerus albitarsis, and the sting of a scorpion", dos autores Amy Berkov, Nelson Rodríguez e Pedro Centeno, publicado na The Science of Nature, revelou que este último autor sofreu uma inflamação semelhante à de uma picada de abelha através da inoculação de toxinas pela antena de um Cerambycidae desta espécie.[11][12] O estudo do espécime revelou que o besouro possui uma expansão semelhante à da cauda de um escorpião na base de seu segmento terminal de antena, com dois poros abertos em canais estreitos que conduzem à sua ponta afiada; o que pode ser relatado como um caso de convergência evolutiva com o metassoma do citado aracnídeo.[11][13] Por tal característica não usual, a partir de então o táxon recebeu a nomenclatura vernácula, em português, de besouro-escorpião.[9][10]

Registro de acidentes[editar | editar código-fonte]

Além do artigo reportando o caso de um acidente causado pelo Onychocerus albitarsis em um pesquisador no Peru, em 2008, descrevendo um quadro de inflamação cutânea semelhante à picada de uma abelha, sem evolução para quadros mais graves;[11] outros dois relatos foram publicados por Antonio L. Sforcin Amaral et al. em um artigo de 2018 no Journal of Clinical Toxicology, "Envenomations in Humans Caused by the Venomous Beetle Onychocerus albitarsis: Observation of Two Cases in São Paulo State, Brazil", dessa vez sobre acidentes ocorridos na região sudeste do Brasil. Este trabalho reporta o caso de um homem de 28 anos que foi picado após manusear um espécime do referido inseto; e o quadro se desenvolveu com dor aguda, inchaço e vermelhidão, com duração de cerca de uma hora. O segundo acidente aconteceu com uma mulher de 29 anos, que esbarrou em um espécime e, no seu caso, a reação alérgica durou uma semana; com dor, coceira e inchaço no local. Em ambos os casos o quadro não evoluiu para formas mais graves, limitando-se à reações cutâneas e locais.[8]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e BOUCHARD, Patrice (2014). The Book of Beetles. A Lifesize Guide to Six Hundred of Nature's Gems (em inglês). United Kingdom: Ivy Press. p. 537. 656 páginas. ISBN 978-1-78240-049-3 
  2. a b «longhorned beetle; Onychocerus albitarsis Pascoe, 1859» (em inglês). Invasive.Org. 1 páginas. Consultado em 12 de março de 2018 
  3. a b Le Tirant, Stéphane; Limoges, René (16 de dezembro de 2016). «First record of Onychocerus albitarsis Pascoe, 1859 (Coleoptera: Cerambycidae: Lamiinae: Anisocerini) from Paraguay» (em inglês). Dugesiana 23(2). (Universidad de Guadalajara). 1 páginas. Consultado em 12 de março de 2018 
  4. Amaral, Antonio Lucas Sforcin; Castilho, Antonio Leão; Rodrigues, Jefferson Luan Crispim; De Sá, Ana Luiza Borges; Haddad Jr, Vidal (30 de abril de 2019). «Registro de ocorrência do besouro-escorpião Onychocerus albitarsis Pascoe (Coleoptera: Cerambycidae) no estado de São Paulo, Brasil». EntomoBrasilis. 12 (1). pp. 27–30. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  5. «Onychocerus albitarsis» (em inglês). Cerambycidae Lamiinae. 1 páginas. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  6. Pascoe, Francis P. (1859). «Article: II. On New Genera and Species of Longicorn Coleoptera. Part IV» (em inglês). Transactions of The Royal Entomological Society of London. p. 31. Consultado em 2 de novembro de 2023 
  7. JENNER, Ronald; UNDHEIM, Eivind (2017). Venom. The Secrets of Nature's Deadliest Weapon (em inglês). Washington, DC: Smithsonian Institution - Google Books. p. 133. 208 páginas. ISBN 978-1-58834-454-0. Consultado em 13 de março de 2018 
  8. a b Amaral, ALS; Castilho, AL; Borges de Sá, AL; Haddad, V Jr. (2018). «Envenomations in Humans Caused by the Venomous Beetle Onychocerus albitarsis: Observation of Two Cases in São Paulo State, Brazil» (PDF) (em inglês). Journal of Clinical Toxicology. 08 (04). (Longdom Publishing SL). 1 páginas. Consultado em 26 de agosto de 2020 
  9. a b «Peçonhento e raro: conheça o besouro-escorpião». Terra da Gente (g1). 15 de fevereiro de 2021. 1 páginas. Consultado em 3 de novembro de 2023. O nome popular do besouro-escorpião (Onychocerus albitarsis) traz indícios sobre a estrutura do animal, que integra uma família popularmente conhecida como besouros-serra-pau. “Dentro dessa família há um grupo pertencente ao gênero Onychocerus, cuja principal característica é usar as antenas para se defender. O próprio nome do gênero, em grego, significa antenas com garras”, explica o naturalista Bruno Uehara. 
  10. a b Campis, Marcos Cesar (15 de novembro de 2013). «RARO Besouro Escorpião - Onychocerus albitarsis (ou albitarsus; Cerambycidae: Lamiinae: Anisocerini. Flickr. 1 páginas. Consultado em 12 de março de 2018 
  11. a b c d Berkov, Amy; Rodríguez, Nelson; Centeno, Pedro (abril de 2008). «Convergent evolution in the antennae of a cerambycid beetle, Onychocerus albitarsis, and the sting of a scorpion» (em inglês). The Science of Nature 95(3). (Universidad de Guadalajara). pp. 257–261. Consultado em 12 de março de 2018 
  12. "An adult specimen of the rarely collected cerambycid beetle Onychocerus albitarsis (Pascoe) used its antennae in the manner described by Smith (1884) to sting P. C." (Berkov, Amy; Rodríguez, Nelson; Centeno, Pedro; Op. cit.)
  13. Perez, Christian Alessandro (12 de setembro de 2017). «Stinging antenna of Onychocerus sp. (Cerambycidae (em inglês). Flickr. 1 páginas. Consultado em 12 de março de 2018 
Ícone de esboço Este artigo sobre coleópteros é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Onychocerus albitarsis