Invasão da embaixada do México em Quito

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Invasão da embaixada do México em Quito

Momento em que a polícia de Quito entra à força na embaixada.
Data 5 de abril de 2024
Local Embaixada do México em Quito, Equador
Desfecho Sequestro de Jorge Glas

A invasão à embaixada do México no Equador, em 5 de abril de 2024, foi um assalto à embaixada do México em Quito (Equador) realizada por forças policiais e militares equatorianas em violação à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.

O ataque ocorreu após uma série de tensões entre os dois países, para sequestrar o ex-vice-presidente da República do Equador, Jorge Glas, que estava condenado por casos de corrupção e que permanecia na embaixada desde 17 de dezembro de 2023,[1] onde ele havia recebido asilo político algumas horas antes.[2]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em dezembro de 2023, o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, que atuou como vice-presidente dos presidentes Rafael Correa e Lenín Moreno, entrou na embaixada mexicana em Quito e solicitou asilo. Glas aguardava asilo após alegar perseguição política.[3] O ex-vice-presidente havia sido condenado, em dezembro de 2017, a oito anos de prisão por duas penas: uma de seis anos pelo crime de associação ilícita e outra de oito pelo crime de suborno.[4]

Em 3 de abril de 2024, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, aludiu em entrevista coletiva ao fato de que a ex-candidata presidencial aliada de Correa, Luisa González, teve vantagem nas eleições gerais no Equador em 2023, mas após o assassinato de Fernando Villavicencio foi injustamente ligado ao assassinato de Villavicencio e sua pontuação caiu, inferindo-se que ocorreu fraude.

Após os comentários do presidente mexicano, no dia 4 de abril, a embaixadora do México foi declarada "persona non grata" e a Chancelaria do Equador invocou o princípio da "não intervenção" nos assuntos internos de outro país e o artigo 9 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas para solicitar a saída da embaixadora, Raquel Serur Smeke, do país.[4][5][6] O governo mexicano decidiu conceder asilo político a Glas após a expulsão de sua embaixadora.[2] Por sua vez, o presidente equatoriano Daniel Noboa reiterou que não emitiria o salvo-conduto necessário para que Glas deixasse o país.[7]

Em 5 de abril, a Ministra das Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, havia pedido ao Governo do Equador que providenciasse uma passagem segura o mais rápido possível para que Glas pudesse deixar o país que lhe concedeu asilo.[8]

Operação[editar | editar código-fonte]

Por volta das 22h do dia 5 de abril de 2024, um grupo de elite da Polícia Nacional e das Forças Armadas do Equador invadiu a sede diplomática do México. Jorge Glas foi sequestrado, colocado numa viatura e levado por agentes da Polícia Nacional. O chefe da delegação diplomática, Roberto Canseco, tentou impedir a captura, sem sucesso.[1][4][9]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Após a notícia se espalhar, no mesmo dia, o presidente do México anunciou através de sua conta no Twitter o rompimento de todas as relações diplomáticas com o Equador. Além disso, o México apelará ao Tribunal Internacional de Justiça para denunciar o Equador por violações do Direito Internacional.[10]

Reações[editar | editar código-fonte]

Os candidatos às eleições presidenciais mexicanas de 2024 denunciaram a invasão equatoriana da embaixada.[11] O presidente Daniel Noboa afirmou que o governo tomará precauções para reprimir possíveis protestos em Carondelet.[12]

Internacionais[editar | editar código-fonte]

  •  Argentina: Através de um comunicado de imprensa da sua Chancelaria, a República Argentina juntou-se à condenação da invasão da Embaixada do México no Equador, apelando à plena observância da Convenção de 1954 sobre Asilo Diplomático e da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.[13]
  •  Brasil: O Itamaraty divulgou nota condenando "nos mais firmes termos" a invasão, ressaltando que a mesma constitui clara violação à Convenção Americana sobre Asilo Diplomático e à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas que, em seu artigo 22, dispõe que os locais de uma Missão diplomática são invioláveis. O Itamaraty afirmou ainda que "a medida levada a cabo pelo governo equatoriano constitui grave precedente, cabendo ser objeto de enérgico repúdio, qualquer que seja a justificativa para sua realização".[14]
  •  Colômbia: O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou que solicitará medidas cautelares em favor de Glas à Corte Interamericana de Direitos Humanos, além de convocar uma reunião de urgência da Organização dos Estados Americanos com o objetivo de examinar a violação da convenção de Viena por parte do Equador.[15]
  •  Cuba: O ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, condenou a entrada forçada da polícia equatoriana na Embaixada do México para prender Jorge Glas.[16]
  • Honduras: A presidente de Honduras, Xiomara Castro, descreveu o ataque como um ato intolerável para a comunidade internacional, "dado que ignora o histórico e fundamental direito ao asilo".[11]
  • Uruguai: O Ministério das Relações Exteriores emitiu um comunicado lamentando e instando ao cumprimento da Convenção de Caracas, destacando que o asilo diplomático não deve ser concedido em casos de crimes comuns. Além disso, expressou a esperança de que o México e o Equador possam resolver em breve as suas diferenças e restabelecer as suas relações diplomáticas.[17]
  •  Venezuela: O chanceler, Yván Gil, expressou sua rejeição, descrevendo Jorge Glas como perseguido político e alertando sobre o possível surgimento de uma época de "terror" para o Equador, alegando que uma ideologia extrema de neofascismo estaria se manifestando.[18]

Supranacionais[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Policía saca a Jorge Glas de la Embajada de México en Quito» (em espanhol). El Universo. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  2. a b «México concede asilo político a exvicepresidente ecuatoriano» (em espanhol). Deutsche Welle. 5 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  3. Mella, Carolina (1 de março de 2024). «La Cancillería de Ecuador pide entrar en la Embajada de México para capturar al ex vicepresidente Jorge Glas» (em espanhol). El País América. Consultado em 6 de abril de 2024 
  4. a b c «México - Ecuador: quién es Jorge Glas, el exvicepresidente n el centro de la ruptura diplomática de México con su país» (em espanhol). BBC News Mundo. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  5. «Esto fue lo que dijo el presidente López Obrador que molestó a Daniel Noboa» (em espanhol). Primicias. Consultado em 6 de abril de 2024 
  6. Staff, Forbes (4 de abril de 2024). «Ecuador declara persona 'non grata' a embajadora de México tras declaración de AMLO» (em espanhol). Forbes México. Consultado em 6 de abril de 2024 
  7. «AMLO: México suspende relaciones diplomáticas con Ecuador tras ingreso a embajada en Quito» (em espanhol). El Universo. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  8. «México rompe relaciones diplomáticas con Ecuador, tras irrupción policial en Embajada México rompe relaciones diplomáticas con Ecuador» (em espanhol). Primicias. Consultado em 6 de abril de 2024 
  9. «Jorge Glas es capturado por la Policía dentro de la Embajada de México, en Quito». La Hora. Ecuador. 5 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  10. «México rompe relaciones con Ecuador tras irrupción policial en Embajada mexicana en Quito» (em espanhol). Xinhua Español. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  11. a b Haczek, Ángela Reyes (6 de abril de 2024). «México rompe relaciones con Ecuador tras ingreso de la Policía a su embajada para detener a Glas, en vivo» (em espanhol). CNN. Consultado em 6 de abril de 2024 
  12. @LaDataEc (6 de abril de 2024). «El Gobierno toma precauciones para prevenir posibles ataques en Carondelet» (Tweet) – via Twitter 
  13. «Comunicado de Prensa: Situación en Ecuador». Cancillería Argentina. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  14. «Ingresso de forças policiais equatorianas na Embaixada do México em Quito». Ministério das Relações Exteriores. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  15. «Colombia pedirá a la CIDH «medidas cautelares» a favor del exvicepresidente Glas». La Hora. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  16. «El día en que Cuba violó la embajada de Ecuador en La Habana» (em espanhol). Primicias. Consultado em 6 de abril de 2024 
  17. «Sobre la situación en Ecuador». Ministerio de Relaciones Exteriores (em espanhol). Consultado em 6 de abril de 2024 
  18. «Venezuela rechaza "ilegal" allanamiento de Ecuador a embajada de México en Quito» (em espanhol). Diario Digital Nuestro País. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024 
  19. «OEA aprova resolução condenando invasão de embaixada do México pelo Equador». G1. 10 de abril de 2024. Consultado em 10 de abril de 2024